Diante das manifestações de Junho e Julho passados, muitos comemoraram o fato de que o “gigante estava acordando” e que a população, nas ruas, iria mudar o cenário da política nacional, que continua clientelista, monopolizado por uma casta de políticos acima (e fora) da lei; e sem levar em consideração as verdadeiras demandas sociais por segurança, saúde, educação e justiça social. Na verdade, eu mesmo tive que conter minha euforia diante das multidões e forçar o cientista social dentro de mim a pensar, tal era o entusiasmo coletivo. De lá para cá vimos o movimento enfraquecer. De milhares, temos ainda, é verdade, algumas centenas nos protestos, mas não estamos mantendo o ritmo.
A meu ver, isto é um grande perigo. A desmobilização depois de Junho e Julho não representa somente a continuidade de uma sociedade injusta e pouco democrática, mas, muito pior, pode vir a representar uma vitória do desânimo coletivo, da sensação de que “nada muda e nem vai mudar”. Pode levar toda uma geração de jovens, que saiu às ruas pela primeira vez em suas vidas, a desacreditar na mobilização coletiva, na organização popular. Pode levar milhões ao individualismo que interessa aos políticos clientelistas, corruptos e que usam o que é público como se fosse bem privado. Aliás, tenho certeza de que esta “casta política” que exatamente tal desmobilização e que seu “gado” volte logo para os “currais da normalidade”.
Tenho cada vez menos dúvidas, inclusive, de que muitos dos propagadores de violência nas manifestações, que quebraram lojas, saquearam, depredaram e agrediram, eram pessoas infiltradas ou mesmo incentivadas por infiltrados a mando dos que temem a população mobilizada. Pense bem, não é difícil. Paga-se para meia dúzia de truculentos provocarem confusão, isto cria um “desbloqueio” que leva a violência dos mais exaltados e provoca a reação policial. A situação que se segue, de correria, destruição e feridos, afasta os cidadãos mais conscientes, que querem mudanças de fato, desmerecendo e desarticulando as manifestações. Esta é uma estratégia simples e eficaz, usada desde Roma, passando pela Alemanha pré nazista e chegando até hoje: infiltrar os violentos para criar o caos e a desmobilização. O resultado nós conhecemos, é a continuidade do poder ilegítimo e/ou mal conduzido.
Agora, o que vai acontecer? Tenho me feito esta pergunta a algum tempo, e a conclusão a que consigo chegar é a de que, ou enfrentamos o medo e a desarticulação provocadas, ou teremos que nos calar e conviver, por mais sabe-se lá por quanto tempo, com as velhas estruturas e vícios políticos brasileiros, deixando de lado a esperança da mudança ou pelo menos da construção da mudança.
É por este motivo que volto às ruas nesta quinta feira próxima, dia 12 de setembro de 2013, para a passeata e manifesto de entrega das vinte e cinco mil assinaturas da população contra o aumento auto concedido pelos vereadores de Piracicaba. Quero continuar a luta, a mobilização e o protesto contra a distância entre a vontade popular e o poder. O aumento aqui, é “legal”, está dentro das atribuições da Câmara e de seus vereadores concedê-lo. Mas é, como já argumentei várias vezes, imoral, até por ser rejeitado pela maioria da população. Mais ainda, o aumento aqui não é apenas uma questão local. Faz parte de uma grande insatisfação com os políticos e os partidos não só em Piracicaba, mas no Brasil todo. Da mesma forma que se questionou em Junho a construção das grandes obras para a Copa do Mundo em prejuízo de obras de maior interesse social, questiona-se aqui o aumento dos gastos da Câmara com seus benefícios em detrimento das necessidades da população. Trata-se de cobrar a vontade popular daqueles que são eleitos para, em tese, cumprirem exatamente esta vontade e que, no entanto, são mais rápidos na garantia de seus benefícios do que na construção de uma política de aproximação real com os interesses da população. Trata-se de, a partir de uma causa local, buscar a construção de uma mudança nacional (e talvez até global) que institua a democracia plena e evite ações covardes, como a preservação, por voto secreto, do mandato do deputado federal Donadon, preso por corrupção. São sim, questões interligadas, uma vez que estão todas no cenário de velhas práticas que precisam mudar.
Se não sairmos, se ficarmos em casa, temendo os tumultos que tem sido antecipados (muito convenientemente, aliás) histericamente, estaremos cedendo à desmobilização, à sensação de que “nada vai mudar nunca”. Estaremos perdendo uma oportunidade de mudança, não só de nossa cidade, mas do país e, penso eu, da atitude de toda uma geração de jovens que vislumbrou pela primeira vez a força da mobilização popular.
E os vândalos? E os violentos? Bem, penso que alguns estarão lá sim. Mas se nós não formos, então eles serão a maioria e porão a manifestação a perder. O que podemos fazer?
Devemos ir. Sermos a maioria. E se violentos iniciarem tumultos, afaste-se deles. Isole-os e mesmo aponte-os para a polícia. Não interessa se alguns dos violentos forem cidadãos justamente indignados. Interessa o fato de que atitudes violentas beneficiam a desmobilização dão a vitória àqueles cujas práticas combatemos e, portanto, não podemos aceitá-las em nenhuma hipótese.
Venha, portanto, tenha coragem e lucidez para vir. Perceba tudo o que está em jogo, que é bem mais do que os aumentos dos vereadores aqui. Eu estarei lá e os convido. Aliás, quero fazer um convite especial aos vereadores Paiva e Chico Almeida, ambos do PT. Os senhores estiveram na grande manifestação de Junho em Piracicaba, que reuniu 20 mil pessoas. Venham novamente. Honrem o compromisso histórico do seu partido que nasceu lutando exatamente pela democracia plena. E depois, atendendo a vontade popular, votem pela revogação do aumento. Os senhores perderão alguma verba, é verdade, mas terão cumprido seu papel de políticos verdadeiros e criado uma oportunidade ímpar de criar um laço real com a população a que representam.
Espero vocês, todos, lá no Terminal Central de Integração, as 17:00 horas. E vamos juntos continuar a luta.
André Tietz
11 de setembro de 2013
Parabéns. Espero que todos compartilhem com seus amigos.
Amadeu Provenzano Filho
11 de setembro de 2013
Vai aqui o meu brado de: Bravo Amstalden ! porque representa o anseio por justiça em Piracicaba e o Brasil.
Antônio Cláudio Fischer
12 de setembro de 2013
Bom dia Amstalden. Sei que não podemos as vezes misturar as coisas, mas, não pude deixar de anexar aqui uma mensagem que recebi a pouco pela internet e que achei interessante repassar aqui no seu blog, afinal, ele é lido por um número expressivo de pessoas.
Quem é o trouxa nessa estória?
Há algum tempo atrás, quando resolveram fazer uma PPP’e – parceria público privada do esgoto, (que eu chamo de meia privatização), parece que ficou claro para a população tupiniquim, que a nova co-gestora, com investimento contratual de um bilhão, duzentos e setenta quatro milhões assumiria o ativo e o passivo dessa relação, em todas as ETE’s do sistema, inclusive a do Piracicamirim. Por isso, ao ver matérias rasgando as mídias impressas, virtuais e televisivas sobre o aporte de 20 milhões (1,5% do montante acima), que a prefeitura pretende fazer para corrigir o problema crônico de odor da ETE Piracicamirim, fico a perguntar se os trouxas não somos nós, pois desde a sua implantação, quando surgiu como projeto piloto, ela vem premiando a população do entorno com fétidos odores, numa frequência de curva de biorritmo (subindo e descendo). Outra coisa de dar pena foi ler e ouvir do prefeito: “É uma reivindicação antiga dos moradores do Jardim Brasília e outros bairros. O cheiro ruim da estação é um cartão de visitas negativo para a cidade”. Só pra lembrar, essa localização e construção foi feita num “erro estratégico” (aspas minha), no governo dos bicudos. Ainda, segundo os entendidos, essa oscilação no odor, acontece por descartes irregulares de empresas, lançados fora do horário comercial, quando o monitoramento é reduzido… ora, bolas, pipocas! Não seria mais fácil detectar e individualizar a obrigação de tratamento de efluentes por essas empresas antes do lançamento na rede? Portanto, quando eu falava lá atrás que isso era uma privatização disfarçada, sempre apareceram os contra críticos. E tanto isso é verdade, que o Semae, através do seu grande administrador, agora corre de chapéu na mão, para buscar suporte na prefeitura. Portanto, há que se questionar: – Onde foi parar a capacidade de investimento dessa autarquia/Ppp’e’? É tão estranha essa atitude, que tem até cheiro; cheiro de gás sulfídrico! Alguém tá lançando alguma coisa errada nesse esgoto.
Wilhe Gerdes