Coluna do Totó. UNÍSSONA RESPOSTA

Posted on 12 de outubro de 2014 por

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lojas cheias

Gosto de ver documentários sobre o comportamento dos animais. O último mostrava filhotes de leões.  Não paravam um minuto. Rolavam, lutavam, mordiam, corriam, caiam e brigavam. É desse modo que se preparam para a vida. A mãe sempre por perto; só suspende os cuidados quanto os sente capazes de cuidar de si.

Nada a ver com os humanos, ao menos nesses últimos tempos. Dizem que filho dá trabalho e custa caro. Melhor um só bem criado. Sinceramente eu não gostaria de ter sido filho único. Quem é pode ser que assim não pense, talvez por não ter ideia do como é necessário, bom e saudável ter irmãs e irmãos.

Depois da escola e de fazer a lição de casa nossa vida era na rua onde tudo acontecia por nossa conta e risco. Subir árvores, nadar, jogar bola, soltar pipa, rodar peão, brincar de mocinho, catar ferro-velho, brigar, apanhar e bater; resolvíamos nossas querelas entre nós mesmos já que se passassem o portão o couro comia.

Que curso de inglês, escolinha de futebol, de caratê, de natação que nada. Nosso negócio era na prática. Com isso, cresceu todo mundo respeitador de limites, feliz e trabalhador.  Brinquedos só no dia de Natal e olhe lá.  A gente criava brinquedos e inventava brincadeiras. “É do cultivo dado à infância, da sua direção nos primeiros anos que advirá a formação do caráter e da mentalidade da geração que nos há de suceder”. (Antonio Caetano de Campos – educador).

A sociedade de hoje fabrica mini-adultos; infância é perda de tempo. Acham moderno sacrificar a fase mais importante na vida dos filhos a fim de prepará-los para ter sucesso na vida. O brincar é controlado. Ficar na rua e interagir com iguais nem pensar; fuçar a terra pega doença; tirar sarro é bullying, se brigar na rua ou aprontar na escola a mãe ou o pai vai tirar satisfações; se todo mundo tem, o filho não pode ficar por baixo. Nunca ouvi falar em pediatra; as mães curavam a maioria das doenças. Hoje até para desafogar nenês elas chamam os bombeiros.

“Crianças gostam de fazer perguntas sobre tudo. Mas nem todas as respostas cabem num adulto”. (Arnaldo Antunes). Portanto, filhos de hoje mereceriam pais mais sábios, menos imaturos e materialistas, porque segundo Lia Luft “O Amor primeiro, aquele entre pais e filhos, vai determinar nossa expectativa de todos os amores que teremos. Para saber defender-se no terreno violento em que vivemos, é preciso ter uma sólida raiz de afetos”. Nem todos são vocacionados à paternidade. Tem gente gerando filho para completar o quadro familiar; mostrar fertilidade; preencher vazios, ter alguém que execute expectativas próprias e até por ter estourado a camisinha.

Crianças mais sábias, sensíveis e inteligentes estão chegando. Porém, um pérfido sistema de alienação e enquadramento está a sua espera na escola, família, igrejas, televisão, poder público, poder econômico, etc. a fim de torná-las obesas no corpo e na alma. Não conseguirão.

Dia das Crianças está aí. Genitores – não pais de verdade – fuçam lojas. Quanto mais débito com os  filhos melhores os presentes, principalmente a parafernália eletrônica disponível, restrita até pelos fabricantes aos próprios filhos. Criançada deita e rola numa espécie de vingança disfarçada. Nada disso é o que quer.

Posso concluir então que pais que no Dia da Criança se limitarão a dar presentes a seus filhos vão jogar dinheiro fora. Tanto é verdade que dirigida a alunos do Ensino Fundamental de uma escola de Piracicaba a pergunta: “O que você espera dos seus pais?”, através de textos e desenhos a resposta foi uníssona: carinho, amor, proteção, respeito, tempo, brincar juntos. Não foram poucos os que disseram para os pais darem menos coisas e mais atenção. Algumas responderam nada esperar a mais porque já tinham o que precisavam que eram justamente presença, interesse e respeito.

Antônio Carlos Danelon, o Totó, é assistente social. totodanelon@ig.com.br

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