
Foto Leio Feltran
Fonte: Veja São Paulo http://vejasp.abril.com.br/materia/presepios
Época de Natal é época de felicidade, no entanto é a época em que muita gente se sente profundamente infeliz. Existem muitos motivos para isso e a maioria tem a ver com as particularidades de cada um. No entanto existem alguns motivos coletivos e estes as ciências humanas conseguem identificar e classificar. E um destes motivos é o de que no Natal a maioria das pessoas se sente na obrigação de estar feliz. Parece contraditório, as pessoas ficam infelizes porque deveriam estar felizes. Mas na verdade é muito lógico. Se você, por motivos diversos, se sente triste ou desanimado ou, mais simplesmente, apenas não consegue entrar no ritmo de uma “alegria” coletiva, então é possível que se sinta “excluído” de uma situação social geral, ou aparentemente geral. É possível que você se sinta incapaz e angustiado porque está “perdendo” alguma coisa, perdendo a festa. Daí costuma piorar, porque o mais comum é que sinta, então, também a culpa por não estar contente e eufórico como aparentemente todos os outros estão.
Um segundo motivo (dentre muitos outros) pelo qual muitas pessoas ficam deprimidas no Natal é a questão familiar. Nesta época costuma ser “obrigatório” que você esteja com sua família. Mas o que acontece se por um motivo ou outro, sua família tem conflitos ou está em conflito? Falemos francamente, qual família não os tem? E quando tem, como suspender todos eles e se reunir “alegremente” com seus irmãos, pais, primos e demais familiares? Muitos tentam, mas só conseguem remoer surdamente suas mágoas e alimentar as tensões por detrás de um monte de luzes, presentes, comida e bebida. No entanto, por mais que isso “esconda” a tensão, a tristeza e às vezes a raiva estão lá e podem vir à tona com o excesso de álcool. Quantas vezes não vimos festas de Natal se transformarem em brigas familiares sérias? Daí alimenta-se o ciclo de mágoa e rancor, que vai se manter até o próximo Natal e, pior, junto com isso, lá no fundo, vem também a culpa por você não ter ou não “ser” a família perfeita.
Talvez você esteja achando este artigo muito estranho, muito fora de propósito. Num momento em que todos escrevem sobre como é maravilhosa esta época, aqui estou eu falando dos problemas dela. Bem, talvez você tenha razão. Talvez eu esteja fora de propósito, mas eu penso que não. Conheci tanta gente que ficava e fica deprimida nesta época que creio que este artigo é muito adequado.
Mas então, o que fazer? Ignorar o Natal e vivê-lo como um dia igual aos outros? Talvez funcione para alguns, mas eu tenho outras ideias a este respeito. Em primeiro lugar, penso que devemos nos livrar da culpa que vem da “obrigação”. Você pode ser feliz nesta época, mas não é obrigado a ser. Se está triste ou apenas alheio, pode e, penso eu, deve, respeitar sua própria sensação, seu próprio ritmo. Sentir-se mal porque deveria estar feliz é apenas um caminho curto para ficar pior. Se você estiver triste, busque claramente o motivo desta tristeza e o enfrente ou aceite. Alguns de seus problemas podem ser resolvidos, outros não. A vida é assim e parte dela é ação, a outra é aceitação. Penso que tal aceitação chama-se “humildade” diante da existência, da vida. Não é fácil, mas culpar-se porque está triste tem um resultado muito mais difícil.
O que eu disse acima serve para os conflitos familiares também. Se eles existem, não adianta negá-los. Busque realmente os motivos pelos quais eles estão lá e enfrente-os. Talvez o problema seja realmente por sua causa. Talvez seja você quem não está agindo de maneira ponderada ou equilibrada com alguém de sua família. Neste caso, voltamos a humildade que é necessária para abandonarmos os nossos pontos de vista errôneos e pedirmos perdão àqueles que machucamos. Bem, mas e se não sou eu o responsável? Se os problemas se devem a outros e estes não querem ou não podem mudar? Neste caso, aceite e se afaste. Se você tem certeza de que já fez o que podia, que já ofereceu a ajuda ou o perdão, mas mesmo assim a outra pessoa não quer ou não pode mudar, então aceite a situação como mais algo da vida que você não controla e vá viver o seu Natal em paz consigo mesmo. Não adianta forçar-se a uma situação de tensão se ela não depende de você. Melhor buscar a tranquilidade e a alegria junto a outros que queiram o mesmo ou ainda junto a você mesmo.
Seria melhor que tudo fosse diferente, claro. Seria melhor que tivéssemos toda nossa família e amigos a nossa volta, em paz e com alegria. Seria melhor que não tivéssemos problemas nesta época e em época nenhuma. Mas não é assim, daí a necessidade de sermos humildes diante da existência e, ao mesmo tempo, mantermos viva a esperança de que viveremos dias melhores. O Natal é uma festa cristã que tem, dentre outros significados, o sentido do nascimento da esperança, da libertação, da mudança na figura do Cristo. Mas o Cristo e esta promessa da mudança, nasceram num pequeno estábulo, rodeados de animais e pastores. Talvez uma das grandes mensagens do Natal seja a de que o Cristo e a esperança, a alegria e a mudança nascem da humildade. A mesma que temos que ter diante de nossa família, nossos problemas e nossa vida.
Eu lhe desejo um Feliz Natal. Sem mentiras e com muita esperança.
Anônimo
20 de dezembro de 2012
Feliz Natal. Espero ler muitos textos bons como esse em 2013.
Antonio Carlos Danelon
20 de dezembro de 2012
Eu também. Principalmente quando se acha que o Natal das massas é o certo. Se não consigo ficar comigo mesmo não estarei bem em lugar nenhum. Aliás, parece que o Natal vem se tornando uma reunião de gente que foge de si mesma. Texto acolhedor e humano, deixa todo mundo à vontade e de bem com as próprias imperfeições. Isso é paz. Isso é Natal.
blogdoamstalden
20 de dezembro de 2012
Esse foi um dos melhores elogios a um texto que já recebi. Obrigado Totó.
blogdoamstalden
20 de dezembro de 2012
Muito obrigado. Feliz Natal para você também e, quem sabe em 2013 você escreve um texto para o Blog… Abração.
Valéria Pisauro
22 de dezembro de 2012
Natal, dia de palavras bonitas soltas pelo ar e que se esquecem de guardá-las…
Abraços Amstalden!
heloisa angeli
23 de dezembro de 2012
Querido Amigo Fernando
Sua análise sobre essa época em questão não poderia estar melhor descrita! Parabéns pela clareza do discernimento em cada palavra, em cada frase.
Vivemos num mundo que, realmente nos obriga a sermos felizes sempre… isso é bem complicado frente às variáveis que permeiam nosso cotidiano…
Receba vc e sua Juliana nossos abraços carinhosos de muita paz e luz Naquele que vem para noa libertar das amarras.
Heloisa e Tadeu
Maria heloisa
Carla Betta
26 de dezembro de 2012
Destaco: “A vida é assim e parte dela é ação, a outra é aceitação.” “…aceite a situação como mais algo da vida que você não controla e vá viver o seu Natal em paz consigo mesmo.” “Talvez uma das grandes mensagens do Natal seja a de que o Cristo e a esperança, a alegria e a mudança nascem da humildade. A mesma que temos que ter diante de nossa família, nossos problemas e nossa vida.” Profundo, singelo, comovente, real! Gostei e me identifiquei com o texto, pois tenho uma famíla para lá (bem lááááá…) de complicada e fui aprendendo a ser feliz por mim mesma e ficar contente com aquilo que a VIDA me oferece com sua generosidade peculiar! Abraços! E desejos de uma caminhada feliz e produtiva (duas coisas que caminham de mãos dadas) para vc, sua esposa e todos que ama!
blogdoamstalden
26 de dezembro de 2012
Lindo comentário, Carla. Muito Obrigado. Um Feliz Ano Novo para você, seu pai e sua filha, que são os membros de sua família que conheço e também para aqueles que não conheço. Beijão