O Natal e a Alegria. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 20 de dezembro de 2012 por

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Foto Leio FeltranFonte: Veja São Paulo http://vejasp.abril.com.br/materia/presepios

Foto Leio Feltran
Fonte: Veja São Paulo http://vejasp.abril.com.br/materia/presepios

Época de Natal é época de felicidade, no entanto é a época em que muita gente se sente profundamente infeliz. Existem muitos motivos para isso e a maioria tem a ver com as particularidades de cada um. No entanto existem alguns motivos coletivos e estes as ciências humanas conseguem identificar e classificar. E um destes motivos é o de que no Natal a maioria das pessoas se sente na obrigação de estar feliz. Parece contraditório, as pessoas ficam infelizes porque deveriam estar felizes. Mas na verdade é muito lógico. Se você, por motivos diversos, se sente triste ou desanimado ou, mais simplesmente, apenas não consegue entrar no ritmo de uma “alegria” coletiva, então é possível que se sinta “excluído” de uma situação social geral, ou aparentemente geral. É possível que você se sinta incapaz e angustiado porque está “perdendo” alguma coisa, perdendo a festa. Daí costuma piorar, porque o mais comum é que sinta, então, também a culpa por não estar contente e eufórico como aparentemente todos os outros estão.

Um segundo motivo (dentre muitos outros) pelo qual muitas pessoas ficam deprimidas no Natal é a questão familiar. Nesta época costuma ser “obrigatório” que você esteja com sua família. Mas o que acontece se por um motivo ou outro, sua família tem conflitos ou está em conflito? Falemos francamente, qual família não os tem? E quando tem, como suspender todos eles e se reunir “alegremente” com seus irmãos, pais, primos e demais familiares? Muitos tentam, mas só conseguem remoer surdamente suas mágoas e alimentar as tensões por detrás de um monte de luzes, presentes, comida e bebida. No entanto, por mais que isso “esconda” a tensão, a tristeza e às vezes a raiva estão lá e podem vir à tona com o excesso de álcool. Quantas vezes não vimos festas de Natal se transformarem em brigas familiares sérias? Daí alimenta-se o ciclo de mágoa e rancor, que vai se manter até o próximo Natal e, pior, junto com isso, lá no fundo, vem também a culpa por você não ter ou  não “ser” a família perfeita.

Talvez você esteja achando este artigo muito estranho, muito fora de propósito. Num momento em que todos escrevem sobre como é maravilhosa esta época, aqui estou eu falando dos problemas dela. Bem, talvez você tenha razão. Talvez eu esteja fora de propósito, mas eu penso que não. Conheci tanta gente que ficava e fica deprimida nesta época que creio que este artigo é muito adequado.

Mas então, o que fazer? Ignorar o Natal e vivê-lo como um dia igual aos outros? Talvez funcione para alguns, mas eu tenho outras ideias a este respeito. Em primeiro lugar, penso que devemos nos livrar da culpa que vem da “obrigação”. Você pode ser feliz nesta época, mas não é obrigado a ser. Se está triste ou apenas alheio, pode e, penso eu, deve, respeitar sua própria sensação, seu próprio ritmo. Sentir-se mal porque deveria estar feliz é apenas um caminho curto para ficar pior. Se você estiver triste, busque claramente o motivo desta tristeza e o enfrente ou aceite. Alguns de seus problemas podem ser resolvidos, outros não. A vida é assim e parte dela é ação, a outra é aceitação. Penso que tal aceitação chama-se “humildade” diante da existência, da vida. Não é fácil, mas culpar-se porque está triste tem um resultado muito mais difícil.

O que eu disse acima serve para os conflitos familiares também. Se eles existem, não adianta negá-los. Busque realmente os motivos pelos quais eles estão lá e enfrente-os. Talvez o problema seja realmente por sua causa. Talvez seja você quem não está agindo de maneira ponderada ou equilibrada com alguém de sua família. Neste caso, voltamos a humildade que é necessária para abandonarmos os nossos pontos de vista errôneos e pedirmos perdão àqueles que machucamos. Bem, mas e se não sou eu o responsável? Se os problemas se devem a outros e estes não querem ou não podem mudar? Neste caso, aceite e se afaste. Se você tem certeza de que já fez o que podia, que já ofereceu a ajuda ou o perdão, mas mesmo assim a outra pessoa não quer ou não pode mudar, então aceite a situação como mais algo da vida que você não controla e vá viver o seu Natal em paz consigo mesmo. Não adianta forçar-se a uma situação de tensão se ela não depende de você. Melhor buscar a tranquilidade e a alegria junto a outros que queiram o mesmo ou ainda junto a você mesmo.

Seria melhor que tudo fosse diferente, claro. Seria melhor que tivéssemos toda nossa família e amigos a nossa volta, em paz e com alegria. Seria melhor que não tivéssemos problemas nesta época e em época nenhuma. Mas não é assim, daí a necessidade de sermos humildes diante da existência e, ao mesmo tempo, mantermos viva a esperança de que viveremos dias melhores. O Natal é uma festa cristã que tem, dentre outros significados, o sentido do nascimento da esperança, da libertação, da mudança na figura do Cristo. Mas o Cristo e esta promessa da mudança, nasceram num pequeno estábulo, rodeados de animais e pastores. Talvez uma das grandes mensagens do Natal seja a de que o Cristo e a esperança, a alegria e a mudança nascem da humildade. A mesma que temos que ter diante de  nossa família, nossos problemas e nossa vida.

Eu lhe desejo um Feliz Natal. Sem mentiras e com muita esperança.

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