O Natal no Brasil, em geral, é ridículo. Um arremedo de cenário de inverno do hemisfério norte, utilizando espuma de sabão ou o poluidor isopor ralado para simular neve, num calor de 35°C, com palhaços fétidos usando caneleiras por cima da calça para simular botas, vestindo roupas de cetim vermelho coladas no corpo devido ao suor e barbas brancas falsas, que ficam molhadas de saliva, repletas de bactérias. Barbas que tocarão os rostos de inocentes crianças que desejam seus beijos também falsos, imagino. Sinceramente me dá nojo, em todos os sentidos, essa imagem de “Papai Noel” representando o Natal.
Melhor seria enaltecer a figura de São Nicolau, bispo nascido na Turquia (ano 280 DC) que distribuía anonimamente pequenos saquinhos de moedas aos pobres. Foi ele a inspiração para a criação do personagem Noel. O dia de São Nicolau é 6 de dezembro, dia então em que seria mais correto trocar presentes.
A popularização da história de São Nicolau teve início na Alemanha, mas este passou a ser chamado de Santa Claus na América do Norte, personagem esse que, segundo a lenda, residiria no polo Norte. Da América do Norte sua história difundiu-se massivamente para o restante do mundo, e nisso a Coca-Cola tem sua participação.
Até o início do Século XX Santa Claus era representado vestindo uma roupa de inverno na cor marrom ou verde escuro. Em 1931, um anúncio de revista da Coca-Cola americana, ilustrado por Haddon Sundblom, mostrou pela primeira vez na “mídia” impressa um “Papai Noel” com o mesmo figurino criado por um cartunista alemão chamado Nast, em 1886, nas cores vermelho e branco, as mesmas cores utilizadas na marca desse famoso fabricante de refrigerantes.
Na segunda grande guerra as garrafas de Coca-Cola faziam parte dos produtos enviados aos soldados americanos nas trincheiras – entre cartas de baralho, cigarros e chicletes. Foram montadas envasadoras na Europa exclusivamente para esse fim. Ao terminar a guerra, essas envasadoras continuaram em operação para abrir mercado na Europa, assim como foram utilizadas as mesmas vias de distribuição criadas no período de guerra para levar Coca-Cola aos habitantes dos países europeus. Então, a popularização na Europa da imagem de Noel ou Santa Claus vestido de vermelho e branco, é resultado das propagandas natalinas da Coca-Cola, ou seja, o que se massificou hoje pelo mundo todo é originário de uma oportunidade comercial explorada por um fabricante de refrigerante numa época de guerra.
Oficialmente, para os cristãos, o Natal é o nascimento de Jesus Cristo, mas parece que o aniversariante ficou um pouco esquecido na sua própria festa. Vejamos onde está Jesus Cristo nesse cenário natalino: Deitado num estábulo, ainda sem conseguir andar, cercado por pessoas estáticas vestindo roupas escuras e por animais comuns e também estáticos, enquanto um velhinho “destemido e bondoso”, com as cores da Coca-Cola, com seu trenó puxado por renas mágicas voadoras, cruza os céus distribuindo presentes a todos!! Como as crianças não iriam admirar um velho assim? Por que prestariam atenção em outra criança ainda bebê, deitadinha, quieta, num “berço” que os adultos chamam pelo nome esquisito de manjedoura?
Mas, deixando Noel de lado, devemos reconhecer que há muitas controvérsias quanto à data de nascimento de Cristo, que teria acontecido provavelmente entre julho e outubro e entre os anos 7AC e 4AC. Há teorias dizendo que Jesus teria nascido 100 anos antes. Foi somente no século IV que o dia 25 de dezembro foi estabelecido como data oficial de comemoração. Na Roma Antiga, nesse dia, os romanos comemoravam o início do inverno. Alguns acreditam que existe uma relação deste fato com a oficialização da comemoração do Natal.
Existiam festas pagãs no mês de dezembro (ou solstício de inverno no hemisfério norte), há mais de 500 anos A.C, com troca de presentes inclusive. O nascimento de Mitra – um deus sol persa – era comemorado em dezembro muito antes de Jesus nascer, ou seja, já existia um “Natal de Mitra” em dezembro. Sugiro uma pesquisa por “Saturnália” no Google – outra festa deste mês, também existente antes de Jesus nascer. Enfim, Jesus não nasceu em dezembro e nem há 2012 anos atrás como oficializou-se. Devemos levar em conta que a civilização romana incorporava costumes dos povos que conquistava, então, uma igreja apostólica “romana” tem muito da cultura romana, que é resultado de incorporações de outras culturas e suas religiões.
É tudo uma grande confusão geral de datas, significados e protagonistas, mas podemos ter uma certeza: o comércio, entidades assistenciais, orfanatos, o entregador de jornal, o coletor de lixo, etc, estarão tentando tirar uma casquinha do Natal… Todo mundo estará tentando amolecer o nosso coração para que coloquemos a mão no bolso – tirando de lá uma certa quantia – e nos sintamos em paz com a nossa consciência, seja presenteando parentes, ajudando na festa de natal de um orfanato ou qualquer outra ação difícil de dizermos se feita por nossa própria vontade ou resultante da catarse na qual o Natal nos coloca.
Depois, durante o ano, são raros os que ainda mantém o espírito de Natal, mas algumas pessoas o possuem, sim, fora dessa época, e por simples consequência da personalidade e não porque o Natal despertou isso. Conheço várias.
Eu gostaria muito de desejar a todos um Feliz Natal, mas para isso seria necessário que todos entendessem o que realmente significa essa época. Para quem entende Natal como “época de se consumir e reunir pessoas”, pegar fila com o filho no Shopping para sentá-lo no colo de um velho vestido de vermelho, se espremer em lojas lotadas para comprar brinquedos para as crianças e roupas e sapatos novos para as festas de final de ano, eletrodomésticos e eletro-eletrônicos de última geração sem necessidade real, presentes desinteressantes para colegas de trabalho para serem trocados nas confraternizações entre “amigos secretos” e, por fim, comer e beber muito na companhia de familiares na noite de Natal, eu não tenho nada a desejar…. Apenas lamento, pois essas coisas ridículas que acabo de citar, impostas por uma economia baseada no consumismo capitalista, eu não as desejo a ninguém.
Desejo, sim, do fundo do meu coração, que todos encontrem, a seu modo – e sem compras, sem se entupir de álcool, refrigerantes e comida gordurosa – como ter um Natal feliz, e que tentem prolongar essa felicidade, esse sentimento, por todo o ano que se inicia! Desejo que, os que se dizem verdadeiros cristãos e ainda possuem filhos pequenos, criem coragem e contem a eles a verdade: Que esse tal de Papai Noel não existe e que o ator principal do “espetáculo Natal” é um tal Menino Jesus. Que digam aos filhos que eles ganham os presentes dos próprios pais, pela simples alegria de se comemorar o nascimento desse Menino Jesus e não porque ficaram “bonzinhos” o ano todo e um velhinho misterioso os recompensou (que maneira idiota de coagir as crianças, não acham? Que maneira equivocada e arcaica de educar, recompensando materialmente comportamentos “adequados” – olha o consumismo materialista regendo a educação dos filhos).
Ah, já sei, alguns de vocês não vão conseguir, estou certo?… Vão se justificar me acusando de radical, e dizer que adoram consumir, presentear, e que é cruel destruir o sonho ou a fantasia de uma criança. Então, para estes, digo que tudo bem, gastem seu dinheiro, se entupam de comida, se embebedem o quanto puderem nessas festas, mas, já que não têm vergonha na cara para contar-lhes que papai Noel não existe, pelo menos, digam às crianças que esse Sr. Noel não é pai de ninguém, e que ficou gordo assim de tanto beber Coca-Cola!! É um começo!
Um Feliz “Verdadeiro Natal” a todos.
André Gorga é Publicitário.
Ninfa Sampronha Barreiros
24 de dezembro de 2012
Excelente André Gorga. Muito bom, quem sabe alguém mais acedita que educar é um ato prazeroso,rs.
Anônimo
25 de dezembro de 2012
Muito legal, André! Voce tocou o ponto nevralgico da questão! Feliz natal para voce também e que 2013 seja um ano pleno de Luz!
André Gorga
26 de dezembro de 2012
Obrigado, Ninfa. Obrigado “Anônimo” (pena ter esquecido de assinar). O texto é um pouco amargo, mas porque não consigo deixar de expressar minha indignação com a onda consumista do Natal. Não me importaria que fosse apenas uma festa pagã, como o carnaval (onde as pessoas também se confraternizam, festejam, se divertem), e, aliás, no início, desde a Roma antiga, o Natal era assim mesmo, uma festa com muita bebedeira, baderna e durava dias. Me incomoda a hipocrisia do Natal… Falam em Cristo, espiritualidade, reflexão e, em vez de interiorizarem-se, saem de si, numa catarse consumista, com o agravante de deixarem esse costume de herança para as outras gerações ao enaltecerem a figura do velho Noel, um personagem sem história pregressa, ausente durante o ano todo, que “aparece” apenas em dezembro para alavancar as vendas.
Jane Pangardi
26 de dezembro de 2012
André, ando tão cansada para escrever que últimamente só tenho “matutado” como dizia meu pai, felizmente encontrei minha tribo através de ti., Tomara que muitos como nós tirem a importância desta data e distribua durante os outros 364 dias sem euforia nem ilusões.
Carla Betta
26 de dezembro de 2012
Querido André: toda fantasia é excelente para a criança; a fantasia somada à inteligência resulta em desenvolvimento do pensamento criativo, então, discordo veementemente de dizer às crianças que Papai Noel, bruxas, fadas, etc não existem. Não vou discorrer sobre este assunto, mas psicólogos poderão esclarecê-lo melhor. É nojento mesmo, indigno até que a festa mais cristã esteja contaminada pelo consumismo e esquecida de seus verdadeiros valores. Em criança, visitamos uma família de origem alemã que preservava a bonita história, recheada de virtudes de Santa Claus e isto chamou minha atenção por toda minha vida. Assim, sempre que posso (e durante 15 anos fui evangelizadora-espírita) retomo com jovens e crianças a história de Santa Claus e a história do nascimento de JESUS, esclarecendo de QUEM é o aniversário. Conto-lhes também a história de como surgiu o Papai-Noel-Coca-Cola. Informo, esclareço. Depois, sempre que possível, “trabalho” com eles os bons sentimentos, as boas ações e as virtudes, não de forma didática e impositiva, mas com dinâmicas e brincadeiras, que possam comovê-los. Como o homem da história, que atirava estrelas-do-mar de volta ao oceano, faço a minha parte e com o seu texto provocativo, vc faz a sua. Porque temos fé na vida, no homem e em um mundo melhor… ou_ para quê nos daríamos a este trabalho, não é mesmo? Abraços!!
André Gorga
27 de dezembro de 2012
Carla Betta, obrigado por ter lido o texto e comentado. Concordo quando você diz da importância da fantasia na infância. Minha irmã é educadora formada na pedagogia Waldorf, minha sobrinha foi educada nessa pedagogia até os 11 anos e tive muito contato com essa linha de educação, onde as histórias são muito importantes e com o detalhe de não poderem ser lidas, mas sempre contadas “de memória” apenas. A criança não deve achar que o adulto depende de um livro para contar a história e, principalmente, não deve ter contato com ilustrações, pois tudo deve ficar por conta da imaginação. Princesas, reis, rainhas, fadas, fazem parte dessas histórias. E nos jardins de infância Waldorf, no dia 6 de dezembro, dia de São Nicolau, as crianças recebem de presente um saquinho com castanhas, frutas secas, alimentos integrais, etc, deixados misteriosamente por “São Nicolau”. Infelizmente, na minha cidade, Piracicaba, as escolas fundamentadas nessa pedagogia estão deixando a desejar, mas isso não vem ao caso. Repare que em nenhum momento no texto eu afirmei que a fantasia não é necessária, apenas disse que algumas pessoas poderiam dizer que é cruel matar a fantasia nas crianças, mas apenas como justificativa para manter o Natal como está: intrisicamente ligado ao consumismo. Também imagino que essas pessoas que defendem um Natal de compras e comida, e que preservam a “fantasia” do Papai-Noel-distribuidor-de-presentes, raramente contam uma história para os filhos, que já ganharam bem novinhos do “Papai Noel” um “tablet” e um video-game..rsrs. . Abraço.
Carla Betta
30 de dezembro de 2012
Então, André, me desculpe se o compreendi mal. Abraços!!
neusaferr1@hotmail.com
2 de janeiro de 2013
Só posso escrever que concordo completamente com voce. E depois do natal vem outra comemoração tão grotesca quanto, que é o ano novo. E o que deveria ser realmente uma confraternização mundial onde os sentimentos humanos aproximassem com mais consciencia as pessoas, é a ocasião pra que as pessoas bebam feito doidas e falsamente se abraçem à meia noite envolvidas pela histeria de um subito amor universal que passado os efeitos da bebedeira voltam a ser os mesmos lixos humanos de sempre.