Uma digestão indigesta. Por Alexandre Diniz

Posted on 7 de outubro de 2013 por

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O que foi mesmo que eu almocei hoje?

Estava tão preocupado com meu trabalho, com as contas pra pagar e crises na política, que eu nem me recordo mais daquilo que eu digeri. Será que eu comi pepino, abobrinha e abacaxi? Ou esses são os meus problemas pra resolver?

Enquanto meu arroz esfriava, minha cabeça esquentava. Os abusos dos políticos fermentam a minha gastrite. Não sei mais se precisamos de óleo de soja ou de peroba. Uma rúcula amarga parece mais doce que as promessas de candidatos não cumpridas.

Com o olhar vago e o prato cheio, me nutro com os juros do cheque especial que me derrubam, enquanto me esqueço do ferro e cálcio que me sustentam.

Esse milho transgênico, com genes adulterados, corrompidos, superfaturados, me lembra as obras da minha cidade – com aparência agradável e conteúdo cancerígeno.

O noticiário traz gestos indigestos dos vereadores. A decisão deles que ainda não me fez digestão.

O patrão que engorda sua conta bancária com meu suor, emagrecendo o meu apetite e bem estar.

O que foi que eu comi? Eu não me lembro mais. Não sei se foi um bife rico em proteínas ou um político azedo e corrupto no governo.

O que foi que me deu saciedade? A salada de folhas verdes ou a expectativa de mudanças na próxima eleição?

Estou farto. Farto de tanta preocupação. Já não sei mais se eu digeri ou fui digerido.

 

Alexandre Diniz

Graduando em Filosofia

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