25 de Dezembro, dia e mês em que temos a obrigação em sermos felizes, de consumirmos comidas estranhas ao nosso dia a dia, de abraçarmos colegas e familiares que nunca vemos, de darmos presentes caros ou lembrancinhas (detesto palavras no diminutivo) a pessoas baratas, é dia de alimentarmos os pobres e desamparados, dia de desejarmos tudo de bom para estranhos e sentarmos à mesa com tanta gente “feliz”. Natal é aquele dia em que Papai Noel vai à casa de todas as crianças bondosas, desde que seus pais biológicos ou adotivos tenham um cartão de crédito.
Agora temos também o dia da árvore de natal, celebrado no dia 01 de dezembro, uma campanha da Sadia para comermos mais peru, aquele bicho estranho de carne dura. Temos que montar a árvore em família… Mas, de que família estamos falando?
Um pinheiro, com bolas vermelhas e azuis cheias de luzes e neve artificial, rodeada de falsos presentes e esquecida no canto da casa que serve unicamente para fotografias que nunca serão reveladas, permanecerão nos computadores ou celulares até que algum defeito elimine-as ou um esperto ladrão nos visite.
O espírito natalino, que pode ser chamado de espírito de compras, é o que robotiza as pessoas. Nos supermercados, o consumismo por alimentos e a proposta de ceias fartas é para encobrir a dificuldade diária de uma nação que se alimenta muito mal, basta ver os índices. As filas quilométricas para comprar roupas, sapatos, jóias, maquiagens e uma infinidade de acessórios que nos deixarão bonitos (as) no dia 25 e dia 31 de dezembro, mas também nos deixarão com uma dívida nos cartões de créditos até outubro do ano seguinte, quando a décima parcela cairá.
No entanto natal é dia de doarmos um prato de comida a quem tem fome, porque afinal de contas a fome dos miseráveis é de apenas um dia, é de apenas comida! Somos generosos nesse período e doamos nossas velhas roupas e sapatos, para assim, abrir espaço em nossos armários e guarda-roupas com a nobreza de adquirirmos novos exemplares do consumo desenfreado por supérfluos. Feito baratas tontas vamos às ruas, mas a moda me obriga a comparar a Zumbis, então recomeçando: Feito Zumbis vamos às ruas andando sem rumo, comendo e comprando o que se encontra e nisso levamos sacolas cheias de lixo para casa. Já presenciei brigas em lojas por uma peça de roupa, onde duas mulheres se enfrentavam em um duelo de MMA por uma calcinha amarela, afinal, usar essa cor na virada do ano nos traz muito dinheiro no ano seguinte.
Nesse vai e vem de multidões nos deparamos com a infelicidade nos olhos, pessoas se preenchendo de falsos desejos, se alimentando de vazias esperanças, criando e desenvolvendo a perspectiva de melhorar suas vidas na compra do Iphone 5 ou 6 ou 20, até o natal não sei quantos serão lançados! A vida passando como um sonho, vendida para programas da rede de televisão. As pessoas se preenchendo de valores que acabam juntamente com a bateria do celular, esse novo fenômeno de isolamento pessoal, ou será que todos a mesa da ceia natalina não estarão conectados com o mundo virtual? Esse mundo que passou a ser a nova droga, o distanciamento da realidade, o esvaziamento da convivência e a troca rápida de pessoas.
O aniversariante do dia, embora Jesus sequer tenha nascido nessa data, é substituído por um Papai Noel que dança o Show das Poderosas da Funkeira Anitta.
Detesto o natal, essa obrigação de perdoar a si próprio e aos outros, de ser feliz a qualquer custo, como se para viver precisássemos, obrigatoriamente, da felicidade. A ideia de um ciclo que se fecha e tem que recomeçar com novas obrigações e velhos resultados!
Eu gosto mesmo é do São João que tem milho verde e amendoim!
Evandro Mangueira é Escritor e autor do livro “Arcanjo Gabriel”.
Carla Betta
23 de dezembro de 2013
Texto do facebook de Paulo Henrique Machado em contraponto ao artigo acima.
Devido à paralisia infantil, que o acometeu quando ainda era bebê, o paulista Paulo Henrique Machado, de 45 anos, vive desde quando tinha cerca de dois em um quarto do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Com vários órgãos afetados pela doença, ele precisa da ajuda de aparelhos para respirar. Mesmo assim, conseguiu aprender a ler, concluiu o ensino médio e estudou computação gráfica.
“Mais um Natal vem em nossas vidas. Uma data simbólica pois, não temos a certeza de Cristo, ter nascido no dia 25 de Dezembro.
Precisamos dessa data sendo que, diante de um ano todo, sabendo que a vida exige muito de nós, temos que parar para refletir.
Durante o ano, muitas vezes deixamos de cumprimentar alguém que sem querer, esbarra em nós. Ao invés disso, agimos com diferenças. Diante da correria que nós nos impomos, para ter o sustento familiar, deixamos de prestar atenção no amor que há dentro de nós, assim, abri-se lugar para a estranheza, para atitudes impensáveis, e um descontrole emocional profundo.
Somos feitos, não somente de carne, mas, somos alma também, e é essa quem faz de nós sermos muito mais do que pensamos ser.
Eu mesmo, muitas vezes acordo, não sabendo ao certo o que estou fazendo aqui, mas, se acordei, é porque ainda tenho objetivos a cumprir.
Mais um Natal, vem em nossas vidas, para justamente neste momento, desagarrarmos dos grifos que nos machucam, para podermos olhar ao próximo, de dar um pouco daquilo que temos de mais importante, o amor. Devemos neste momento, deixar a máscara da frieza cair, para dar lugar ao olhar doce e gentil.
Mas eu sei, que muitos consideram esta data, o principal momento da hipocrisia, muitos acreditam que seu amigo do lado, está sendo dissimulado, pois, durante um ano, nem se quer se aproximaram. Realmente, pode existir esse fato, pois sejamos realistas, nos protegemos de tal maneira, tão egocêntrica, que não nos permitimos dar a chance da humildade, pois achamos que passaremos uma imagem de fraqueza. Se lermos a História de Cristo, sendo Ele o símbolo da humildade, Ele se tornou o ícone do poder, e da força
Mesmo assim, se dedicarmos amor, somente em um momento do ano, não é um ato desperdiçado, e acredito muito, que até mesmo aquele ser, o mais calculista que possa ser, há sim, uma parcela muito grande de emoção interna, somente não devemos esquecer que, se a pessoa é assim, é porque há um conflito na vida daquela pessoa, a qual por sua vez, ela não sabe como agir.
Sabe? O Filho do Criador, não nasceu no dia 25 de Dezembro, pode ser, eu não sei mas, o que sei é que, todos os dias Ele nasce. A cada dia que você acorda, seja de um dia estressado, com problemas de dívidas, ou familiares; o que faz com que você acorde, é saber e ter a esperança que, há meios de desafiar aquele obstáculo que no momento está diante da gente.
Tenho a sensação de que coisas boas virão, eu acredito muito nisso, apesar de muitas vezes, o que se passa em nossa frente, mostra o contrário, mas sim, coisas muito boas virão. E esse é mais um motivo que me faz acordar, sendo que o principal motivo, é ter a certeza que ainda tenho metas a serem alcançadas.
Por fim, mais um Natal vem em nossas vidas. Vem muitas vezes, a imagem dos necessitados, pessoas que precisam de um abraço, de um olhar, de um sorriso, pois, somente estes poucos detalhes, já causam grandes transformações. Eu não saberia o que fazer, caso de repente, me fosse dado riquezas. Penso em primeiramente, em ajudar pessoas como a mim, que tem muito pouco, e precisam de ajuda maior. Eu poderia erguer um exército de pessoas que chegasse a quem realmente precisa, para lhe dar conforto. Mas, quem disse que, para que tudo isso seja feito, precisa de riquezas? Claro que, com dinheiro, tudo fica muito mais fácil. Mas, tenho muito mais certeza que, o valor dado a alguém que realmente precisa, feito com muito mais esforço, é o que provoca em nós, a sensação de dever cumprido, em honra de sí mesmo, diante daquele que nos ajudou no passado.
Que todos tenham um Feliz Natal, que abracem seus companheiros, amigos e familiares, mesmo estando em conflitos emocionais. Dêem a chance da flor do amor mostrar sua beleza, e exalar o perfume da bondade, nos provocando a esperança.”
Eu amo todos vocês.”
Evandro Mangueira
24 de dezembro de 2013
Carla, obrigado pela contribuição. No texto facebookiano, podemos ver uma forte influência da ideologia cristã, e para os que a possuem, certamente, o natal deve fazer algum sentido, o esse sentindo mesmo que o texto traz. Não é a verdade do dia a dia, não é a verdade do natal (data comemorativa), como não é a verdade da páscoa, nem de data alguma. Falei que gosto do são João, mas sendo franco, nem o são joão escapa, as pessoas apenas dançam forro nessa data.Sendo, franco, acho pouco apenas um dia para toda essa reflexão que o texto de Paulo Henrique Machado sugere. Sendo uma reflexão de vida, escolhas e mudanças, creio ser válida, mas para apenas um dia (simbolicamente) é muito pouco. Pratico (ou tento) esse comportamento sugerido, e acho válido, mas não preciso de uma muleta, uma data, ou uma religião para ser uma pessoa melhor, para praticar o bem e para perceber o outro. Quando eu estudava no industrial, houve uma discussão sobre ateísmo, e um aluno, eloquentemente, bravava: Se Deus não existisse, eu sairia roubando, matando, fazendo tudo o que não presta, é porque ele existe e eu tenho a promessa do céu que não faço nada disso, é por Ele que sou uma pessoa boa. Ao terminar de ouvir isso (e um dedo apontado na minha cara) percebi que as pessoas usam muletas para serem boas, seja um Deus, seja uma data, seja uma promessa. Não creio que precisemos de tais muletas para sermos bons, para perdoarmos, para amarmos, para sermos gentis. Eu não sigo nem uma ideologia religiosa, mas busco veementemente fazer o bem, ajudar, ser educado, sensível, notar o outro como ser humano, perceber que a vida não é só minha, que tudo o que faço afeta aos demais, saber retroagir, reavaliar. É um exercício difícil, árduo, trabalhoso, talvez fosse mais fácil fazê-lo pensando em uma recompensa pós vida. Sinceramente, não espero que exista vida pós morte, e se exista que eu não tenha consciência alguma da existência, creio q a capacidade de pensar e perceber o mundo a sua volta seja uma tortura permanente, e espero profundamente que ao morrer, minha mente se cale, fique muda, inexista! Mas se existe um reino, um céu, um paraíso, e caso eu venha a fazer parte dessa nova brincadeira da existência, nesse novo modelo de existir, serrá porque as forças que regem esse universo quiseram, e aconteceu porque foi espontâneo, jamais irei fazer qualquer que seja a coisa (um abraço que seja) se não for porque acho certo e válido, jamais farei porque é uma data, porque é um simbolo, porque é uma passagem para um paraíso. Reafirmo, o texto acima é muito bom, para uma ideologia cristã, o que não condiz com a realidade brutal em que vivemos, e para mim, um dia é muito pouco.
Carla Betta
24 de dezembro de 2013
São duas reflexões válidas, no meu entender, fazendo contraponto e nos levando a pensar, a questionar. Não são respostas prontas. O seu artigo e suas considerações estão prontas para vc, assim como o texto do Paulo Henrique Machado é a resposta dele, a conclusão a que ele chegou. Mas, para nós leitores, as duas ponderações nos servem para caminharmos pelos nossos próprios pensamentos.
Evandro Mangueira
24 de dezembro de 2013
Também acho. Seria arrogância deixa minha opinião como algo pronto e imutável. Beijos Carla. E um bom ano novo