Coluna do Evandro. Então é Natal!?

Posted on 23 de dezembro de 2013 por

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25 de Dezembro, dia e mês em que temos a obrigação em sermos felizes, de consumirmos comidas estranhas ao nosso dia a dia, de abraçarmos colegas e familiares que nunca vemos, de darmos presentes caros ou lembrancinhas (detesto palavras no diminutivo) a pessoas baratas, é dia de alimentarmos os pobres e desamparados, dia de desejarmos tudo de bom para estranhos e sentarmos à mesa com tanta gente “feliz”. Natal é aquele dia em que Papai Noel vai à casa de todas as crianças bondosas, desde que seus pais biológicos ou adotivos tenham um cartão de crédito.

Agora temos também o dia da árvore de natal, celebrado no dia 01 de dezembro, uma campanha da Sadia para comermos mais peru, aquele bicho estranho de carne dura. Temos que montar a árvore em família… Mas, de que família estamos falando?

Um pinheiro, com bolas vermelhas e azuis cheias de luzes e neve artificial, rodeada de falsos presentes e esquecida no canto da casa que serve unicamente para fotografias que nunca serão reveladas, permanecerão nos computadores ou celulares até que algum defeito elimine-as ou um esperto ladrão nos visite.

O espírito natalino, que pode ser chamado de espírito de compras, é o que robotiza as pessoas. Nos supermercados, o consumismo por alimentos e a proposta de ceias fartas é para encobrir a dificuldade diária de uma nação que se alimenta muito mal, basta ver os índices. As filas quilométricas para comprar roupas, sapatos, jóias, maquiagens e uma infinidade de acessórios que nos deixarão bonitos (as) no dia 25 e dia 31 de dezembro, mas também nos deixarão com uma dívida nos cartões de créditos até outubro do ano seguinte, quando a décima parcela cairá.

No entanto natal é dia de doarmos um prato de comida a quem tem fome, porque afinal de contas a fome dos miseráveis é de apenas um dia, é de apenas comida!  Somos generosos nesse período e doamos nossas velhas roupas e sapatos, para assim, abrir espaço em nossos armários e guarda-roupas com a nobreza de adquirirmos novos exemplares do consumo desenfreado por supérfluos. Feito baratas tontas vamos às ruas, mas a moda me obriga a comparar a Zumbis, então recomeçando: Feito Zumbis vamos às ruas andando sem rumo, comendo e comprando o que se encontra e nisso levamos sacolas cheias de lixo para casa. Já presenciei brigas em lojas por uma peça de roupa, onde duas mulheres se enfrentavam em um duelo de MMA por uma calcinha amarela, afinal, usar essa cor na virada do ano nos traz muito dinheiro no ano seguinte.

Nesse vai e vem de multidões nos deparamos com a infelicidade nos olhos, pessoas se preenchendo de falsos desejos, se alimentando de vazias esperanças, criando e desenvolvendo a perspectiva de melhorar suas vidas na compra do Iphone 5 ou 6 ou 20, até o natal não sei quantos serão lançados! A vida passando como um sonho, vendida para programas da rede de televisão. As pessoas se preenchendo de valores que acabam juntamente com a bateria do celular, esse novo fenômeno de isolamento pessoal, ou será que todos a mesa da ceia natalina não estarão conectados com o mundo virtual? Esse mundo que passou a ser a nova droga, o distanciamento da realidade, o esvaziamento da convivência e a troca rápida de pessoas.

O aniversariante do dia, embora Jesus sequer tenha nascido nessa data, é substituído por um Papai Noel que dança o Show das Poderosas da Funkeira Anitta.

Detesto o natal, essa obrigação de perdoar a si próprio e aos outros, de ser feliz a qualquer custo, como se para viver precisássemos, obrigatoriamente, da felicidade. A ideia de um ciclo que se fecha e tem que recomeçar com novas obrigações e velhos resultados!

Eu gosto mesmo é do São João que tem milho verde e amendoim!

Evandro Mangueira é Escritor e autor do livro “Arcanjo Gabriel”.