Coluna do Evandro. Bissexualidade. Por Evandro Mangueira

Posted on 3 de fevereiro de 2014 por

4



bi2

Guloso, indeciso, promíscuo, em cima do muro, gilete são só alguns dos muitos adjetivos que já ouvi acerca da bissexualidade. Esse, tão incompreendido, comportamento sexual é um dos mais relevantes comportamentos sexuais existente, isso porque ele é a força motriz de diversos outros comportamentos humanos.

A bissexualidade é incompreendida tanto entre os LGBTTs (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais) como entre os héteros. Algumas diretrizes da militância LGBTT não aceitam a bissexualidade como sendo uma orientação, uma vez que o bissexual no momento em que se relaciona com alguém do mesmo gênero está vivendo uma relação homoafetiva e no momento que se relaciona com o gênero oposto está vivendo uma relação heteroafetiva. Isso é uma grosseria sem tamanho porque nessa afirmativa teríamos que aceitar a monogamia como sendo a única forma de relação afetiva existente, e isso é uma mentira social, muitas pessoas vivenciam casamentos duplos, triplos e até mesmo uniões com dois ou três membros convivendo pacificamente, e não é uma característica da bissexualidade, estou referindo-me à heterossexualidade e todas as demais formas de amar e praticar-se sexo.

A bissexualidade entre mulheres é mais comum e aceita socialmente, isso devido ao vasto incentivo do comércio pornográfico e erótico para o público masculino hétero, até por fazer parte da fantasia de muitos homens, enquanto a bissexualidade entre os homens é negada, repudiada e criticada até entre os gays. A diferença da aceitação social se dá justamente mediante um pensamento machista e nivelador, onde o homem que vivência uma experiência homo, imediatamente é considerado como um gay, entre outras coisas.

O que se é completamente ignorado nessa relação é a existência da bissexualidade ser tão comum e presente como a conduta homo e a conduta hétero, veja, por exemplo, essa escala:

bi1

É óbvio que se existe o homo convicto, também existe o hétero convicto e estes estão nos extremos do gráfico, mas existe uma lacuna enorme entre uma ponta e outra que deverá ser preenchida com todas as tonalidades possíveis da bissexualidade.

É importante entender esse gráfico para entendermos outras condutas sociais, como por exemplo, a tão proclamada “cura gay”: As igrejas que a promovem (e alguns centros ditos “centros médicos”) usam testemunhas que juram terem mudado suas condutas sexuais, creio que entre a bissexualidade isso é altamente possível, em suas diversas tonalidades de tendência homo ou hétero. Desta forma a cura gay é nada mais que uma escolha bissexual, seja tendenciosa, religiosa, psíquica ou social.

Às vezes a própria pessoa não sabe da sua bissexualidade, é comum relatos de práticas sexuais com o mesmo gênero quando adolescentes, relato dado até mesmo por Pelé, nosso rei do futebol, no entanto também é comum ouvi-se de gays sobre suas experiências héteros. Entre pessoas mais velhas (adultas), sejam gays ou héteros, essas experiências bissexuais são ocultadas, por medo, vergonha ou não aceitação. Conheço bissexuais que não se assumem gays por vergonha de dizerem que sente atração por mulheres, e conheço bissexuais que assumem saírem com pessoas do mesmo gênero, mas diz que isso é apenas um apimentamento na vida sexual e não uma orientação sexual.

O que ocorre é uma exigência social de posicionamento, meio no ensinamento bíblico: “Assim, porque és MORNO e não és frio nem quente, VOMITAR-TE-EI” (Apocalipse 3:16). Uma regra bilateral que criou outras idéias como céu e inferno, o bem e o mal, colocando tudo e todos em um lado, sem direito de transitar entre as partes.

Uma sexualidade mal resolvida, seja hetero, bi ou homo provoca fenômenos perigosos, pois os que tendem a se aventurarem, na maioria das vezes, na prostituição com michês (garotos de programa), travestis, prostitutas ou aquela gata (gato) que conheceu na balada, no barzinho,  levados pelo momento, pelas drogas e alcoóis, praticam sexo sem proteção e espalham para suas famílias e para a sociedade doenças infectocontagiosas. Percebam que falei de sexo sem proteção, não é a conduta sexual, o gênero, a orientação sexual ou mesmo a periodicidade da prática sexual que conduz a doenças infectocontagiosas, mas sim a prática de sexo sem a devida proteção, o que é muito comum quando o sexo torna-se algo clandestino.

É importante entendermos e aceitarmos a bissexualidade, para entendermos outros fenômenos sociais, principalmente porque creio que a maior parte da sociedade é bissexual, em dada escala e em dado momento, e que a bissexualidade quando for completamente aceita socialmente, será uma prática tão comum como a conduta hétero ou homo.

Venho observando um crescente avanço nesse campo, entre os mais jovens já ouço de suas bocas as vivências bissexuais. A heterossexualidade e a homossexualidade são vastamente discutidas, mas a crescente bissexualidade é quase completamente ignorada. A sociedade é, em boa parte, bissexual, o que torna essa parcela bissexual em hétero ou homo convictos são as condutas sociais.

Assistiremos, ainda em vida, uma mudança social gigantesca com relação à bissexualidade, veremos casais se formando, se deformando, se modificando e acrescentando nas mais variadas tonalidades bissexuais. Não serei profeta dessa prática, mas aconselho que se acostume com ela, porque vem uma geração que não tem medo de assumir sua bissexualidade!

Evandro Mangueira é escritor e autor do livro Arcanjo Gabriel