Desde as eleições de 2012 nossa cidade tem se envergonhado de diversos episódios com epicentro na Câmara dos Vereadores.
Com o aumento de 66% que eles próprios se deram, mesmo a contragosto do contribuinte, o Reaja Piracicaba fez e ainda faz forte resistência.
Tão logo as eleições aconteceram um episódio lamentável foi protagonizado por esses edis: a expulsão à força (Guarda Municipal e Militar) de um cidadão que se recusou a ficar em pé durante a leitura bíblica do início da sessão camarária.
Esse gesto liderado pelo presidente da Câmara denuncia algo muito grave: a ingerência religiosa num país laico. A questão de vivermos, em tese, esse laicismo,nesse caso mostra algo além das aparências:a presidênciada Câmara se sobrepôs à Constituição do país, rasgou o texto constitucional.
Baseando-se nisso, alguns edis julgaram procedente a expulsão do cidadão que resistiu, e o uso da força foi aplicado.
Disso conclui-se que: a) o laicismo da Constituição está longe de chegar a ser uma realidade, e b) certas estruturas de personalidade não suportam o diferente, que tem vida e pensamento próprios. Há uma confusão entre presidir e liderar um grupo. A presidência é uma função, a liderança um atributo nato, reconhecido pelo grupo espontaneamente, jamais imposto. O líder é um humanista por excelência. Detém o poder, mas o delega aos seus. Nem sempre um presidente é um líder.
Outro ponto para refletirmos: quanto mais seguidores eu tiver, menos responsável me sinto por meus atos. Embora o número de pessoas que adotam o mesmo modelo de outra não diminua sua responsabilidade, esse é um sentimento frequente em grupos, especialmente naqueles que uma massa adota atitudes, falas, posicionamentos iguais ou semelhantes a um suposto líder (ou se houver confusão, alguém superior na hierarquia). Esse é um fenômeno das massas. Eu sozinho não me imagino matando um estuprador, mas se o estuprador for atacado por vários sujeitos talvez eu me anime junto. É como se a culpa se diluísse, ficasse dividida.
Mas as coisas não pararam nisso. Numa democracia quem detém o poder político deve saber conviver com o diferente. No entanto o Reaja Piracicaba ficou impedido de adentrar a Câmara, nem mesmo fazer uso da tribuna, coisa impensável em nossa sociedade! Mais que isso, os vereadores cercaram a entrada com grades. Será que em meio a tanto vandalismo precisavam sentir o gostinho de estarem presos? O uso das atribuições de um cidadão ameaça a quem? E de que forma? Ou, quem estava sendo ameaçado?
Aí tem o episódio com o vereador Paulo Camolesi. Receba minhas reverências por sua postura firme e ética. Não é fácil remar contra a maré. Seu assessor Oswaldo Storel agora reintegrado por decisão judicial, jamais poderia ter sido exonerado. E porque foi? Mais uma vez: “não aceito que me critiquem, sou o presidente, exijo respeito”.
No momento em que escrevo essas linhas tenho a plena lucidez que me sobrarão críticas. Mas elas me ajudam a crescer, agradeço a todas elas. Não tenho qualquer problema com isso. Não demando reconhecimento ou aprovação, menos ainda seguidores. Tenho sim uma enorme responsabilidade pelo que digo ou escrevo. Mas para isso é preciso prescindir da expectativa do outro. Um líder não espera aplausos, moção de apoio ou coisa que o valha. Ele é responsável pelo que fala ou faz. Tem seu objetivo claro e como vai atingi-lo. Se houver quem queira unir forças será bem-vindo, quanto às críticas servem para corrigi-lo, direcioná-lo, fazê-lo refletir.
Qualquer coisa que fuja disso deixa de ser liderança, correndo-se o risco de cair no despotismo. E desse já temos em abundância em Piracicaba.
Pedro Gobett é psicólogo clínico, interage com internautas pelo blog http://pedrogobett.blogspot.com.br/ e assina a coluna Psicopontocom do jornal A Tribuna Piracicabana
Eduardo Stella
6 de março de 2014
Existem os líderes e os chefes … os primeiros fazem questão de se manter no mesmo nível de seus liderados … os chefes … ah … esses sim são opulentos e gostam de se mostrar como “otoridade” …
Perfeito !
Antônio Cláudio Fischer
7 de março de 2014
Parabéns pela reflexão, estou com você, mas, não podia me furtar de manifestar sobre o que está ocorrendo no STF, lá como cá, parece me que quem manda ou melhor quem ocupa o cargo de presidente não gosta e não aceita opiniões (votos) contrário a sua visão de (in)justiça. Tenho falado em roda de amigos em fila de banco (haja paciência nessas filas) que o povo é pobre na educação política pois preocupam-se em quem eleger para presidente, governador e prefeito, mas, esquecem ou não sabem que os responsáveis pelas aprovações das Leis, boas ou más, são os senadores, deputados e vereadores que detêm o poder das emendas, do veto e de promulgar a lei no caso da omissão dos dirigentes. Estou errado?