Da Responsabilidade do Líder e a do Superior. Por Pedro Gobett

Posted on 6 de março de 2014 por

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Caricatura de Erasmo. Jornal de Piracicaba. Todos os direitos reservados.

Caricatura de Erasmo. Jornal de Piracicaba. Todos os direitos reservados.

Desde as eleições de 2012 nossa cidade tem se envergonhado de diversos episódios com epicentro na Câmara dos Vereadores.

Com o aumento de 66% que eles próprios se deram, mesmo a contragosto do contribuinte, o Reaja Piracicaba fez e ainda faz forte resistência.

Tão logo as eleições aconteceram um episódio lamentável foi protagonizado por esses edis: a expulsão à força (Guarda Municipal e Militar) de um cidadão que se recusou a ficar em pé durante a leitura bíblica do início da sessão camarária.

Esse gesto liderado pelo presidente da Câmara denuncia algo muito grave: a ingerência religiosa num país laico. A questão de vivermos, em tese, esse laicismo,nesse caso mostra algo além das aparências:a presidênciada Câmara se sobrepôs à Constituição do país, rasgou o texto constitucional.

Baseando-se nisso, alguns edis julgaram procedente a expulsão do cidadão que resistiu, e o uso da força foi aplicado.

Disso conclui-se que: a) o laicismo da Constituição está longe de chegar a ser uma realidade, e b) certas estruturas de personalidade não suportam o diferente, que tem vida e pensamento próprios. Há uma confusão entre presidir e liderar um grupo. A presidência é uma função, a liderança um atributo nato, reconhecido pelo grupo espontaneamente, jamais imposto. O líder é um humanista por excelência. Detém o poder, mas o delega aos seus. Nem sempre um presidente é um líder.

Outro ponto para refletirmos: quanto mais seguidores eu tiver, menos responsável me sinto por meus atos. Embora o número de pessoas que adotam o mesmo modelo de outra não diminua sua responsabilidade, esse é um sentimento frequente em grupos, especialmente naqueles que uma massa adota atitudes, falas, posicionamentos iguais ou semelhantes a um suposto líder (ou se houver confusão, alguém superior na hierarquia). Esse é um fenômeno das massas. Eu sozinho não me imagino matando um estuprador, mas se o estuprador for atacado por vários sujeitos talvez eu me anime junto. É como se a culpa se diluísse, ficasse dividida.

Mas as coisas não pararam nisso. Numa democracia quem detém o poder político deve saber conviver com o diferente. No entanto o Reaja Piracicaba ficou impedido de adentrar a Câmara, nem mesmo fazer uso da tribuna, coisa impensável em nossa sociedade! Mais que isso, os vereadores cercaram a entrada com grades. Será que em meio a tanto vandalismo precisavam sentir o gostinho de estarem presos? O uso das atribuições de um cidadão ameaça a quem? E de que forma? Ou, quem estava sendo ameaçado?

Aí tem o episódio com o vereador Paulo Camolesi. Receba minhas reverências por sua postura firme e ética. Não é fácil remar contra a maré. Seu assessor Oswaldo Storel agora reintegrado por decisão judicial, jamais poderia ter sido exonerado. E porque foi? Mais uma vez: “não aceito que me critiquem, sou o presidente, exijo respeito”.

No momento em que escrevo essas linhas tenho a plena lucidez que me sobrarão críticas. Mas elas me ajudam a crescer, agradeço a todas elas. Não tenho qualquer problema com isso. Não demando reconhecimento ou aprovação, menos ainda seguidores. Tenho sim uma enorme responsabilidade pelo que digo ou escrevo. Mas para isso é preciso prescindir da expectativa do outro. Um líder não espera aplausos, moção de apoio ou coisa que o valha. Ele é responsável pelo que fala ou faz. Tem seu objetivo claro e como vai atingi-lo. Se houver quem queira unir forças será bem-vindo, quanto às críticas servem para corrigi-lo, direcioná-lo, fazê-lo refletir.

Qualquer coisa que fuja disso deixa de ser liderança, correndo-se o risco de cair no despotismo. E desse já temos em abundância em Piracicaba.

Pedro Gobett é psicólogo clínico, interage com internautas pelo blog http://pedrogobett.blogspot.com.br/ e assina a coluna Psicopontocom do jornal A Tribuna Piracicabana

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