Matéria da Folha de São Paulo do dia 07.03.14 falando sobre o mais baixo nível de água da história do Sistema Cantareira por causa da forte estiagem que assola o Estado de São Paulo (e má gestão digo eu), dá conta que aliados do governador Geraldo Alckmin temem o impacto político que uma crise no abastecimento de água pode ter sobre sua campanha à reeleição. A avaliação é que o racionamento de água em São Paulo só não poderá ser explorado pela oposição se houver também uma crise elétrica, sistema que é regido pelo governo federal.
Merecem cadeia esses políticos. Estão preocupados é com a reeleição, essa praga que leva governantes medíocres fazerem o que agrada a população e não o que é preciso. Cuidar da água, por exemplo, não dá voto. Tanto que, no dizer do secretário-executivo do Consórcio PCJ “estamos quase na linha para secar o reservatório. Estamos chegando quase ao fim do poço neste período. Região pode ter racionamento de água nos próximos três anos” (JP 29.11.13). Deram-lhe ouvidos?
Tanto lá como cá não falam outra coisa senão em desenvolvimento econômico. Segundo Fred Gelli, professor da PUC RJ “Não dá mais para continuar crescendo indefinidamente gerando passivos ambientais. Não é mais uma questão de lógica. É uma questão física Não tem onde mais tirar recurso, onde jogar lixo”. O progresso é porco no dizer de Ruy Castro.
Desenvolvimento econômico sem solidariedade e sem responsabilidade ambiental serve para quê? Para aumentar o caos. Afinal não são os pobres que sonegam impostos, escravizam e oprimem trabalhadores; grilam terras, devastam florestas, destroem rios, fauna e flora; ameaçam e corrompem juízes, parlamentares, governantes e funcionários públicos; fazem turismo sexual e promovem a prostituição infantil, como a quadrilha que recrutava jovens pobres para atender empresários e políticos do Amazonas. “Garotas virgens valiam muito nesse mercado.
Entre clientes – homens ricos – havia quem fizesse pedido por meninas “tipo bebezinha”. A Justiça do Estado, um ano depois, ainda analisa seabrirá processo… o excesso de suspeitos e o fato de haver “gente
conhecida” afetam os trabalhos”. (Folha 08.12.13). Além do mais, esse crescimento econômico que beneficia uma minoria – 65 brasileiros somam uma fortuna de 220 bilhões de dólares – é extremamente nefasto visto que a desigualdade social é a principal causa de explosão da criminalidade. Os governantes já deveriam ter percebido que o povo brasileiro prefere a igualdade social ao crescimento vigoroso.
Ora, o PSDB governa o Estado de São Paulo desde 1995 e aqui desde 2005. Durante todo esse tempo que preocupação teve com os recursos hídricos, mesmo alertado por sombrias previsões? O agronegócio, o
mercado imobiliário, o investimento em avenidas para beneficiar condomínios e dar vazão a carros particulares acabaram com as nascentes e detonaram nossos recursos hídricos. A cidade de São Paulo, por exemplo, tem cerca de 300 ribeirões debaixo do concreto. O descaso com o meio ambiente está exposto na agonia do rio Piracicaba – orgulho e identidade dos piracicabanos. Preparemo-nos. Pode ser que num futuro próximo nossas torneiras sequem. Sem água de que adiantará o carrão, a mansão, a fortuna, o MBA? Sei que os ricos – egoístas como sempre – se mandarão daqui. Ficaremos nós pagadores de impostos, rezadores de igrejas e principalmente o ignorante político; esse que segundo Bertold Brecht “estufa o peito dizendo que odeia a política” – como se isso o fizesse um santo ou o isentasse do descalabro. “Não sabe o imbecil que de sua ignorância política nasce o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista (…) e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”.
Antônio Carlos Danelon é Assistente Social. totodanelon@ig.com.br
Antônio Cláudio Fischer
14 de março de 2014
Brilhante como sempre. Eu sempre pensei assim, mas talvez porque não tenho statos, holofotes, nunca ninguém me levou a sério. Você lembra quando ministrávamos aula de alfabetização de adultos, nós já falávamos desse crescimento desordenado e das consequências que isso nos traria. Pena que muitos e muitos odeiem a política e deixem a vida os levar.
Antonio Carlos Danelon - Totó
15 de março de 2014
Obrigado, amigo Fischer. Naquele tempo tentamos e conseguimos encher de cidadania muita gente simples do povo excluída do saber, mas que cheia de dignidade. Tempo bom. Tempo de sonhos. Bendito Paulo Freire, como faz falta. Lembra como enfrentamos o Thame, que queria – e conseguiu – acabar com o curso de alfabetização porque achava um desperdício? Pois os resultados estão aí.E você foi o mais duro na queda. Encarou o tucanão com a maior classe e altivez. Sinta orgulho disso.
Alexandre Diniz
14 de março de 2014
Hoje pela manhã na Rede Globo (jornal Bom Dia Brasil) eles mencionaram em uma notícia que, para evitar um racionamento de energia elétrica, vão utilizar de recursos extras DE USINAS TERMOELÉTRICAS, que serão debitados do contribuintes no ano de 2015!! (após eleições)
Antonio Carlos Danelon - Totó
15 de março de 2014
Valeu, Alexandre. Pois é, e eles acham que estão nos enganando. Não são uns estúpidos?
Marlene
14 de março de 2014
Bem dito Totó! Já sentimos sede de justiça , de arte, de alegria, de orgulho de ser brasileiro…..sentiremos ainda sede de água….
Antonio Carlos Danelon - Totó
15 de março de 2014
Obrigado, Marlene. Veja no que chegamos. Mas dá tempo de erguer a cabeça e retomar nossa dignidade.
Carla Betta
20 de março de 2014
Texto contundente, pungente e infelizmente, verdadeiro!