A palavra “nobre” pode, a rigor, significar quatro coisas, segundo os dicionários: aquilo que não se mistura com outras coisas (como por exemplo os gases nobres), aquele que pertence a uma família da antiga nobreza feudal, algo raro e/ou caro e aquele que merece respeito por méritos, qualidades e por estar voltado para o bem. Excelência, por sua vez, é alguém muito superior aos demais. Ilustre, de onde vem o “ilustríssimo” é aquele que se destaca pelo seu brilho, que é digno de louvor. E aí é que vem meu incômodo. Embora possa ser apenas por formalidade tradicional, o que vemos nos meios políticos é o uso constante destes tratamentos. “Nobre deputado”, “nobre senador”, “nobre vereador”, excelentíssimo Governador, prefeito, presidente (a). Estes termos, mais os “ilustríssimos e ilustríssimas” pululam nos discursos, nos documentos e até nos apartes e debates políticos. Mas eu me pergunto, a maioria deles merece tal tratamento? De fato são “nobres”, “ilustres” e “excelentes”?
A resposta, claro, depende da importância que damos a tais adjetivos e também da interpretação que fazemos deles. Existem pessoas nobres sim, mas eu não penso que a maioria esmagadora dos nossos políticos mereça este “título”. A não ser que interpretemos o “nobre” em questão como “caro” nos sentido financeiro. Aí sim, eles são “nobres”, caros para os nossos bolsos com seus subsídios, privilégios e poder de emendas de orçamento.
Também podemos pensar que o título está sendo usado no sentido “químico”, de um elemento que é nobre porque não se mistura com os demais. Estaria correto também, já que a maioria dos políticos não se “mistura” muito com os reais interesses do povo e sim advogam em prol dos seus interesses e os de pequenos mas ricos grupos. Se “nobre” for usado como sinônimo de “caro” ou “que não se mistura”, ok. Eles merecem o título…
Mas e excelente e ilustre? O que é excelência? Ter sido eleito? Não me parece, pelo menos não em um país em que a maioria das pessoas sequer se lembra em quem votou e tampouco sabe por que votou. Em um país em que a maioria desconhece os limites e atribuições de cada cargo político e vota, a rigor, por influência de propaganda, por indicações de conhecidos ou em troca de pequenos favores. Não, não há nada de excelente em ser eleito assim. Nada que os torne superior aos outros, mas as vezes, pelo contrário, dependendo de que expedientes foram usados para se eleger, faz o efeito contrário. Eticamente, os que se elegem mentindo, comprando votos e fazendo alianças escusas, não são excelentes, são desprezíveis e inferiores, não superiores. Tampouco o adjetivo “ilustre” se aplica à maioria da classe política. Que brilho tem um corrupto? Que brilho tem alguém que negocia o monopólio do poder para poucos grupos?
Em minha visão de mundo, existem pessoas nobres sim, mas elas estão, geralmente, fazendo seu trabalho com carinho e respeito, estão voltados para a verdade e para o bem comum. Existem pessoas ilustres e excelentes, mas você não as encontra com freqüência nos centros do poder, e sim na periferia da sociedade. Você as encontra mais facilmente entre aqueles que renunciam a riqueza e ao benefício pessoal em prol da ética e do próximo. Encontra nos heróis anônimos que, mal tendo o que comer, ainda assim acham o que dividir. Encontra naqueles que voluntariamente ouvem os doentes e acompanham seu sofrimento, tentando aliviá-los pelo menos com sua presença. Encontra naqueles que renunciam à corrupção mesmo que à sua volta, todos sejam corruptos. Se você conhece alguém assim ou vier a encontrá-lo, terá encontrado os verdadeiros nobres. Se quiser, pode chamá-los com estes termos, mas eu duvido que eles vão aceitar ou gostar. Uma de suas características comuns é a humildade e a noção de que o que eles fazem, não é meritório, é o seu dever. Pense nisso na próxima vez que ouvir um político sendo chamado de “vossa excelência”..
Carla Betta
2 de maio de 2014
Tão certeiro que nada tenho a comentar. Apenas a parabenizar.