Eu não sei do que elas eram feitas. Parecia uma espécie de vidro que ao se quebrar, também produzia cacos. Só não eram mais perigosos porque as bolas de Natal, que pendurávamos nas árvores, eram muito finas, tão finas que não chegavam a cortar fundo se nos espetávamos nos cacos.
E para ser mais preciso, nem todos esses enfeites tinham a forma esférica. Alguns eram em forma de gotas, outros de losangos bem alongados e alguns até em forma de frutas. Havia um em minha casa que era em formato de um cacho de uvas e, para mim, era um dos mais bonitos.
Também haviam os que tinham uma espécie de purpurina colada neles ou até desenhos. E eram todos muito delicados. Delicados a ponto de exigir nosso extremo cuidado para tirá-los das caixas, pendurá-los e depois, fazer o caminho inverso até o ano seguinte.
Claro que eles quebravam. Nada é eterno nessa Terra. E é claro que nós lamentávamos quando isso acontecia, principalmente se fossem aqueles enfeites que julgávamos mais bonitos e que eram, sim, mas antigos. Aliás, quanto mais antigo melhor, porque traziam uma história. Haviam sido de avós, de outros parentes ou comprados muito tempo antes, fazendo parte de uma tradição. Eram objetos que retomávamos, reconduzíamos a luz e à evidência em uma época determinada e não reproduzível em outras datas, daí seu encanto. O encanto do tempo de celebrar e que era curto, não vulgar.
Não sei se estes enfeites ainda existem no mercado. A última vez que fui comprar alguns, tempos atrás, quando ainda tinha alguém para compartilhar uma árvore de Natal, só encontrei peças de plástico, bem menos bonitas a meu ver.
E quando comprei aquelas bolas de plástico, ocorreu-me o quanto elas eram impessoais. Mais duráveis, sim, mas também descartáveis e sem importância, afinal não exigiam grandes cuidados no manuseio. Não exigiam delicadeza…
Sua dureza nos torna descuidados e até desapegados em um sentido ruim. O sentido de que não temos que cuidar delas.
Parece-me que nos tornamos também duros. Que também perdemos a delicadeza de lidarmos com as coisas e com as pessoas, os sentimentos e, porque não dizer, com a própria vida, seja a nossa ou a dos outros seres.
Prensados pelas exigências do trabalho, da competição, do medo eterno de também sermos descartados da vida dos outros ou do nosso trabalho. Perdemos a delicadeza com o Natal e com tudo o mais.
Claro que as coisas são muito mais complicadas, que nem sempre conseguimos escolher. Mas talvez, talvez, redescobrir a delicadeza ao tratar com um objeto que tem um significado e uma fragilidade próprios, possa nos ajudar a resgatar a delicadeza necessária para com os outros seres, os sentidos das festas e até conosco e com nossa vida.
Talvez seja um pequeno “exercício” que nos leve, depois, a cultivarmos com mais delicadeza uma planta, a vida de um animal, de um ser humano, até porque tudo isso é frágil e exige delicadeza para que não nos deixe antes do tempo.
Porém, as vezes uma situação e uma relação podem ser tão complicadas que se torna insustentável e, então, frágeis ficamos nós e frágil fica a própria situação e, nesse caso, o ato mais prudente é um afastamento que é, também uma forma delicada de reagir. Algo como não mexer em um objeto que, por sabermos frágil e por sabermos não termos como tocá-lo, é melhor que nos afastemos.
Mas outros objetos e relações talvez possam ser resgatados e usufruídos com delicadeza que temos que reaprender.
Nesse Natal e nesse Ano Novo, eu quero retomar essa atitude mais delicada. Reaprender muito que perdi e aprender outras que nunca entendi direito antes.
Porque o Natal é a celebração da vida. E a vida é frágil. E exige delicadeza.
Feliz Natal e um ano novo cheio de aprendizado e delicadeza a você que lê esse texto.
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Anônimo
22 de dezembro de 2023
Um fraterno abraço ao amigo e sempre professor. Meus votos de Feliz Natal e próspero ano novo.
Marcão Ripoli
blogdoamstalden
22 de dezembro de 2023
Muito obrigado meu amigo, dê um abraço em toda a família e que vocês tenham saúde, tenham paz e tenham felicidade
Marlene
22 de dezembro de 2023
Lindo texto! Feliz Natal! Feliz Ano Novo!Enviado do meu Galaxy
blogdoamstalden
22 de dezembro de 2023
Muito obrigado e que você tenha saúde, tenha paz e tenha felicidade
Simone Cristina Breda Alves
22 de dezembro de 2023
Eu amo montar árvore de natal ainda hoje. Concordo que as bolas fininhas de tempos atrás exigiam mais cuidado, mas gosto de pensar que podemos ter cuidado inclusive com o que não é obrigatório e necessário. Talvez a delicadeza seja ainda mais rica… Talvez seja só porque eu gosto mesmo rsrsrs.
Feliz natal pra você e que seu 2024 seja mágico e iluminado. Abraço grande !!!
Anônimo
22 de dezembro de 2023
Ao prof Luis Fernando, Lindo texto!! Feliz Natal e um 2024 de muita paz, saúde e realizações.
Anônimo
22 de dezembro de 2023
Adorei o texto Luis. Sim, me lembro muito bem destes enfeites e do brilho que eles tinham. Saudades dessa delicadeza. Que possamos buscá-la em 2024.
Há muitos anos, você me fez votos de natal e ano novo de um modo que nunca mais me esqueci… Vou repassá-los aqui:
Desejo que o natal seja como uma criança – alegre e vibrante
E para o ano novo, espero que traga a coragem e a ousadia da juventude!
Era algo mais ou menos assim…
Hoje, nas margens da meia vida, almejo o existir da velhice – cujo ritmo vagaroso permite melhor contemplar as sutilezas da vida.
Forte abraço querido amigo, cheio de afeto!
blogdoamstalden
22 de dezembro de 2023
Que legal alguém se lembrar de uns votos antigos. Mas não aparece seu nome para mim porque você não está inscrito ou inscrita no blog. Não é necessário se inscrever mas eu fiquei curioso em saber quem é. Feliz Natal com a serenidade de quem já está na minha idade
Anônimo
22 de dezembro de 2023
Maravilhoso este teu texto, assim como todos os outros que escreve. Lembrou-me Natais passados, quando minha família (enorme!!!) reunida em torno de uma mesa, também enorme, comemorava o Natal com toda a alegria natalina. A árvore de Natal era uma árvore de verdade, um pinheirinho que, em alguns anos, precisava ser trocado por outro menor. Avós, pais, filhos, tios, primos, netos, bisnetos reunidos todos para comemorar o nascimento do Menino. Os enfeites da árvore eram simples, muitos manufaturados e improvisados, assim como os presentes que recebíamos. Éramos felizes com tão pouco! Saudades daqueles Natais!
Grande abraço, querido Amstalden e um Feliz Natal, apesar de tantos problemas.
Sua amiga de Bauru, Maricell
blogdoamstalden
22 de dezembro de 2023
Adorei a descrição dos seus natais antigos. De fato precisávamos de muito menos para sermos felizes e talvez precisássemos mesmo é das pessoas. Forte abraço, muito obrigado pelos seus comentários e um feliz Natal e um Ano Novo maravilhoso
Anônimo
23 de dezembro de 2023
Feliz Natal para você também!
Adorei seu texto , também sinto isso com relacao aos enfeites de natal. As bolas de vidros frágeis. Que acredito não exista mais no mercado. Enquando lia seu texto, fiquei na nostalgia da casa dos meus pais.
Abraços!
blogdoamstalden
23 de dezembro de 2023
Feliz Natal e que o Espírito delicado dos natais antigos permaneça sempre conosco
Anônimo
23 de dezembro de 2023
Parabéns pelo texto, professor. Também lembro desses enfeites. Um galho mais irregular e lá se ia uma bolinha colorida.
Feliz natal!!
blogdoamstalden
23 de dezembro de 2023
Feliz Natal sempre com a delicadeza dos antigos enfeites dentro de nós
Anônimo
23 de dezembro de 2023
Que texto reflexivo, precisamos urgente resgatar a delicadeza 🩷
blogdoamstalden
23 de dezembro de 2023
Muito obrigado pelo comentário e um feliz Natal
Anônimo
25 de dezembro de 2023
Querido Luis, que texto maravilhoso.
Uma profunda reflexão!
Voltei no tempo, quanto arrumar e vender essa época do ano esses enfeites na Livraria Brasil.
Tão delicadas que as vezes só de olhar elas quebravam mesmos.
Um Natal abençoado para você e sua família. Tânia Brasil
blogdoamstalden
25 de dezembro de 2023
Livraria Brasil de Piracicaba? Que saudades
Anônimo
26 de dezembro de 2023
Muito boa reflexão, me lembrei com nitidez dos enfeites, da alegria e da simplicidade do Natal na minha terra. Como sou grata pela vida vivida.
Gratidão a você pela delicadeza e beleza do texto.
Obrigada a meu apreciado amigo Roberto Stefanini que me presenteou com o link.
Ótimo 2024 para todos
Gisela Alvarado
blogdoamstalden
26 de dezembro de 2023
O Roberto é um irmão para mim, mas eu fico muito feliz que o texto tem a lhe trazido boas recordações
Anônimo
29 de dezembro de 2023
Prof. Luis fernando. Lindo texto. Parabens! Feliz ano novo repleto de saude paz enovas oportunidades! Abcs