Oito de Março: minha homenagem as mulheres e uma queixa também. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 7 de março de 2024 por

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Dia internacional da mulher, dia de lembrar aluta e o sacrifício não só daquelas que foram mortas carbonizadas na greve de 1857 nos EUA, como também de lembrar todo um passado e um presente de opressões mutilações, assassinatos, repressões e exclusões e tantos outros horrores.

Desde que eu comecei a lecionar, ainda com 21 anos, fazia questão de explicar para minhas alunas e meus alunos a História e o significado da data. Também fazia questão de falar sobre o machismo, suas origens e sua aberração que impede a todos nós homens e mulheres de vivermos bem. Aliás, continuo fazendo isso até hoje nas salas de aula que ainda tenho e nas eventuais palestras para as quais me convidam.

Claro, tenho traços machistas cravados no meu inconsciente. Todos nós, homens, mulheres e LGTBQIA+ os temos, uma vez que somos frutos de uma sociedade machista que nos inculcou tais traços desde a infância mais tenra. Desde que furaram as orelhas das meninas recém nascidas e não as dos meninos. Mas embora eu os tenha, aprendi o suficiente para me modificar e combater tanto minhas concepções sutis e inconscientes quanto o machismo real em mim e no mundo.

Mas, para ser franco, penso que sou muito menos machista que mulheres que hoje negam o feminismo e que se tornam famosas por isso. Alias, também muito menos do que muitas deputadas e senadoras e outras mulheres que agora ocupam cargos políticos.

Anos atrás, fui convidado para um evento no qual tive que ouvir por muito tempo uma vereadora de outra cidade repetindo muitas vezes que o mal do mundo são atitudes do “macho branco” e, nas entrelinhas, que o mal são os “machos brancos”.

Bem, eu sou o que se designa “branco” e me identifico com o gênero masculino. Logo sou um “macho branco” como a vereadora escandia com nojo na sua fala. Poupo vocês que leem este artigo de minha militância antirracista que seguiu os mesmos passos de minha militância contra o machismo e vou ficar na questão do “macho” somente.

Enquanto a jovem falava, fui me lembrando do ano de 2005, quando uma colega foi assassinada, junto com a irmã, pelo próprio marido que ainda por cima baleou para matar a sobrinha. Lembrei-me de como a família pediu minha ajuda enquanto sociólogo uma vez que assassinatos de mulheres costumava, e muitos ainda costumam, terminarem sem a prisão do assassino, que estava mesmo foragido.

Lembrei da campanha que planejei e coordenei e que, graças a ajuda de muitas pessoas, criou uma comoção que levou o assassino à cadeia. Lembrei do abaixo assinado, do ato ecumênico realizado na catedral de Piracicaba, da rede de contatos feita com o Orkut e da pressão que conseguimos fazer sobre a polícia e o governo do Estado.

E lembrei também do inferno que vivi até a prisão do assassino. Inferno que foi desde os atos de covardia, desprezo e machismo puro por parte de pessoas desconhecidas e até de algumas que deveriam estar na luta, passando pelas fofocas que davam conta de que eu havia recebido dinheiro da família para fazer a campanha, até a mais humilhante para a falecida e para mim, a fofoca de que eu seria amante dela e por isso estava fazendo aquilo. E ainda do inferno que foi ser avisado, por duas veze, que minha vida estava correndo perigo.

Lembrei da rede de apoio para outros casos de feminicídio das quais participei via Orkut e muito mais. E, na época do evento, eu protestei.

E protesto novamente.

Continuarei apoiando de todas as formas e maneiras a luta contra o machismo, o racismo, a homofobia e outras muitas injustiças. Faria de novo o que fiz antes e farei se for necessário.  Mas não vou aceitar ser classificado como opressor nato pela cor da minha pele e pelo meu gênero ou orientação sexual.

Não vou aceitar isso, da mesma forma que não aceito que outras pessoas sejam consideradas inferiores, desonestas ou más pela cor da sua pele, pelo seu gênero e pela  sua orientação sexual, tampouco pela pobreza.

De resto, estou aí, companheiras, para o que der e vier.

Mas peço que não tratem quem luta com vocês da mesma forma como tratam quem luta contra vocês.

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