Ausências de Natal. Por Luis Fernando Amstalden.

Posted on 23 de dezembro de 2025 por

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Talvez esteja acontecendo com você neste Natal. Talvez já á tenha acontecido antes. De qualquer maneira, ninguém está livre disso, de uma ou mais ausências na festa de Natal, um lugar vago, um vazio doloroso que sentimos ao pensar em alguém que esteve conosco e agora é uma lacuna na mesa e no nosso peito.

Dói, eu sei. Algumas ainda doem em mim. Mas, deixe-me dizer. Toda vez que eu sinto essa dor, eu me lembro de qual é o significado do Natal  para além da festa. O significado de que existe uma razão para tudo no Universo. De que existe um vir a ser, um futuro em uma vida mais plena do que essa. E assim, penso que aqueles e aquelas que me faltam, estão, agora, nessa plenitude que eu mesmo não vivo, até porque sinto a dor da falta deles.

Tenho certeza absoluta disso? Não, não tenho. Não é possível ter uma vez que vivo em um corpo e uma mente que buscam sempre o sentir e o entender das coisas e, esse corpo e essa mente, não podem superar as suas limitações. Mas eu tenho fé de que é assim. E a fé não significa, pelo menos para mim,  a certeza absoluta. A fé significa a esperança e significa um pressentimento, uma percepção intuitiva de que o milagre da vida e da consciência, de todas as formas de vida e consciência, não pode simplesmente desaparecer no vazio. E, quer saber? Essa intuição, esse “pressentir” pode ser, eu sei, apenas a minha vontade de que tudo permaneça em um mundo impermanente.  Se você não tem fé, pode interpretar minha “intuição” desta maneira e estará correto. Mas, mesmo que eu tenha também essa consciência, de que eu também me pergunte, muitas vezes, se minha intuição não seria apenas um desejo, ela continua lá e é forte e sutil ao mesmo tempo. Ela me mantém vivo e buscando o equilíbrio e a serenidade, mesmo em momentos mito difíceis. Momentos em que a luzes de Natal ficam cada vez menos visíveis para mim. E se eu tiver que abandonar essa intuição, terei abandonado também a esperança e, por conseguinte, a própria vida. E abandonar a vida não é compatível com o Natal, quando celebramos o nascimento de uma criança, a renovação da vida.

Mas, tenha você fé ou não, deixe-me dizer outra coisa. Aqueles que amamos, que nos fazem falta, principalmente nesta época, estão sempre conosco. Estão dentro de nós, em nossas mentes, nossos comportamentos e até em nossas saudades. Porque se sentimos saudades, sentimos falta deles, então é sinal de que amamos e fomos amados e isso, amar e ser amado, é um privilégio em um mundo que muitas vezes parece ser movido apenas por egoísmo.

Se nesse Natal, falta-lhe alguém ou até muitas pessoas, permita-me uma sugestão: aquele pequeno presente que você gostaria de ter dado a quem lhe falta hoje, aquela comida especial, aquele carinho e talvez apenas aquela palavra de acolhimento, dê a outra pessoa. Faça isso mesmo que seja para alguém que você não conhece, mas sabe que está só e que  também sente a falta de pessoas e talvez de outras coisas como carinho, comida e simpatia.

Se você for capaz de fazer isso, tenha você fé ou não, terá feito um pequeno milagre de Natal, o milagre de manter vivas as pessoas que amou e ama através do amor partilhado, dado a outrem assim como lhe foi dado um dia.

Um Feliz Natal a todos e todas e que o Ano Novo nos traga ainda mais esperança e vida.

Texto dedicado a Frei José Orlando Longarez, Leonilda Amstalden, Jandira Silveira Ramos, Frei Sérgio Aguiar, Carla Bettarello, Rosane A. Hongan, Vera Choairy, e todos e todas que deixaram a mim e a vocês neste ano, mas que estarão sempre conosco, em nossos pensamentos, sentimentos e nossas atitudes.

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