Anos atrás, vi uma propaganda de laboratório farmacêutico daquelas que só é enviada aos médicos. Na foto, em primeiro plano, uma bela mulher. Em uma das mãos trazia uma pasta de executivo, com a outra segurava a mão de um menino pequeno que por sua vez segurava a da irmã um pouco mais velha. Todos muito bem vestidos e as crianças estavam de uniforme escolar de alguma escola de primeira classe. Em segundo plano via-se um carro importado e em terceiro, uma bela casa. Os três sorriam abertamente. A legenda da propaganda afirmava: “mãe amorosa, esposa dedicada, profissional de sucesso”. Abaixo, o nome do produto anunciado: um calmante “faixa preta” destes vendidos somente com retenção da receita. É impressão minha ou há algo errado aí? Há algo correto e algo muito errado.
A empresa está correta na sua avaliação. As mulheres entraram com força no mercado de trabalho. Gerenciam empresas, desempenham praticamente todas as funções que um homem também desempenha, mas continuaram acumulando outras, como a administração prioritária da casa e a maior carga de responsabilidade no cuidado e educação dos filhos. Pior, mesmo trabalhando sua renda é inferior, o IBGE (2008) reporta que as mulheres ganham em média 30% menos do que os homens, mesmo em funções iguais. Com “jornada tripla” e pouco reconhecimento, só se aguenta a base de calmantes.
O errado é exatamente isso. Tantas funções, tanto peso, tanta ansiedade não constituem elementos de uma vida de qualidade, com equilíbrio. Claro que o problema da ansiedade não é exclusivo das mulheres. Ao contrário, ansiedade aguda hoje é uma “epidemia”, mas a este é outro tema. O que importa aqui é a reflexão sobre a situação da específica da mulher com seus múltiplos papéis.
Durante milhares de anos o domínio masculino se impôs principalmente através do poder econômico, do fato do homem deter a renda e/ou a propriedade. Agora isto se perde na medida em que as mulheres assumem o trabalho assalariado e os empreendimentos. No entanto as estruturas sociais permanecem nos nossos hábitos. Continuamos a esperar, por exemplo, que a administração da casa seja feita principalmente pelas esposas. A mesma coisa em relação as crianças, que continuam a ser vistas como uma responsabilidade basicamente feminina.
Do ponto de vista das relações pessoais, também mantemos antigas formas de comportamento. A agressão às mulheres ainda é extremamente comum, bem como a discriminação profissional, da qual os salários menores são um exemplo. Ou seja, muda a situação material, mas não a social, ou pelo menos não muda na mesma proporção.
Um leitor masculino pode pensar, ao ler este artigo, que o prejuízo é principalmente das mulheres. Errado! O prejuízo é de todos nós. Um casal que vivencie a sobrecarga feminina está sujeito a tensões, conflitos e desgastes de todos os tipos. Os filhos, por sua vez, sofrem com isso. Ou seja, não há prejuízo maior ou menor. Há aquela que sofre primariamente (a mulher) e os que sofrem secundariamente (todos os outros).
Uma leitora que esteja acompanhando o que escrevo pode, então, pensar que a mudança principal de comportamento deve vir do homem. Errado de novo! Ocorre que o machismo, que ainda desvaloriza a mulher, que não remunera o seu trabalho da mesma forma que o trabalho masculino, que mantém uma carga maior de responsabilidades para o sexo “frágil”, é um fenômeno muito mais forte e sutil do que imaginamos. Após tantos anos de dominação machista, as mulheres incorporaram o mesmo código de valores. Ou seja, são tão ou mais (em alguns casos) machistas do que os homens.
O sociólogo Anthony Giddens, afirma que qualquer casal que se una hoje em dia, tem pela frente o desafio de reinventar a união, reorganizar a vida e dividir as tarefas em outros modelos que não aquele da sociedade machista e patriarcal. Isso significa repensar tudo, inclusive a relação com os filhos e com a casa. Concordo plenamente com esta observação.
Porém não existe uma fórmula pronta para tal “reinvenção”. Trata-se de um processo que envolve a autorreflexão e o diálogo permanente. Trata-se de homens e mulheres buscando em si mesmos os comportamentos machistas e a sua superação.
Amanhã é o Dia Internacional da Mulher. Ao invés de prestar e/ou receber homenagens tolas, que tal refletirmos um pouco a respeito do machismo que existe em nós mesmos? Este é o começo de uma nova família, construída com respeito, dignidade e qualidade de vida para todos. Difícil? Fácil não é. Fácil é tomar calmante. A industria farmacêutica agradece.
(Este artigo foi publicado originalmente no dia 07 de março de 2012 no Jornal de Piracicaba)
Edu Pedrasse
22 de abril de 2012
Parabéns meu caro Luiz!
Bem vindo à Blogosfera. Espero que esse espaço seja um entreposto para prolíficos debates.
Sem censura e com boa argumentação.
Grande Abraço
blogdoamstalden
28 de abril de 2012
Grande Eduardo Pedrasse. Se não fosse por você e seus conhecimentos técnicos eu não teria um Blog. Muito obrigado meu Amigo. Espero que tenha apreciado as postagens. Só para você ter uma idéia, pelas contas do navegador em tão pouco tempo temos setenta e cinco acessos por dia e em oito países diferentes! Estou muito feliz e espero que cresça o trabalho que, sem sua ajuda, não existiria.
Marina Machado
8 de maio de 2012
Luis, eu acredito que a sociedade perdeu a noção do que é trabalho. Todos precisamos trabalhar, todos precisamos educar os filhos, todos precisamos viver, conviver. O erro, na minha opinião é a sobrecarga que homens e mulheres estão se permitindo em relação a vida profissional. Todo mundo se mata em um dia de 24h. O emprego virou a vida das pessoas. Primeiro os problemas do trabalho, depois vem a família, a saúde, o bem-estar em geral. Todos querem que tudo seja resolvido “pra ontem”. Não dá! É demais. Pra que? O amanhã está logo ali.
Eu acredito que é necessário um freio. Eu adotei o lema: “Tudo o que eu não puder fazer hoje, eu faço amanhã”. Mas ainda corro com horário da escola, almoço, lição de casa, lanche, natação, banho, hora de ir pra cama. Cuido da parte administrativa da minha escola online, da casa, faço compras, verifico os gastos, coloco comida e água pro cachorro, organizo gavetas e ainda tenho tempo pra ir ao parquinho, ler um livro, blogs e acabo de me aventurar em manualidades. Graças a Deus, ainda não precisei de um “tarja preta”. Basta se permitir um tempo.
blogdoamstalden
8 de maio de 2012
No passado, no trabalho agricola, o ritmo era definido pelas estações do ano, pelo clima, pelo ciclo de noite e dia. A indústria veio quebrar isso. Despreendeu o trabalho humano do ritmo da natureza. Ok, ganhamos muito, mas perdemos também. E uma das coisas que perdemos é nossa qualidade de vida. A aceleração das urgências e necessidades que você cita (tudo para ontem, 24 hrs de trabalho etc) é o ritmo da máquina determinando o ritmo do nosso trabalho e da nossa existência. Pior é que acabamos por acreditar que isso é o sucesso. A atividade febril serve para consumir também febrilmente os produtos superfluos que você mencionou no seu comentário do artigo “O Banho do Leonardo…” Agora, consumir o quê, para quê e por quê? A idéia da felicidade moderna é determinada (pelo marketing e pela indústria) em cima do consumo. Mas a própria idéia do consumo visa a insatisfação. Se você estiver plenamente feliz com o que comprou, não terá necessidade de comprar algo novo ou diferente. Você percebe a contradição? Precisamos comprar para “sermos felizes” mas as compras são pensadas para nos tornar insatisfeitos… Não há saída nesse reciocínio, não?
Adorei seus comentários. Deu-me vontade e idéias para outros artigos. Obrigado por eles, pela sua atenção ao blog e considere a proposta de escrever artigos mesmo. Qualquer idéia, use meu e-mail do facebook e vamos planejando. Abração.
Tainá Moura
23 de maio de 2012
Oi Professor,
Essa semana descobri o seu blog. Achei a ideia ótima!! Estou divulgando!!
Em relação ao artigo, concordo que as mulheres são machistas!
O problema é que nós temos a péssima mania de nos acomodarmos com a situação.
Em casa funciona exatamente assim, minha mãe faz tudo e meu pai nada…nem lavar o próprio prato. E minha mãe me educou como igual. Um dia perguntei:
– Por que eu tenho que lavar a louça e o meu irmão não?
E ela respondeu:
– Porque ele é homem e não sabe.
Resolvi não responder e pensei: Só porque ele é homem?
Eu não nasci sabendo, e se eu aprendi, ele também pode.
Obviamente que não fiquei contente com a situação. E já que minha mãe não ia ensinar, eu resolvi fazer minha parte, o ensinei a lavar a louça e pelo menos arrumar a própria cama e ainda falei que ele tinha que fazer porque era obrigação contribuir com as tarefas da casa, pelo menos lavar a louça que ele sujou.
Abraços.
blogdoamstalden
23 de maio de 2012
É isso aí, Tainá. Vc. resumiu a situação muito bem. sua mãe, talvez de forma inconsciente, perpetuou o machismo e você está tratando de mudar a situação. Seus filhos serão educados de forma diferente e daí o progresso. Adorei o comentário. Faça-os sempre. Abração e Obrigado.
Antonio Camarda
21 de agosto de 2012
Dr. Luiz Fernando Amstaldem tenho lido seus artigos no jornal de piracicaba com muita admiração… . Tenho acompanhado o andar da carruagem da política brasileira a muitos anos, e acumulado decepções pelo desperdício, descaso, omissão quanto ao aproveitamento do potencial deste pais, dominado pela corrupção e má gestão, onde a meritocracia foi substituida pela indicação irresponsável de figurões que mal sabem quais são suas atribuições… A midia mostra com certa ironia ou bairrismo que somos os maiores em quase tudo desde bens primários….até o maracanã, que é ( não sera apos reforma) o maior do mundo….já sabemos que o brasil é o maior ou um dos maiores produtores de soja, café, cana de açucar e seus derivados, ferro manganês, pedras preciosas e tantos outros…e agora vem a noticia do que vinha sendo mantido em segredo ou seja : o Nióbio, metal nobre e raro, conforme cópia de mensagem que postei no facebbok: Antonio Camarda
SE FOR VERDADE, E CREIO QUE SEJA É MAIS UMA VERGONHOSA CORRUPÇÃO, MAIOR QUE O MENSALÃO. UMA PERGUNTA TEM CIRCULADO PELA INTERNET : CADÊ A “OAB”, O “MFP”, O CONGRESSO NACIONAL? A INFORMAÇÃO QUE CIRCULA É DE QUE A FUNAI E INCRA ESTARIAM ENVOLVIDO, E NÃO É PARA DUVIDAR POIS A FICHA DESTES ORGÃOS É MAIS SUJA QUE PAU DE GALINHEIRO.
Nióbio, o metal que só o Brasil fornece ao mundo. Uma riqueza que o povo brasileiro desconhece, e tu
http://www.tribunadaimprensa.com.br
Recebemos do comentarista Mário Assis Causanilhas este artigo sobre o nióbio, sem a menção do órgão de comunicação, site ou blog de onde foi extraído. Por sua importância, decidimos postá-lo aqui na Tribuna da Imprensa, para conhecimento de nossos comentaristas e leitores. (Carlos Newton, editor do…
Continuando: mas em contrapartida somos os ultimos listados pela ONU e outros em IDH, qualidade de vida, educação, saúde , burocracia etc. .Bem , gosto de postar mensagens ou artigos no facebook sobre diversos assuntos inclusive política . Meu sonho é um dia publicar algo sobre política em algum jornal, mas tenho receio de ser processado, pois “boto” o dedo na ferida doa a quem doer , sem ofender ninguem, sem palavras de baixo calão, mas expondo a verdade nua e crua para tentar esclarecer os brasileiros, sobre o que se passa…
Mais uma vez fomos beneficiados pela crise de outros.. mas éramos o 1 º dos Brics , agora somos o ultimo, estamos deixando o bonde da história passar sem aproveitar nada das oportunidades, veja a distancia da china e agora a india esta trilhando o caminho óbvio que é educação… . Bem desculpe já digitei um romance, mas falta um comentário sobre nossa querida Piracicaba.:è revoltante como os eleitores foram recebidos pela máfia de vereadores! É bom lembrar que quem esta no poder tanto político como em sindicatos, luta com unhas garras e dentes para manter a mordomia, não temos o habito de lembrar fatos negativos já ocorridos, somente os novos que são muitos. Ma s já hove até caso de assassinato de sindicalista em nossa cidade por disputa de poder! Esta na hora de nós eleitores colocar um basta a tanta ineficiencia, arrogancia, e gastança irresponsável do dinheiro público . Sugiro um corte de 50% em seus soldos, sobre o salario atual. diminuição da verba….e cobrança dura , sobre suas tarefas. Sei que é dificil,eleger gente honesta e competente pois se os ruins estão la, precisamos achar os menos ruins, apesar de que está dificil , pois depois da eleição do Tiririca, grande parte dos eleitores não da nem para conversar, pois não tem a mínima condição, e aparecem com apelidos tentando ganhar votos de quem já esta revoltado com a situção: Dona fulana das coxinhas, Seu fulano do burro etc. Bem , agradeço a oportunidade de ter desabafado um pouco, mas tenho na memória fatos interessante da época da ditadura quando ainda bem jovem, vi muita coisa, inclusive bandeirinhas do brasil, bordadas e lindas, distribuidas e colocadas em todas as maquinas na fabrica e nos escritórios de uma multinacional simbolizando : este é o gigante adormecido que esta despertando! Pena que ainda contunua em sono profundo, protegido pelos 3 poderes que não demonstram nenhuma vontade para que o gigante acorde!!!!
blogdoamstalden
23 de agosto de 2012
Antônio. Antes de mais nada, obrigado por participar do Blog. Não conheço a situação do Nióbio, mas vou pesquisar. Em relação a câmara, eu penso que o problema nem é o valor do benefício, mas o que recebemos em troca. Esta vereança que está aí, para mim, esteve muito abaixo do que eu esperava. Daí não concordar com o aumento.
Em relação a escrever para um jornal, por o dedo na ferida não é crime, desde que não façamos acusações que não possamos provar e nem ofendamos ningúem pessoalmente. Penso ter sido bastante crítico em meus artigos no JP e aqui. Mas não deixei brecha para ser processado. Pense nisso e se quiser, escreva um artigo nestes termos e envie para cá. Podemos analisar e publicar. Abraço e obrigado por comentar.
Antonio Camarda
21 de agosto de 2012
desculpem , errei . A partir do fim na11ª linha onde esta: “parte dos eleitores”, é : parte dos candidatos. Grato.