O Sociólogo e o Prefeito

Posted on 3 de maio de 2012 por

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Responder a uma crítica ou a um questionamento é um direito democrático de todos. Tenho visto, nas páginas dos jornais piracicabanos, várias críticas à atuação da prefeitura e, por sua vez, várias respostas às mesmas. Na maioria das vezes são respostas dadas por secretários ou outros cidadãos envolvidos ou não com o poder público. A minha crítica a nova passarela do rio Piracicaba, no entanto, foi respondida pelo próprio prefeito, o que muito me honrou. Quando um chefe do poder público responde diretamente como o fez, além de exercer seu direito de resposta democrática, está demonstrando respeito por quem o questionou. Agradeço ao prefeito Barjas Negri por tal respeito e digo que a recíproca é verdadeira. Eu lhe tenho o mesmo respeito que o senhor tem por mim.

Também agradeço pelo adjetivo “importante sociólogo” que me atribuiu. Mas mesmo grato, devo dizer que minha importância está no fato de ser um cidadão, como milhões de outros, e não na minha atividade profissional.

Em relação a sua resposta, tenho algumas considerações a fazer. A primeira é de elogio. Parabéns por investir mais na Educação e Saúde do que em Obras. Creio que é isso que se espera dos governos no Brasil, sempre tão pródigos em estradas e tão avaros em preocupações sociais.

Como segunda consideração, devo dizer que realmente sei que o maior gasto é em custeio e pessoal envolvidos nas áreas sociais. Mas creio que gastar bem e bastante neste custeio é fundamental para a qualidade do atendimento. Penso que pagar bem, na verdade o melhor possível, a um professor, um médico e cabe acrescentar, aos policiais civis que trabalham na segurança, são maneiras de garantir a excelência que desejamos em tais serviços. Note também que uma boa remuneração é uma forma de cobrar destes profissionais, o empenho na qualidade. O sociólogo André Gorz, afirma em sua obra “Adeus ao Proletariado” que uma reação dos trabalhadores a salários ruins é devolver um serviço ruim ao empregador. Não afirmo, porque não sei os valores, que pague mal aos profissionais citados, mas sim que deve-se pagar o máximo possível.

E daí vem a terceira consideração: obras são importantes, não há dúvida, mas sua utilidade tem que ser ponderada em relação aos benefícios trazidos ao conjunto da população. De fato precisávamos de pontes novas uma vez que o fluxo de trânsito aumentou. Porém a passarela, pelos motivos que citei no primeiro artigo, não está dando vazão a fluxo, ou pelo menos não a um fluxo de importância. Logo, gastar com ela (e, diga-se de passagem, com as estaias e o elevador panorâmico da nova ponte do Mirante) me parece menos importante do que investir este mesmo dinheiro na melhoria dos vencimentos de médicos, professores, policiais e, de quebra, outros servidores públicos. Eu diria que, quando já tivermos atingido a excelência (reafirmo que a excelência e não a média ou a superioridade da média no Brasil, uma vez que nossos índices são sofríveis), aí talvez possamos gastar com o supérfluo como o elevador ou as estaias decorativas.

Como quarta consideração,  senti falta de sua resposta em relação aos pontos que enumerei. Não há nada sobre a adequação ambiental, econômica, histórica e mesmo social da passarela a que me referi diretamente. Se estas adequações não existem, então realmente o dinheiro gasto nela deveria ser usado para áreas mais relevantes. Sinceramente não vejo a passarela ligando “área gastronômica” ao Engenho. A maioria dos restaurantes está abaixo. Naquela altura da Avenida Beira Rio há bem poucos. Quantos e beneficiam então?

Como última consideração, devo dizer que espero que o senhor continue a dialogar com os cidadãos assim como o fez comigo. Calar, perseguir ou ignorar questionamentos sempre foi prática no Brasil, que por sua vez teve poucos períodos democráticos na sua História. Ao dialogarmos, o senhor e eu estamos contribuindo um pouco para mudar isso.

De minha parte posso lhe garantir que sempre questionarei aquilo com que não concordar, seja em relação a sua administração seja em relação a próxima e seja ela de quem for. Este é um dos meus papéis enquanto sociólogo e professor.

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