A palavra japonesa Zen, vem do chinês, “Chan”, que por sua vez vem do sânscrito, “Dhyan”. O significado de todas é o mesmo: “percepção”. Em poucas palavras, o conceito no contexto do pensamento oriental, significa estar realmente consciente da vida, de sua mente e de seu corpo, coisa que geralmente não fazemos.
Via de regra, e eu não sou exceção, vivemos no futuro, antecipando eventos, projetos, medos e desejos ou vivemos no passado, aprisionados a lembranças, saudades, angústias etc. O Zen procura nos ensinar que a vida só acontece agora, no presente. E se nossa mente não percebe isso, não vivemos de verdade. Ainda segundo o conceito, ser consciente é estar desperto para o milagre da vida. Para o prazer das pequenas coisas e o fascínio da experiência de existir. Dizem os praticantes que quem desperta sua mente e percebe a vida, é tomado de uma grande alegria de existir.
O nosso mundo capitalista, no entanto, torna tudo mercadoria. No mercado, Zen virou qualquer coisa, desde arroz integral até incenso com cheiro de frutas. Tem até gente que acredita que “estar Zen” é estar drogado ou bêbado. E tudo isso é mercadoria. Incenso, arroz, drogas, álcool, livros de auto ajuda, gurus prometendo milagres, tudo está a venda. Uma amiga já falecida dizia, brincando, que era tanta bobagem posta a venda que ficava “Zen-sentido”.
Não me surpreendo. Quem conhece os autores das ciências sociais que analisam o capitalismo sabe que este fenômeno é característico. Marx já afirmava isso no século XIX e hoje, autores como Bauman e Harvey, fazem análises profundas da “mercadificação” (com o perdão do neologismo) do mundo e da vida.
Recentemente vi uma nova forma de transformar o Zen em mercadoria. Um panfleto de um empreendimento imobiliário anunciava que, em suas dependências, haveria um “espaço Zen”. Olhando a planta, via-se que o dito espaço era uma pequena área com um jardim e algumas pedras, imitando o padrão oriental com alguns confortos ocidentais (espreguiçadeiras). A ideia é clara: no prédio você dispõe de um lugar para ficar em paz, feliz, ou seja lá o que eles entendam pelo conceito.
Está tudo bem. Não há nada contra alguém ter em seu prédio uma área legal, gostosa de ficar. Mas isso não é Zen, não deve ser vendida como sendo. O Zen diz que, se estamos com a mente perturbada, tomada pela ansiedade pela preocupação e pela dor, vamos levar isso para onde formos. Assim de nada serve o espaço bonito se você está com um inferno dentro de si. Se estiver, vai levar este inferno para onde for. Se, ao contrário, estiver em paz, sereno e consciente da vida no sentido da proposta filosófica, então pode levar o paraíso para onde for. Em outras palavras, você pode viver feliz num lugar pequeno e feio, e pode viver muito infeliz num palácio. O que importa é como sua mente está.
Pode-se argumentar que tanto faz o nome que a incorporadora do prédio quer dar ao lugar. Bem, está certo, não há lei de direitos autorais sobre o conceito de Zen, logo eles podem chamar como quiserem. O que me entristece porém é que esta banalização do termo e a sua transformação em um item de consumo o esvazia de sentido. Tornado simplesmente um espaço imobiliário, o conceito se torna superficial. E acostumados a tal superficialidade, acabamos por não nos interessarmos por conhecer o conceito e o método de fato. Perde-se assim a oportunidade de conhecer um sistema fantástico de bem viver.
Não compre nada “Zen”, porque isso não existe. Aprenda e tente viver o Zen (posso indicar muita bibliografia boa sobre isso), mas não compre. Se o fizer, estará comprando apenas uma imagem vazia.
Posted on 6 de maio de 2012 por blogdoamstalden
0