Quando o professor Amstalden perguntou se eu gostaria de escrever para este blog, a primeira resposta que veio à minha cabeça foi um SIM! Mas logo em seguida veio uma pergunta: “o que eu vou escrever para se encaixar no conteúdo?”
Notei que apesar de recente, o blog aborda os mais diversos assuntos da atualidade que apesar de serem importantes, muitas vezes passam despercebidos por grande parcela da população. Percebi que aqui é também um espaço aberto para reflexões e questionamentos dos mais variados temas.
Ao analisar tudo isso passaram muitas ideias, muitos assuntos que eu poderia abordar, e todos se relacionavam a um: A CIÊNCIA JOVEM! Mas será que todos sabem o que é a ciência jovem? Por que este termo é tão mal divulgado? Por que muitos professores universitários nunca ouviram falar deste movimento? Será que é importante? É um movimento nacional?
Capítulo 1 – O que é essa tal de “ciência jovem”?
Antes de entrarmos direto no tema, convido a todos a pensarem no nosso sistema de educação, tanto o público como o privado.
No Brasil, e principalmente nas regiões Sul e Sudeste, professores, diretores e escolas, em sua grande maioria, não se preocupam com a formação da cultura cientifica em seu ambiente de trabalho, ficam apenas presos aos vestibulares, aos exames estaduais e federais de avaliação do ensino e atualmente ao ENEM, formando assim alunos que ser tornam “máquinas de resolver exercícios”. Não conseguem nem despertar o senso crítico em seus estudantes, deixando essa função para os professores do nível superior que na maioria das vezes não consegue fazê-lo.
Mas o por que pensar em tudo isso?
Porque é preciso repensar a maneira com que estamos educando os jovens, forçá-los a pensar e não apenas decorar, buscar despertar em cada um a curiosidade de investigar e procurar por soluções para os problemas de nosso cotidiano. E tudo isso é possível com o movimento crescente no Brasil, mas ainda muito pouco divulgado que é a ciência jovem, que teve seu ápice nos últimos 10 anos, principalmente devido a criação da FEBRACE (Feira Brasileira de Ciência e Engenharia).
O movimento que aqui eu chamo de “ciência jovem”, é a realização de projetos científicos pelos alunos de ensino fundamental e médio. Projetos científicos de qualidade, utilizando as regras estabelecidas na ABNT e com todo o formato da metodologia científica.
A ciência jovem incentiva esses estudantes a desenvolverem suas pesquisas, buscarem soluções cada vez mais criativas. Os jovens cientistas compreendem as etapas da metodologia, buscam rigor e exatidão nos seus resultados, desenvolvem o seu senso crítico e durante os eventos conseguem ter contato com os principais vários experts em sua determinada área.
Se quiserem saber mais sobre o mundo da ciência jovem, comentem no blog, e quem sabe temos um capítulo dois para continuar explicando e refletindo aonde o Brasil está neste mundo dos jovens cientistas!
Igor Ogashawara
Representante da International Conference of Young Scientists no Brasil
Mestrando em Sensoriamento Remoto no INPE
(Igor Ogashawara foi um dos meus melhores alunos na UNESP de Rio Claro, quando ministrei lá alguns cursos como professor conferencista em 2009 e 2010. Assim como a outros alunos e ex alunos, eu o convidei para escrever enventualmente neste Blog. O tema que ele trabalha, a necessidade de desenvolver uma atividade ciêntífica entre os jovens estudantes de ensino médio e de universidades é, ao meu ver, fundamental nesta época de mediocridade acadêmica. Espero que todos aproveitem, pensem, duvidem e existam… Luis Fernando)
Renato Galvão
8 de maio de 2012
Diante da importância deste tema, gostaria de colocar outro tópico relevante, a disseminação da criatividade e do empreendedorismo nas escolas. Sou estudante de adm e num universo de aproximadamente 30 matérias só 1 foi dedicada a este. Isto revela o quanto o assunto é negligenciado pelas autoridades responsáveis pela educação no país. É como o post descreveu, apenas conteúdos repetitivos e voltados para resultados satisfatórios em análises futuras do nível de ensino no Brasil.
É uma pena, pois, as nações que mais se desenvolvem se apoiam na criatividade e em atitudes empreendedoras, cito a Hyundai, empresa sul coreana de destaque mundial que começa suas atividades em nossa cidade. A Coréia do Sul conseguiu validar o axioma: “Os investimentos em educação geram os melhores dividendos”
O mundo esta de olho no Brasil.Quando será que vamos acordar?
blogdoamstalden
8 de maio de 2012
Renato, seu comentário levanta muitos outros, todos muito pertinentes. Porém, farei um só e deixo os demais com o autor. Sua indagação: “Quando será que vamos acordar”, me leva a crei que, pelo menos você, já está acordado… A questão é o que fazer agora. Eu não sei onde você estuda, se é uma instituição pública ou particular. Mas em ambas existem meios de você e de seus colegas se mobilizarem. O Brasil “acorda” na medida em que nós “acordamos” e participamos, demandamos. O que eu vejo hoje, nos meus alunos, é uma passividade muito grande. Uma indiferença pelas coisas coletivas, até se o coletivo no caso, é o programa de sua educação. O MEC exige algo? Ok, mas os alunos podem, mediante sua própria experiência, demandar mais conteúdos ou diferentes abordagens. Se isso passa a acontecer, haverá reação por parte da instituição de ensino e do Estado. O que você acha disso?
Igor Ogashawara
8 de maio de 2012
Prezado Renato,
Você começa o seu comentário sobre inserir um novo tema: “a disseminação da criatividade e do empreendedorismo nas escolas”, porém venho dizer que este movimento que é a ciência jovem visa realmente isso, forçar os alunos a testarem sua criatividade para a resolução do problema, e muitas vezes as idéias que surgem nestes eventos de ciência jovem acaba levando ao empreendedorismo uma vez que muitos conseguem patentear suas descobertas. Como é um estudante universitário, deve estar preocupado com a sua formação universitária, e cobrar por disciplinas mais práticas, que te dê noção do que o profissional irá fazer é muito bom. Eu também sou a favor dessa ideia, porém na minha opinião nunca vamos começar a construir uma casa pelo telhado. Para termos uma mudança no ensino universitário é preciso que os alunos cheguem mais preparados para a vida universitária, hoje vejo muitos dos ingressantes apenas se preocuparem em tirar nota na prova para os pais ficarem contentes, e acho isso errado. Uma vez que você entra em uma universidade e conhece os 3 pilares que a sustenta, eu sou da opinião que você deve conhecer os três pilares, a pesquisa, o ensino e a extensão. Mas para isso você tem que estar preparado, principalmente para a pesquisa, e é por isso que deixei a pergunta: “por que os professores universitários não conhecem este movimento?”. Infelizmente aqueles que tem o contato com a ciência jovem, tiveram que lugar por si só durante seu Ensino Médio, e entrando na Universidade muitas vezes os professores mais conservadores não aceitam que um aluno ingressante tenha tal experiência de vida, e voltamos a ter que batalhar novamente sozinhos. Gostei de quando citou o exemplo da Coréia do Sul que investiu ma educação, e hoje está colhendo os frutos que semeou, mas lembrando que este investimento foi na educação de base, hoje na Coréia do Sul temos uma grande competição entre os estudantes para participar nas Olimpíadas de Ciências, para tanto que foi estabelecido que uma aluno pode participar de apenas uma Olimpíada do Conhecimento na vida, ao vermos o Brasil, o aluno que fez várias propagandas pois passou em Harvard, participou de várias competições internacionais. Eu mesmo defendi o Brasil em 4 oportunidades que tive, e por que isso acontece? Pois os jovens no Brasil não querem estudar. Acredito que a resposta para o problema que você levantou, não está em uma mudança imediata no ensino universitário, mas temos primeiro que fortalecer nossa educação de base, para que no futuro tenhamos muitos estudantes como você que questiona esta metodologia de ensino que temos no Brasil hoje, pois infelizmente ainda são poucos aqueles que questionam ou fazem algo para mudar, com mais pessoas pensando e criticando acredito que fique mais fácil mudar essa posição.
Raul Sardinha
8 de maio de 2012
Primeiramente, parabenizo vc Luis pelo blog e conteudo.
Em seguida, gostaria de ponderar alguns pontos: esse movimento apresentado pelo autor, de estimular o pensamento, a resolução de problemas, e a criatividade, são essenciais, como um meio pelo qual o professor possa provocar o aluno, mobiliza-lo a aprender, e construir uma ideia, um conceito,um saber, efetiviando um processo coerente de ensino-aprendizagem.
Entretanto, o processo educacional não pode se resumir simplismente a isso. A formação de um aluno vai alem da capacidade na qual ele tem para resolver problemas; passa pela sua formação de cidadão, de ser, humano e social, e não podemos perder de nossa leitura da realidade essa condição, pois se não estaremos formando cada vez mais profissionais criativos, mas presos, encouraçados em seus próprios desejos, consumos, ou seja, o aumento do ego.
Tal movimento, da ciência jovem, tem como em todos os processos e programas várias visões: a da empresa, do Estado, da ciência, da produtividade (mesquinha) academica, da sociedade, e por isso é necessário esse esforço para procurar compreender a realidade.
Obrigado pelas provocações.
blogdoamstalden
8 de maio de 2012
Valeu Raul. Muito Obrigado. Está aberto a participações de todos. Pensa no caso.
Igor Ogashawara
8 de maio de 2012
Prezado Raul,
Fico muito feliz que você venha despertar este ponto quanto ao lado social da ciência jovem, em apenas um post é muito difícil mostrar o que ela representa e que ela não é apenas uma produção acadêmica do saber e do conhecimento. Lógico que ela não é perfeita, nada é, e sim muitos jovens vêem os eventos de ciência jovem como uma verdadeira competição, mas ela não deixa de focar em questões relacionadas a sua formação como ser humano.
O mais interessante de participar deste movimento é a quando temos eventos e encontramos pessoas de todo o país, com suas dificuldades, suas culturas, suas histórias de vidas. É desconhecido, mas a região onde a ciência jovem mais se desenvolve é no Nordeste, nunca foi feito um estudo de por que isso ocorre, mas lá o movimento se expande, é forte, e agrega todas as camadas sociais. Pode parecer que eu estou exagerando, mas vou citar um exemplo da cidade de Imperatriz, no estado do Maranhão. Imperatriz é uma cidade que as pessoas da capital do estado dizem que é um outro mundo, onde as pessoas carregam suas “peixeiras” e são assassinados por índios. Mas é justamente nesta cidade que a ciência jovem tem explodido. Na última FEBRACE Imperatriz pôs na final, mais estudantes que todos os estados do Nordeste. Mas o foco aqui é ver quais os impactos que isto trás para a cidade, para o ser humano para o cidadão. Hoje fazer pesquisas virou moda em Imperatriz, crianças do ensino fundamental não veem a hora de começarem a fazer projetos, e os projetos em sua grande maioria tentam resolver problemas sociais locais e para isso, os alunos precisam buscar e ver o lado cidadão deles, vou fazer algo para mudar a minha cidade, vou fazer algo para ajudar a nossa população… é difícil tentar expor com palavras algo que não podemos ver, por isso convido a todos a irem visitar os grandes evento que temos no país, FEBRACE, MOSTRATEC, FECITEC, MOCINN, FENECIT, EXCETEC… entre tantas outras feiras nacionais, reginais, locais… somente vivenciando este momento em que ouvimos crianças de 13 anos se preocuparem com os cães abandonados, ou com o tratamento dos idosos em asilos, a questão da bebida com os jovens… todos buscando solucionar problemas simples da sociedade em que vivem. E que muitas vezes conseguem mudar toda uma cidade, como o projeto fabricando papel através de fibras naturais, que mudou a consciência da cidade de Bela Cruz, Ceará, ganhando até uma menção da UNESCO por realizar uma simples atividade de reciclagem, mas conseguir mudar toda uma visão, toda a percepção ambiental da população isso para duas meninas de 16 anos, que verificaram um problema local delas, e com isso fizeram como cidadãs o esforço, a dedicação de tentar construir a sua sociedade.
Portanto, apesar de existir aqueles que visam apenas competir, há também na ciência jovem aqueles que visam construir um mundo melhor, uma sociedade mais justa, mais igual… mas são fatos que apenas vivenciando para observarmos.