Antes de iniciar este post gostaria de parabenizar a delegação brasileira na Intel ISEF pela conquista de 9 prêmios, e ser o país mais premiado da América Latina. Parabéns a todos os 21 projetos brasileiros, que defenderam as cores de nossa bandeira no que é considerado o maior evento de ciência jovem do mundo.
Após a publicação do primeiro post , recebi alguns comentários de amigos deste movimento que é a ciência jovem, e percebi que realmente falta para nós um pouco dessa iniciativa de divulgar, refletir, pensar e até mesmo nivelar a ciência jovem no Brasil.
Mas antes de pensar em expandir os nossos próprios horizontes, temos que nos fazer ouvidos! Temos que mostrar nossa importância, nosso valor para a sociedade e por que não dizer para o país? Um país onde a educação e a ciência não tem vez, um país que gasta muito dinheiro para sediar uma Olimpíada e a Copa do Mundo e para isso corta a verba do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
E todos nós, brasileiros, devemos pensar um pouco sobre como é a educação que queremos. Em um dos comentários do meu primeiro post, foi descrito o caso da Coréia do Sul que investiu na educação e hoje tem colhido os frutos, para não ficar repetitivo e mostrar um ponto de vista que poucos sabem vou contar a história da Indonésia, um país bem mais pobre que o Brasil, mas que vem crescendo bastante.
Em 2004, o governo da Indonésia criou a International Junior Sciences Olympiad”, uma competição internacional em que o aluno realiza provas teóricas e práticas de física, química, biologia e matemática. Esta ideia inovadora tinha como intenção incentivar os jovens estudantes a se esforçarem mais nos estudos, e teve total apoio do presidente e todo o ministério da educação. Em 2006 foi criado o Instituto Surya, do físico Yohanes Surya, que visa por os jovens da Indonésia em diversas competições científicas.
Atualmente as participações indonesianas nessas competições de ciências internacionais estão cada vez melhores, este ano durante a International Conference of Young Scientists o time levou 11 das 12 premiações que disputaram, mostrando como eles estão evoluindo graças à esse grande incentivo iniciado pelo governo. Em uma entrevista do Professor Yohanes Surya, lembro que ele disse que o plano da Indonésia é ter um prêmio Nobel até 2020, e pelo andar da carruagem eu não duvido dessas expectativas. Hoje, a maioria dos alunos que participaram dessas competições estão estudando nos Estados Unidos, Alemanha, Austrália, Japão, China… E nós?
Ao comparar as participações do Brasil e da Indonésia na ICYS temos: os dois foram os primeiros países fora da Europa a participar com um time no ano de 2005, o Brasil foi o primeiro país não europeu a ganhar uma medalha de ouro na competição (2007) e hoje? Indonésia leva 11 prêmios, e o Brasil quase não consegue mandar um time de 3 estudantes, e trás uma prêmio especial para casa.
Será que sempre teremos que ser o “gigante adormecido”? Àquele que tem potencial, porém prefere deixar ele guardado em seu interior? Quando iremos despertar? E deixando essas perguntas no ar que começo o:
Capítulo 2 – Quem faz a ciência jovem?
O principal objetivo destes posts é despertar o interesse da população pelo assunto e incentivar cada vez mais pessoas a participar da ciência jovem, porém quando chegamos para pedir ajuda para algum professor, descobrimos que ele não está nem aí para fazer pesquisas na escola, afinal, ele ganha para dar aula. E daí surge a pergunta… como participar da ciência jovem? Será que é o papel da escola ir atrás? Será que a escola dá algum suporte? E o professor?
Atualmente existem poucas escolas no Brasil que dão todo o suporte para que o aluno desenvolva suas pesquisas, porém para pessoas que desconhecem o mundo da ciência jovem, posso informar que há escolas que possuem vários grupos de pesquisa cada um voltado para uma área diferente do conhecimento. Porém por onde começar a fazer a ciência jovem?
Seguindo uma linha diferente do pensamento brasileiro, e sim um raciocínio mais voltado para o pensamento internacional, a ciência jovem parte do próprio aluno. O aluno deve ir atrás de um professor na escola, de um professor em uma universidade, o aluno deve ser independente, afinal, correr atrás é também um aprendizado de vida, tanto acadêmica como pessoal.
No ambiente de ciência jovem no Brasil vemos que infelizmente somos muito mais dependentes dos professores da escola, que passam a ser mais que professores, mas orientadores, tutores de cada um de seus alunos que já assumem ser seus filhos. Alguns passam mais tempo juntos que próximos da própria família, mas este fato não é muito valorizado quando saímos do Brasil.
Todo ano há uma grande discussão sobre o papel dos orientadores de ciência jovem, pois em alguns eventos o papel deles não é considerado, não sobem ao palco nas premiações, não tem importância nos eventos, pois eles não devem fazer tanta diferença para o trabalho do aluno. Essa visão internacional de orientação pode desencorajar muitos professores de participar mais ativamente, mas em um pensamento mais internacional, o papel deles é guiar e auxiliar os alunos em questões burocráticas, tirar algumas dúvidas, mas gerar muitas outras. Este é o papel do orientador. Para o aluno cabe o mais difícil, deve correr atrás, o aluno deve buscar os meios de conseguir os dados, de fazer seus experimentos, e chegar aos seus resultados por conta própria.
Posso ser crucificado ao escrever isso, principalmente por alguns colegas orientadores que dão o sangue por seus orientados, mas muitas vezes os orientadores acabam mimando demais seus alunos. A meu ver, a ciência jovem deve ser feita a partir dos alunos, para os alunos, e não de um projeto que o professor tem que vai passando de mão em mão, o projeto não é do professor, e sim do aluno.
Posso estar sendo cético agora, e alguns pensando: “mas sem os orientadores não iria ter ciência jovem no Brasil, pois sem os professores para incentivar ninguém vai fazer”. E este é realmente o ponto que eu quero chegar, por que os professores tem que incentivar? O certo seria os alunos chegarem com tantas ideias que os professores não teriam tempo para se dedicar tanto para um determinado grupo, e assim iriam fazer o papel de orientador, que é orientar, dar uma direção para que os alunos procurem a resposta. E por que isso não ocorre? Por que no Brasil temos sempre que começar a construir um prédio por cima?
E depois do exposto, deixo a pergunta. Quem é que deve fazer a ciência jovem? Os alunos? Os professores? Os diretores da escola? Os professores universitários? Ou todo o conjunto cada um com seu papel?
Deixem seus comentários e aqueçam este debate!
Igor Ogashawara
Mestrando em Sensoriamento Remoto pelo INPE
Representante da ICYS no Brasil
julho 9th, 2013 → 11:49
[…] ciência jovem e destaquei a sua importância para a reforma educacional no país. O segundo texto (https://blogdoamstalden.com/2012/05/21/ciencia-jovem-ii/) é bem interessante devido ao atual momento que vivemos no Brasil. Ele se inicia questionando o […]