Comecei a escrever para o Jornal de Piracicaba em março passado. Em abril iniciei as atividades do Blog. No entanto minha colaboração com a imprensa é bem mais antiga, tanto no JP quanto em outros jornais da região, além de rádio e TV. O fato de ter iniciado a colaboração mais frequente num ano eleitoral, fez com que eu descobrisse que sou “candidato”.
Não sei por qual partido (não sou filiado a nenhum) e, para ser franco, nem para que cargo. Ouvi dizer que é para vereador, mas há quem diga que é para as eleições de 2014, quando então serei candidato a deputado estadual. De qualquer modo, esta não é minha “primeira candidatura”. Quando estive muito envolvido numa campanha para que um assassino de mulheres fosse punido, também ouvi falar de minhas próprias pretensões à carreira política. É sempre assim, candidatos vão em busca da visibilidade em ano eleitoral. Daí quando alguém se expõe, principalmente pela mídia, costuma ser confundido com candidatos.
Enfim, se você de alguma maneira pensa em votar em mim, devo informar-lhe que não sou candidato a nenhum cargo eletivo. Não que eu despreze a política. Muito pelo contrário, acho até que participamos menos do que deveríamos. Acontece que o que eu não consigo fazer, e daí não ser candidato a nada, são algumas coisas que acabam por ser parte do quotidiano de um candidato.
“Puxar saco”, por exemplo, eu não consigo. Procuro tratar as pessoas bem, ser educado etc. Nem sempre consigo, às vezes porque também tenho “dias ruins”, às vezes porque erro e outras tantas porque tem gente que não sabe ser gentil, então acaba por não merecer o mesmo. Se uma pessoa tem dinheiro ou um cargo de poder, isso não a faz nada especial para mim. Se ela tem caráter, sabedoria, humildade, honestidade, honra, então sim, passa a ser especial. Porém não sou do tipo que aperta mãos e diz palavras doces, baseado no poder financeiro, status social ou cargo político de alguém. Também não saio por aí bajulando qualquer um que encontre, seja conhecido ou não. Aliás, tem gente que conheço que faço questão de não cumprimentar. Antipático? Talvez, mas não hipócrita. Logo acho que numa eleição, eu não teria muito apoio dos mais poderosos e perderia outros tantos votos por não bancar o populista.
Outra coisa que não consigo é fazer barganhas. Eu não daria cargos a ninguém em troca de apoio. Daria por competência, por acreditar que uma pessoa pode ser eficiente no cargo. Mas não em troca de tantas centenas de votos. Não nomearia a parentes também. Aliás, como costumamos saber mais de nossa família do que de outros, confesso que a uns tantos eu até demitiria se fosse o caso. Foram-se então mais umas centenas ou talvez milhares de votos por não nomear incompetentes.
E alianças? Esta é outra coisa em que eu teria muita dificuldade. Se eu estivesse em um partido que foi contra a ditadura, por exemplo, não teria “estômago” para compor com velhas figuras políticas que apoiaram os militares. Jamais conseguiria ficar ao lado de Paulo Maluf, Fernando Collor ou José Sarney. Tampouco comporia com um partido que foi, no passado, a antiga ARENA, fantoche da ditadura. Sim, eu sei que não é possível governar sem apoio, mas de qualquer modo, eu não conseguiria. Prefiro ainda trocar de calçada quando encontro estes antigos mandatários. Perdi mais votos, não?
Por último (a fim de não alongar o artigo), eu não conseguiria fazer contratos com grandes empresas ou negociar obras que beneficiassem mais a grupos econômicos específicos do que a grande maioria da população. Logo, não teria muitas doações de campanha e não conseguiria dinheiro para contratar profissionais de propaganda a fim de me “moldar” para ser eleito. E falando em população, eu também não distribuiria jogos de camisa de futebol, caronas em carros públicos, verbas para churrasco. Tampouco pagaria contas atrasadas de luz e água a quem viesse me pedir. Pronto! Perdi a eleição de vez. Não faria o jogo do clientelismo com os mais pobres.
Agora, pense bem. Se eu fizesse tudo isso você votaria em mim? Se votaria, paciência, vamos demorar um pouco mais para ver as coisas melhorarem. Se não votaria, então porque votar em quem faz?
Silvia Gobbo
31 de maio de 2012
Muito bom Luis Fernando Ferraz Amstalden… esta coisa pega… Minha mãe passou um tempão também sendo uma “candidata” sem filiação… até teve alguns convites sérios… mas ela também é do seu time…. hahaha… Sim, o candidato tem que fazer alianças, isto é, digamos, uma “qualidade” no meio… mas o problema é “o que” e “o quanto” ele compromete, e se compromete neste ponto… Mas ficar do lado de cá, discutindo a questão, fazendo as pessoas pensarem também é ativismo político.
blogdoamstalden
4 de junho de 2012
Olá Silvia. Concordo com o fato de que governar é algo que demanda alianças. Mas vc. acertou na mosca ao dizer que o problema é “o quanto e o que” se compromete nesta prática. Com certeza estamos sendo ativos ao discutir. Estamos pensando e existindo. Obrigado pelo comentário. Abraço.
Júlio Menezes
31 de maio de 2012
Muitos querem justificar a incompetência encima da competência de outro. Em provérbios está escrito: Corrija um sábio e ele se tornará mais sábio, corrija um tolo e ele se tornará seu inimigo.
Wagner Rodrigo
31 de maio de 2012
Professor, muito interessante esse questionamento… o fato é que a politica não só proporciona um cargo ou poder, para algumas pessoas se tornou uma forma de viver e conviver com as outras…tanto é que é comum usarmos em conversas sobre relacionamento a frase: “é preciso ser politico”, ou seja, ser falso, conveniente, amigo e vai por ai!
O pior de tudo é isso, saber que a politica deixou de assunto importante para se tonar uma “coisa” banal. Ao invés do politico ser uma pessoa seria, que cuida dos interesses da população, vemos que ele não é nem serio e que nem esta la pra cuidar dos nossos interesses.
blogdoamstalden
4 de junho de 2012
Obrigado pelo seu comentário Wagner. Concordo plenamente e lamento o fato de que a palavra política, como vc. bem lembrou, esteja se tornando um sinônimo de falsidade. Comente sempre. Abraços.
André Gorga
1 de junho de 2012
Luis, você mencionou no penúltimo parágrafo a verba para churrasco… Lembrei-me de um caso antigo, em outra cidade, onde o irmão de um amigo era um dos assistentes de um vereador e, mensalmente, via-se obrigado a deixar parte do salário (uma boa parte, aliás) como “caixinha” para churrascos em centros comunitários e afins, proporcionados pelo vereador. Como era cargo de confiança, o vereador indicava quem bem entendia para seu assistente (ainda hoje é assim) e ao propor ao rapaz o cargo, já impôs essa condição. Se não topasse, iria escolher outro para o lugar. De acordo com meu amigo, essa era uma prática corriqueira na casa de leis daquela cidade, ou seja, de acordo com seu irmão, todos os assistentes honravam esse compromisso, se é que se pode inserir a palavra honra nesse contexto. Espero que em nossa cidade nunca tenha ocorrido algo assim, que além de crime de assédio moral, poderia ser definido, de acordo com minha falecida avó, como o ato de “fazer cortesia com o chapéu alheio”. Quanto ao seu texto, Luis, nada posso dizer além de PERFEITO!
blogdoamstalden
4 de junho de 2012
André, não dá para colocar o verbo “honrar” aí… Obrigado pelo comentário e tomara que as coisas mudem. Não duvido que aqui a coisa seja parecida e a rede de favores, caixinhas e churrascos estejam definindo mais as eleições do que as propostas e o caráter dos candidatos.
Anônimo
1 de junho de 2012
Não é cadidato às eleições, mas faz a necessária política com este texto. Meu voto é para pessoas como você, ainda que minha cédula permaneça nula. Fico sempre me questionando se há caminhos, se vale à pena acreditar na boa essência humana ou se somos de fato lobos de nós mesmos e acabamos nos corrompendo em qualquer que seja a instituição! O indivíduo pensa no coletivo ou o defende como forma de se auto-promover? Sei lá…
blogdoamstalden
4 de junho de 2012
Cinthia, penso que o processo humano, a vida humana, são eternas construções. Nossa vida é curta, mas a história é longa. O que se faz hoje, seja o seu voto ou seja a educação que você dá a seus filhos, fará a diferença daqui a cem anos. Nós construímos agora. O indivíduo já pensou mais no coletivo, hoje, sob nosso tipo de sociedade, nos individualizamos. Isso é bom? Eu penso que não. Somos coletivos, não vivemos uns sem os outros e não podemos esquecer disto, mesmo que pareça que estamos nadando contra a corrente. Continue a acreditar e construir, só não vai dar para votar em mim porque não pretendo mesmo me candidatar a nada. Ou melhor, me candidato a um mundo decente, racional, correto e ético. Mas isso não vou ganhar por votos, vou ganhar lutando. Obrigado pelo seu comentário e aguardo um artigo seu. Bjs.
Cinthia
4 de junho de 2012
Valeu Luis… Meu sempre professor! Gostei muito do que escreveu. Às vezes esquecemos que somos coletivos e esmorecemos. Sim, não vivemos uns sem os outros… Não vou me esquecer disso!
Cinthia
1 de junho de 2012
Esqueci de me identificar no comentário acima… Esse anônimo aí sou eu!!!
fabiocasemiro
1 de junho de 2012
Observação importante:
Além de não saber fazer nada do que citou acima, o Sr. também não sabe posar para “santinho de eleição”, como vemos no início desse seu belo texto. Aliás, a fotógrafa parece até ter cacoete para a coisa… Já o Sr. carece de fotogenia…
hahahaha
Abraços meu amigo. Parabéns pelo texto (o final é prá por para pensar mesmo!)
André Gorga
1 de junho de 2012
Não tenham medo de fazer comentários. Acho que as pessoas estão intimidadas porque o blog solicita o e-mail do comentarista. Este dado é útil para o caso do comentarista optar por receber em seu e-mail os comentários de outros leitores ou se quiser vincular uma foto ao seu e-mail, assim cada vez que fizer um comentário, sua foto aparecerá (como é o caso do “fabiocasemiro”, por exemplo), caso contrário, cada vez que digitamos nosso e-mail, a ele é associada uma figura personalizada, que sempre aparecerá no lugar da foto. Não se preocupem, nem o criador do blog tem acesso aos endereços de e-mail, caso seja essa a preocupação. Vamos participar, leitores!! A troca de opiniões é muito importante aqui!
cibele trevisan nalin
2 de junho de 2012
se todos os candidatos tivessem o mesmo pensamento que você, a população teria uma vida mais digna.
blogdoamstalden
4 de junho de 2012
Mas cabe a nós, Cibele, rejeitarmos os que não tem este pensamento. A vida digna é um direito nosso que precisamos cobrar. Obrigado pelo comentário.
Edu Pedrasse
3 de junho de 2012
Uma boa coisa para se pensar meu velho, é o porque das projeções das pessoas em outras determinadas pessoas…
Obviamente essa seria uma dicussão para outra ocasião, devido à sua extensão e complexidade. Mas fica a lebre levantada.
blogdoamstalden
4 de junho de 2012
Anotado Edu. Mas outros artigos aqui já falam um pouco do fenômeno, tais como “A Moça e os Impostos” e “Casa Grande e Senzala”. Mas vc. tem razão. O tema é importante.