Inicio esclarecendo que somos, enquanto ambientalistas, totalmente a favor de hidrovias de modo geral, meio de transporte racional e ecológico; isso, desde que falemos de rios navegáveis! O Piracicaba não o é em grande parte. Qualquer estudante de geologia ou de geografia (vide faculdade de Rio Claro) confirmará isso. Daí um gasto imenso, incalculável quase, de dinheiro público (que deveria, por questões éticas até, ser empregado em tantas outras áreas críticas e de urgentes demandas), só para tornar um pequeno, um insignificante trecho do nosso rio Piracicaba, “navegavelzinho”, com a construção de um dinossauro amarelo, o muro de Berlim das Águas, ou seja, a Barragem de Santa Maria da Serra. No projeto anterior seriam uns míseros trinta quilômetros apenas de aumento da hidrovia.
Esses argumentos, são só pra começar, e sem falarmos ainda nos enormes e gravíssimos impactos ambientais que adviriam do monstro de concreto. Tal coisa é, na melhor das hipóteses, sinal de pouca inteligência e nenhuma razoabilidade, para dizer o mínimo. Também ciclovias são muito interessantes e úteis ecologicamente falando, mas aplainaríamos as colinas de Piracicaba para torná-la uma cidade planície totalmente “cicloviável”? Quem pensaria nisso? Pois o absurdo da idéia é o mesmo.
Cumpre-nos também esclarecer que tal projeto, gestado na ditadura militar (tal qual o foi Belmonte) quando se adorava o “megamegatudo”, retornou há dezesseis anos, desencavado, mas parou, sendo bastante criticado pelo Consema. (Conselho Estadual de Meio Ambiente), à época. Agora, Freddy Krueger hides again!
Quando se indaga onde exatamente se insere tal assunto (no PAC será, ou em que projeto maior?) e qual a necessidade real disso (ainda sem falarmos em alternativas possíveis); ou seja, o que realmente se vai transportar e para onde? vários políticos afirmaram ainda não terem muita certeza. Talvez pudessem gastar também uns dois ou três milhões de reais construindo torres e muralhas ao redor das cidades. Pra quê!? Bom, igualmente não teriam ainda muito bem certeza.
Quanto aos impactos ambientais, é só chorar sobre eles: centenas de hectares de mata atlântica inundados, mortes terríveis de milhares de indivíduos de tantas e tantas espécies de animais silvestres, de aves (certamente muitas em extinção), destruição de árvores preciosas. Sem falar nas últimas várzeas to Tietê, no Tanquã, que são um mini pantanal, habitat do jacaré de papo amarelo. Algo imitigável e imcompensável são esses danos catastróficos, nos diz o senso comum. Há, também, a questão das enchentes. Isso poderia, talvez, piorá-las muito em Piracicaba e região. É isso o que os gestores desejam para as cidades?
É sempre bom indagarmos por quais desatinos já há, faz tempo, verbas federais liberadas para o empreendimento? Mesmo que ele nunca saia do papel, quanto não custara, ao contribuinte, só o Estudo de Impacto Ambiental do mesmo? A população precisa realmente se conscientizar melhor de suas escolhas nas urnas, pois pelos andares das carruagens, das escavadeiras e dos tratores, nossos votos são, simbolicamente falando é claro, talões de cheques por nós assinados, mas totalmente em branco, usados depois contra nós e contra a natureza.
Eloah Margoni , ecologista e médica.
André Gorga
26 de junho de 2012
Exatamente a pergunta do quarto parágrafo é que sempre me vem à cabeça: o que se vai transportar e para onde? Que empresas da cidade ou região utilizariam esse tipo de transporte?
Realmente é um projeto que remete às obras dos governos militares, onde a imagem de progresso estava sempre relacionada a toneladas de concreto e derrubadas de árvores.
Depois que a Rio + 20, com chefes de estado de todo o mundo participando, resultou em quase nada, o que esperar da consciência ecológica dos políticos da região?
Obrigado, Dra. Eloah, pelos esclarecimentos.
Mirian Rother
26 de junho de 2012
Prezada Eloah,
Lamento sua infeliz colocação sobre “aplainar colinas de Piracicaba” para construir ciclovias. Denota seu total desconhecimento sobre o assunto. Toda cidade é ciclável. Em Piracicaba, temos várias avenidas em fundos de vale, como também em divisores de águas. Também informo que bicicletas de hoje tem marchas, e que os trechos de relevo acidentado podem ser transpostos pela integraçào da bicicleta ao transporte coletivo, isso sem falar nas bicicletas elétricas. Espero que você repense e que junte-se a nós, que buscamos soluções inteligentes para a questão da mobilidade sustentável em Piracicaba.
Flávio R. Naval Machado
27 de junho de 2012
Eloah, amigos,
O tema é muito interessante. E importante.
É curioso que não se escute muito falar dele.
Sou a favor da ecologia (o que quer que isso signifique nos dias de hoje…), das ciclovias e das hidrovias… e do equilíbrio entre tudo isso.
Piracicaba, como a maioria das cidades no seu entorno é, feliz ou infelizmente, cercada por um “mar de cana”.
O Ministério Público vive procurando um pedaço de mata para proteger… Vive falando de fazer TACs (termos de ajustamento de condutas) com as usinas, porque não existem reservas legais há anos…
Talvez seja ignorância minha, mas desconheço as grandes áreas de florestas de mata atlântica a que você se refere… torço para que não passe disso, ou seja, ignorância minha e realmente existam essas florestas a que vc se refere! Vou ficar feliz em ser ignorante desta vez.
Transportar o que, me parece uma boa pergunta. Principalmente, se considerarmos o mar de cana em volta das cidades… Cana não se transporta a mais de 30-40 km.
Além disso, Piracicaba tem uma indústria metalúrgica considerável… E o que mais? Há que se ver… No entanto, se compararmos 30-40 km de hidrovia com a adição uma nova estação ou linha de metrô em São Paulo, ou seja, a adição do trecho de hidrovia ao Sistema Tietê-Paraná, percebe-se um efeito multiplicador que ultrapassa as fronteiras locais, Será que você não esqueceu de considerar esse “efeito sinérgico”?
Tudo isso considerado, será que não estamos só falando em alagar plantações de cana?
Quanto às ciclovias em Piracicaba, já pedalei muito por essa nossa terra… É puxado! Mas penso que talvez existam trechos onde elas sejam viáveis.
Abraços a todos. Espero que ninguém se sinta criticado mas apenas perguntado pelas colocações que fiz… Eu mesmo não tenho a resposta.
Flávio
blogdoamstalden
27 de junho de 2012
Muito bom Flávio. Admitir que não temos respostas mas sim questões, é um princípio da sabedoria. A partir daí é que podemos realmente encontrar as soluções, já que abandonamos as idéias pré concebidas. Obrigado por seu comentário e continue participando.