“FAMILIA ACOLHEDORA É ALTERNATIVA AOS ULTRAPASSADOS ORFANATOS”. Por Antônio Carlos Danelon

Posted on 6 de julho de 2012 por

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Antônio Carlos Danelon

A manchete acima se refere à matéria publicada no O Estado de São Paulo há quase sete anos. Apresento um resumo e algumas considerações.

Em vez de abrigos, crianças e adolescentes afastados temporariamente dos pais por motivo de abandono, rejeição, maus tratos, negligência, abuso sexual, etc. são acolhidos por famílias voluntárias. São Famílias Acolhedoras, constituídas por pessoas que se dispõe a receber dentro de suas casas essas crianças e adolescentes até que a Justiça decida seu destino, ou enquanto seus pais recebem apoio para se reestruturar. Apesar de o programa existir em outros países, no Brasil é recente, mas já aparece como alternativa para as casas de acolhimento e abrigos em algumas cidades.

“Sempre tive vontade de ajudar. Quando conheci o programa, falei para meu marido: ‘É isso que quero fazer’, conta uma mãe de duas adolescentes participante do programa. Depois do treinamento oferecido pelo órgão responsável, ela recebeu um garoto de dois anos, cuja mãe já havia abrigado outros três filhos. Ele conquistou toda a família e lá permaneceu por um ano e meio, fazendo constantes visitas à mãe e aos irmãos. “A gente sofre, sente falta. Mas quando vê o outro lado, a mãe dele com condições de tê-lo de volta, vê que pode fazer sua parte, que ajudou se sente gratificado” , diz o pai acolhedor.

Na ocasião da reportagem, a família abrigava uma menina de dez anos, portadora de diabete que, pela falta de cuidados e do abandono da mãe, acabou internada num hospital. Essa família entrevistada pelo jornal era uma das 32 que faziam parte do programa na vizinha cidade de Campinas. Segundo a matéria, todas passam por treinamento, o responsável deve ter mais de 24 anos e não ter processo judicial. Recebem um salário mínimo por mês como subsídio. Há também vovós acolhedoras, além de mulheres e homens solteiros.

“Meus filhos ficaram trancados no barraco quando pegou fogo. Eu tinha saído para buscar mais bebida e droga. Eles quase morreram. O programa me fez ver que eu estava repetindo o que minha mãe fez comigo, me largando na rua”, conta uma doméstica de 26 anos. Ela cresceu num abrigo e já tinha tido os dois filhos, por duas vezes retirados de sua casa. Enquanto os dois ficaram acolhidos por família acolhedora, ela foi levada para uma clínica para dependentes químicos. “Eles insistiram comigo. Foram três internações, e eu fugi em todas. Até que na última vez fui sozinha, alguma coisa tinha mudado em mim. Entendi que precisava parar de buscar minha mãe em algum lugar e assumir que eu era a mãe”. (Estado de São Paulo, 27.11.05. A 28).

É claro que tal programa não é a panacéia para as maldades que se cometem contra crianças, e nem viria substituir de vez os abrigos, pois apesar de a maioria dos casos serem de negligência, existem os que exigem institucionalização. Porém, por melhor que seja uma instituição e preparado o seu pessoal, jamais substituirão a família ou seus arranjos, por mais complicados que pareçam.

 Portanto, preterir um método – no caso Famílias Acolhedoras – que leva em conta a responsabilidade pelo que sofre, a solidariedade e o acolhimento só pode advir de gente que se acha dona do destino dos outros ou não conhece abrigos e nem imagina o que sente, como vive e pensa uma criança “cuidada” pelo Estado ou pela sociedade.

Mesmo respaldada por lei a SEMDES poderia ter aberto debate com a sociedade sobre o assunto. Mas, como de costume fez o que achou melhor, para ela. Afinal “Casa de Acolhimento” dá para por placa. Já “Famílias Acolhedoras”…

Antônio Carl0s Danelon é Assistente Social

totodanelon@ig.com.br

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