A manchete acima se refere à matéria publicada no O Estado de São Paulo há quase sete anos. Apresento um resumo e algumas considerações.
Em vez de abrigos, crianças e adolescentes afastados temporariamente dos pais por motivo de abandono, rejeição, maus tratos, negligência, abuso sexual, etc. são acolhidos por famílias voluntárias. São Famílias Acolhedoras, constituídas por pessoas que se dispõe a receber dentro de suas casas essas crianças e adolescentes até que a Justiça decida seu destino, ou enquanto seus pais recebem apoio para se reestruturar. Apesar de o programa existir em outros países, no Brasil é recente, mas já aparece como alternativa para as casas de acolhimento e abrigos em algumas cidades.
“Sempre tive vontade de ajudar. Quando conheci o programa, falei para meu marido: ‘É isso que quero fazer’, conta uma mãe de duas adolescentes participante do programa. Depois do treinamento oferecido pelo órgão responsável, ela recebeu um garoto de dois anos, cuja mãe já havia abrigado outros três filhos. Ele conquistou toda a família e lá permaneceu por um ano e meio, fazendo constantes visitas à mãe e aos irmãos. “A gente sofre, sente falta. Mas quando vê o outro lado, a mãe dele com condições de tê-lo de volta, vê que pode fazer sua parte, que ajudou se sente gratificado” , diz o pai acolhedor.
Na ocasião da reportagem, a família abrigava uma menina de dez anos, portadora de diabete que, pela falta de cuidados e do abandono da mãe, acabou internada num hospital. Essa família entrevistada pelo jornal era uma das 32 que faziam parte do programa na vizinha cidade de Campinas. Segundo a matéria, todas passam por treinamento, o responsável deve ter mais de 24 anos e não ter processo judicial. Recebem um salário mínimo por mês como subsídio. Há também vovós acolhedoras, além de mulheres e homens solteiros.
“Meus filhos ficaram trancados no barraco quando pegou fogo. Eu tinha saído para buscar mais bebida e droga. Eles quase morreram. O programa me fez ver que eu estava repetindo o que minha mãe fez comigo, me largando na rua”, conta uma doméstica de 26 anos. Ela cresceu num abrigo e já tinha tido os dois filhos, por duas vezes retirados de sua casa. Enquanto os dois ficaram acolhidos por família acolhedora, ela foi levada para uma clínica para dependentes químicos. “Eles insistiram comigo. Foram três internações, e eu fugi em todas. Até que na última vez fui sozinha, alguma coisa tinha mudado em mim. Entendi que precisava parar de buscar minha mãe em algum lugar e assumir que eu era a mãe”. (Estado de São Paulo, 27.11.05. A 28).
É claro que tal programa não é a panacéia para as maldades que se cometem contra crianças, e nem viria substituir de vez os abrigos, pois apesar de a maioria dos casos serem de negligência, existem os que exigem institucionalização. Porém, por melhor que seja uma instituição e preparado o seu pessoal, jamais substituirão a família ou seus arranjos, por mais complicados que pareçam.
Portanto, preterir um método – no caso Famílias Acolhedoras – que leva em conta a responsabilidade pelo que sofre, a solidariedade e o acolhimento só pode advir de gente que se acha dona do destino dos outros ou não conhece abrigos e nem imagina o que sente, como vive e pensa uma criança “cuidada” pelo Estado ou pela sociedade.
Mesmo respaldada por lei a SEMDES poderia ter aberto debate com a sociedade sobre o assunto. Mas, como de costume fez o que achou melhor, para ela. Afinal “Casa de Acolhimento” dá para por placa. Já “Famílias Acolhedoras”…
Antônio Carl0s Danelon é Assistente Social
totodanelon@ig.com.br
Carla Betta
12 de julho de 2012
“Comente, duvide… pense” Então, eu duvido. Não tenho opinão formada pelo assunto, mas gostaria de ter acesso às 2 vertentes: a favor das casas de acolhimento e a favor das famílias acolhedoras. Onde encontrar um estudo (sério) sobre as consequencias/resultados desses 2 métodos?
blogdoamstalden
13 de julho de 2012
Vou repassar sua dúvida ao autor.
Abraço.
Antonio Carlos Danelon
13 de julho de 2012
Carla, obrigado pelo interese no tema. Trabalhei 15 anos num abrigo. Sei que fizemos – nossa equipe – um bom trabalho, porém ninguém de nós conseguiu suprir nas crianças a falta da família. Trabalhava também as sábados e lembro-me muito bem na hora de ir para casa algumas crianças dizerem que eu tinha família para voltar e elas não. Lembro-me de um deles, que foi deixado ainda nenê numa caixa de sapatos, ao ser perguntado se sua mãe apararesse o que ele faria. Para nosso desconcerto disse que daria o maior abraço nelas. Disso tenho certeza: lugar de criança é na família. Essas crianças já sofrem demais para acabarem num abrigo.Por melhor que seja não supera uma família, mesmo ruim. Abrigo é confinamento. Alguns até pediam literalmente: “Totó arruma uma mãe parea mim”. Quando ao Família Acolhdora sugiro conhecer o Serviço Alternativo de Proteção EspeciaAcolhimento Familiar: Programa Sapeca
Criado em 1997, o Serviço Alternativo de Proteção Especial à Criança e ao Adolescente (Sapeca), de Campinas, trouxe uma alternativa à institucionalização de crianças e adolescentes: a colocação em famílias acolhedoras. Na época, o método pouco conhecido causou estranheza, mas hoje faz parte das políticas públicas e é estabelecido pela Nova Lei da Adoção, Lei no. 12.010 de 2009, como uma medida protetiva.No Sapeca, as crianças e adolescentes – afastados provisoriamente de seus familiares por medida judicial – são encaminhados para famílias acolhedoras até que tenham condições de retornar aos seus lares de origem. Esse sistema permite que eles tenham uma convivência familiar ao invés de ficarem em uma instituição de acolhimento.Apenas crianças e adolescentes que têm possibilidades de serem novamente reintegrados à suas famílias de origem participam do Sapeca. Durante toda a fase de acolhimento são promovidas reuniões e atendimentos psicológicos com o objetivo de facilitar a reinserção familiar, além de encontros, geralmente semanais, entre as crianças e seus pais biológicos – realizados na sede do programa e monitorados por uma equipe.Para agendar uma visita às instalações do Sapeca, entre em contato pelos telefones (19) 3256-6067 ou (19) 3256-6335. Mais informações sobre o programa podem ser encontradas no site http://www.acolhimentofamiliar.org.br.Criado em 1997, o Serviço Alternativo de Proteção Especial à Criança e ao Adolescente (Sapeca), de Campinas, trouxe uma alternativa à institucionalização de crianças e adolescentes: a colocação em famílias acolhedoras. Na época, o método pouco conhecido causou estranheza, mas hoje faz parte das políticas públicas e é estabelecido pela Nova Lei da Adoção, Lei no. 12.010 de 2009, como uma medida protetiva.
No Sapeca, as crianças e adolescentes – afastados provisoriamente de seus familiares por medida judicial – são encaminhados para famílias acolhedoras até que tenham condições de retornar aos seus lares de origem. Esse sistema permite que eles tenham uma convivência familiar ao invés de ficarem em uma instituição de acolhimento.
Apenas crianças e adolescentes que têm possibilidades de serem novamente reintegrados à suas famílias de origem participam do Sapeca. Durante toda a fase de acolhimento são promovidas reuniões e atendimentos psicológicos com o objetivo de facilitar a reinserção familiar, além de encontros, geralmente semanais, entre as crianças e seus pais biológicos – realizados na sede do programa e monitorados por uma equipe.
Para agendar uma visita às instalações do Sapeca, entre em contato pelos telefones (19) 3256-6067 ou (19) 3256-6335. Mais informações sobre o programa podem ser encontradas no site http://www.acolhimentofamiliar.org.br .
“Conhecer para Transformar”
guia criado pela Prattein e publicado
pela Fundação Telefônica
l à Criança e ao Adolescente (Sapeca), de Campinas http://www.acolhimentofamiliar.org.br
Antonio Carlos Danelon
13 de julho de 2012
Corrigindo: Trabalhava também aos sábados…se sua mãe aparecesse…daria o maior abraço nela.os sábados
Carla Betta
13 de julho de 2012
Interessante. Obrigada pela resposta, lerei mais a respeito. Pensava de outro modo, imaginando que a convivência em outra famíla criasse um conflito afetivo dentro da criança, comparações entre a casa e a dinamica da família que a acolheu e a sua própria. Não seria mais um motivo de sofrimento para a criança? Mais uma separação? Laços que se desfazem? Mas, levarei esses questionamentos para futuras leituras. Estou re-pensando.
Antonio Carlos Danelon
13 de julho de 2012
Carla, eu de novo. Seu interesse pelo tema demonstra sua grande alma. No Familia Acolhedora a criança participa da reestruturação de sua familia original. Existe um treinamento para os casais interessados. Na verdade não há coisa melhor que família. Carinho e amor só fazem bem venham de onde vierem. Quebra de laços acontecem,sim no abrigo, e não raro, definitivamente. Se existem famílias interessadas em acolher essas crianças sofridas por que não? Muito melhor que numa instituição onde a elas precisam inventar ou aprontar para ganhar atenção mesmo que seja em forma de punição.
Carla Betta
17 de julho de 2012
Ainda não pude pesquisar satisfatoriamente sobre o tema, mas o argumento se refere à falha da Instituição. E se a Instituição não fôsse falha?… Por enquanto, apenas pergunto, mas -assim que puder- me aprofundarei a respeito e volto debater no sentido de esclarecimento mesmo.
Carla Betta
30 de julho de 2012
Ainda não li a pesquisa do site http://www.acolhimentofamiliar.org.br ., confesso. Mas, estou engatinhando como contadora de histórias e fui -neste sábado- convidada a contar histórias no Lar Franciscano… A Instituição é falha, muito falha! A gente “ouve falar”; “sabe-não-sabendo”, mas VIVER essa realidade é outra coisa! As acomodações, podem até ser melhores que a das casas dessas crianças, mas deixam muito a desejar! (Quero até fazer uma ressalva, elogiando a “Casa do Amor Fraterno” que construiu e mantém a estrutura da ONG em perfeito estado, com espaços largos, bonitos, arquitetura primorosa_ sendo uma ONG em bairro carente e destinado aos moradores do bairro, que -diante deste cuidado- também cuidam do espaço: foi isto que vi com meus próprios olhos.) Quanto ao Lar Franciscano, me pareceu, nesta breve visita, que os funcionários e funcionárias tratam as crianças e o espaço com desvelo e carinho. Mas, eles anseiam por família, é verdade. Os bebês -provavelmente- serão adotados. Mas, os/as mais velhos/as lá continuarão; ansiando por uma família! Visivelmente carentes e querendo perencer a uma família! Algumas pessoas levam essas crianças para passear aos finais de semana, o que é bom e ruim! Bom para quem vai passar o final de semana fora e ruim para quem fica, intensificando o sentimento de rejeição que já carregam… Gostaria de elogiar uma senhora (não sei seu nome) que muito me comoveu, pois ela vem buscar há tempos já um dos meninos, de uns 11/12 anos, que tem deficiência mental. Existe um grupo de voluntários se organizando para visitas. Jovens e menos jovens (como eu) que doam seu tempo e afeto a essas crianças e foi perceptível a importância dessas presenças para as crianças! Admiro ainda mais os mais jovens! Fomos muito bem recebidos em uma simpática festa “julina”! Mas… carreguei junto comigo, além do prazer, do carinho, de uns quilinhos a mais, da alegria e da gostosa sensação de ter ajudado em alguma coisa, muitas questões…. como bem dá para notar!
Anônimo
7 de agosto de 2013
http://www.pira21.org.br/pira21/noticias/projeto-cria-o-familia-acolhedora
O prefeito Gabriel Ferrato encaminhou ontem à Câmara de Vereadores Projeto de Lei (PL) que autoriza instituir em Piracicaba o Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora (Safa), que será executado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (Semdes).