O gosto pelo futebol é algo familiar. Passa de pai para filho e se fortalece primeiro através do convivo com a família mais extensa (tios, primos, avós) e depois através do convivo com os colegas e amigos. Minha família nunca se importou com times ou jogos. Pelo menos meu pai e tios não. Alguns primos até gostam, mas pelo que sei, sem nenhuma grande ênfase. Acho que é por isso que eu não me interesso.
Na Copa do Mundo até que torço um pouco. Mas desde a Copa do Japão, em 2002 eu me envolvo muito menos. Você pode argumentar que, na Copa de 2002 nós vencemos, então, porque eu não me entusiasmo mais? Explico. No dia da final, o Brasil jogou contra a Alemanha. Eu levantei cedo naquele domingo (o que é uma raridade), torci, sofri e fiquei feliz, muito feliz quando ganhamos o penta. Perto de minha casa, numa praça, havia uma galera comemorando. Resolvi ir até lá comemorar junto, brasileiro que sou. Brasileiro mas com pele, cabelo (na época eu tinha…) e olhos claros. Já perto da praça, um carro passa devagar por mim. O seu ocupante tira a cabeça para fora, olha bem para mim e grita: “está triste, alemão FDP!!!”. Não falei nada. Dei meia volta e retornei a minha casa. Achei melhor… De lá para cá, nunca mais torci muito nas Copas, só um pouquinho…
Já minha mulher não. Ela é torcedora fanática do Corinthians. E meu sogro também. Aí está a comprovação do que eu disse. Meu sogro era levado ao campo pelo pai dele desde garotinho e minha mulher, no mesmo processo de ligação entre família/afeto/futebol/time, herdou do pai esta paixão que é mais do que um gosto. É um elo afetivo. Um elo que mantém viva a presença do avô, que ela não conheceu, na vida dela; do pai na vida do meu sogro e a presença de meu sogro na vida da minha esposa, ao compartilharem as alegrias e tristezas da trajetória do time.
E então, o Corinthians chega a uma final inédita. A final da tão sonhada “Copa Libertadores da América”, título que o time não tem e que é motivo de tanta gozação por parte dos rivais. E eis minha mulher e meu sogro torcendo e sofrendo. Desejando profundamente ver seu time ganhar desta vez.
No dia 27 último, primeiro jogo da final contra o time argentino Boca Juniors, eu fiquei no escritório. Pretendia ler e/ou escrever enquanto minha esposa torcia na sala. Mas não consegui. Primeiro em espaços mais longos depois cada vez mais frequentemente, peguei-me indo até a sala e acompanhando trechos da partida. Ansioso, perguntava quanto tempo ainda havia de jogo e como estava indo o time. Depois do gol do Boca, fiquei triste. Decepcionado como nunca por um jogo de futebol. E no empate, pulei junto com a Juliana e, abraçados, senti as lágrimas dela escorrendo pelo meu peito.
Virei corintiano? Passei a gostar de futebol? O próximo passo é começar a jogar? Não. Nada disso. Apenas revivi algo que já sabia, mas que agora se manifesta através do esporte e do time. Revivi que amar é descobrir a felicidade na alegria de quem se ama.
Hoje é a final. Não sei se o Corinthians vai ganhar. Quero que ganhe porque quero ver a “minha pequena” feliz. Quero que ganhe porque acabo fazendo parte de uma cadeia de afeto que vem do seu avô e chega a ela, passando pelo meu sogro. Se ganhar, vou comemorar junto com ela. Mas se não, ainda assim estarei na “corrente de afeto” dela e da família, ainda que compartilhando a frustração.
De qualquer modo, com todo respeito aos outros times: Força Timão!
Aryoldo Machado
5 de julho de 2012
O elo que nos une através do CORINTHIANS é tão forte que precisa ser CORINTHIANO para entender e sentir. Obrigado pelas suas palavras, pelo seu novo sentimento. Daria para escrever tanta coisa sobre o CORINTHIANS, mas vamos nos ater neste agradecimento. Vejam que a foto que fiz, em 1974, o CORINTHIANS não era campeão desde 1954, e só foi ficar campeão paulista em 77. O que sentimos naquele ano foi tão forte como o que sentimos hoje. Alias cada título, cada jogo é e será uma coisa que não se consegue explicar. VAI CORINTHIANS. Obrigado Professor.
Juliana Machado Amstalden
5 de julho de 2012
Pai, que lindo comentário. Faço minhas as suas palavras: ” o elo que nos une através do CORINTHIANS é tão forte que precisa ser CORINTHIANO para entender e sentir”. Pai, posso ser sincera? Eu torci com todas as minhas forças não por mim mas mais para o senhor. Eu queria muito que o senhor sentisse novamente esta emoção semelhante a aquela de 1977. E, agradeço sempre por ter me passado esta paixão que não tem explicação. Eu te amo e parabéns, seu Aryoldo, o seu time é Campeão da Libertadores de 2012!!!! (pai, será que o mundo vai acabar??? – brincadeirinha). Obrigada de coração, ao meu marido (meu amor, meu companheiro, minha vida) por escrever um texto tão lindo inspirado nesse elo de afeto, de amor e de paixão que une gerações. Obrigada!!!! Você, Luis Fernando, sabe o quanto eu me emocionei ao ver no Jornal de Piracicaba, o artigo acima. Provas de amores assim são raras. Pai, eu te amo! Luis, eu te amo!!!! Vocês são a minha vida…!
Tainá Moura
5 de julho de 2012
Realmente…lindo!
Li o seu texto ontem a noite para minha mãe e contei a história (Anderson Silva – UFC) que você relatou naquele dia…no corredor da faculdade, quando eu tinha em mãos o caderno do corinthians. Lembra?
Minha mãe riu muito!! 🙂
blogdoamstalden
13 de julho de 2012
Tainá, boa lembrança. Vou contar esta história no Blog. Bjs.
Ninguém Sabe 2.
5 de julho de 2012
E o Corinthians é isso: loucura, paixão, amor! Os jogos são imperdíveis e mesmo aqueles que não torcem não se aguentam. Acho que não tem saída: você virou corinthiano! rsrsrs
Érica Frota
5 de julho de 2012
Que texto mais lindo do mundo inteiroooooo!!! Entendo perfeita/e o q vc quer dizer qdo diz: “amar é descobrir a felicidade na alegria de quem se ama”, pois me peguei ” meio Corinthiana” ultima/e, e tudo por causa do amoreco. Bjos Ju e Lu
cibele
7 de julho de 2012
muito lindo o texto, até quem não é corinthiano se emociona, uma bela declaração de amor e de convivência.
Carla Betta
13 de julho de 2012
Na “Copa do Mundo É Nossa”, em que ganhamos da Itália, eu-criança, minhas primas, parentes, enfim, saíamos às ruas para comemorar! Meu pai é corinthiano, torce muito, acompanha os jogos, vibra!! Mas, não se abate se o time perder. Não usa boné, nem camiseta, com medo de represálias, ainda assim, usa um chaveiro que eu lhe dei! Portanto, nos ensinou a sermos torcedores pacíficos e respeitadores. O texto lido acima é comovente, o afeto que envolve essa torcida de pai/filha/marido/genro/sogro se não se manifestasse no futebol, manifestar-se-ia em outra coisa, outro esporte, outra tradição… O que entristeceu ao Amstalden naquela remoto dia, entristece-me até hoje: a explosão de raiva e violência nas torcidas futebolísticas! Meu pai ainda era do tempo em que “futebol é coisa de homem” e minha primeira e única vez em um estádio foi acompanhada de meu irmão na época em que o Leão jogava e eu –que não entendia e não entendo nada desse esporte- fui pela experiência e para ver as pernas do Leão (rsrsrsr…) … Mas, fiquei assustada na hora da saída pelo cuidado e temor com o qual meu irmão me tratava pelos vandalismos que tantas vezes ele havia testemunhado na saída dos estádios…!!!??? Triste, não? ! Hoje, em uma grande comemoração como foi a daquela memorável Copa dos “90 milhões em ação”; será que as famílias poderiam sair às ruas??!!… ….
Alceu Sebastião Costa
27 de julho de 2012
Caro Professor Luís Fernando Amstalden,
Parabéns pelo sogro que tem, meu conterrâneo e Amigo há mais de meio século. Ele corinthiano e eu sãopaulino…sempre nos respeitamos. E não poderia ser diferente,
posto que fomos educados segundo os preceitos basilares que outrora norteavam as
famílias.Em casa, dentre sete irmãos mais pai e mãe, somente o primogênito, já falecido,
era corinthiano. Jamais nos demos a atritos…quer em situações de vantagem ou de desvantagem. Por isso, quando há dias o Corinthians sagrou-se Campeão da Libertadores,
não hesitei em declarar, com toda sinceridade, através de e-mail, o seguinte:
VOCÊ QUE NÃO É CORINTHIANO, ARRANQUE DA FACE A MÁSCARA DA INVEJA
E CUBRA DE ORGULHO O SEU CORAÇÃO BRASILEIRO.
Pois é Professor! Pena que o fanatismo exacerbado dilacera o bom-senso e rompe até os sacrossantos laços familiares.
Faço coro aos que aplaudem a sua fala.
Abraços do Poeta Alceu Sebastião Costa.