O Futebol e o Afeto. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 5 de julho de 2012 por

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Juliana em 1974

O gosto pelo futebol é algo familiar. Passa de pai para filho e se fortalece  primeiro através do convivo com a família mais extensa (tios, primos, avós) e depois através do convivo com os colegas e amigos. Minha família nunca se importou com times ou jogos. Pelo menos meu pai e tios não. Alguns primos até gostam, mas pelo que sei, sem nenhuma grande ênfase. Acho que é por isso que eu não me interesso.

Na Copa do Mundo até que torço um pouco. Mas desde a Copa do Japão, em 2002 eu me envolvo muito menos. Você pode argumentar que, na Copa de 2002 nós vencemos, então, porque eu não me entusiasmo mais? Explico. No dia da final, o Brasil jogou contra a Alemanha. Eu levantei cedo naquele domingo (o que é uma raridade), torci, sofri e fiquei feliz, muito feliz quando ganhamos o penta. Perto de minha casa, numa praça, havia uma galera comemorando. Resolvi ir até lá comemorar junto, brasileiro que sou. Brasileiro mas com pele, cabelo (na época eu tinha…) e olhos claros. Já perto da praça, um carro passa devagar por mim. O seu ocupante tira a cabeça para fora, olha bem para mim e grita: “está triste, alemão FDP!!!”. Não falei nada. Dei meia volta e retornei a minha casa. Achei melhor… De lá para cá, nunca mais torci muito nas Copas, só um pouquinho…

Já minha mulher não. Ela é torcedora fanática do Corinthians. E meu sogro também. Aí está a comprovação do que eu disse. Meu sogro era levado ao campo pelo pai dele desde garotinho e minha mulher, no mesmo processo de ligação entre família/afeto/futebol/time, herdou do pai esta paixão que é mais do que um gosto. É um elo afetivo. Um elo que mantém viva a presença do avô, que ela não conheceu, na vida dela; do pai na vida do meu sogro e a presença de meu sogro na vida da minha esposa, ao compartilharem as alegrias e tristezas da trajetória do time.

E  então, o Corinthians chega a uma final inédita. A final da tão sonhada “Copa Libertadores da América”, título que o time não tem e que é motivo de tanta gozação por parte dos rivais. E eis minha mulher e meu sogro torcendo e sofrendo. Desejando profundamente ver seu time ganhar desta vez.

No dia 27 último, primeiro jogo da final contra o time argentino Boca Juniors, eu fiquei no escritório. Pretendia ler e/ou escrever enquanto minha esposa torcia na sala. Mas não consegui. Primeiro em espaços mais longos depois cada vez mais frequentemente, peguei-me indo até a sala e acompanhando trechos da partida. Ansioso, perguntava quanto tempo ainda havia de jogo e como estava indo o time. Depois do gol do Boca, fiquei triste. Decepcionado como nunca por um jogo de futebol. E no empate, pulei junto com a Juliana e, abraçados, senti as lágrimas dela escorrendo pelo meu peito.

Virei corintiano? Passei a gostar de futebol? O próximo passo é começar a jogar? Não. Nada disso. Apenas revivi algo que já sabia, mas que agora se manifesta através do esporte e do time. Revivi que amar é descobrir a felicidade na alegria de quem se ama.

Hoje é a final. Não sei se o Corinthians vai ganhar. Quero que ganhe porque quero ver a “minha pequena” feliz. Quero que ganhe porque acabo fazendo parte de uma cadeia de afeto que vem do seu avô e chega a ela, passando pelo meu sogro. Se ganhar, vou comemorar junto com ela. Mas se não, ainda assim estarei na “corrente de afeto” dela e da família, ainda que compartilhando a frustração.

De qualquer modo, com todo respeito aos outros times: Força Timão!

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