A disciplina da meditação, é, como temos visto, a parte mais importante do Budismo e do seu Caminho. De fato, através dela pode-se chegar ao desapego, ao fim das ilusões, do sofrimento psicológico e finalmente, ao Nirvana, a Iluminação.
Porém, o que é meditar? Milhares de livros tem sido escritos, palestras ministradas e cursos dados prometendo o ensino da meditação de forma rápida e eficiente. Ora, com o perdão da maneira franca de expressão, a maioria desses livros, cursos e palestras não passa de pura enganação e forma de ganhar dinheiro, ou ainda uma mistura de tradições , que, malgrado a boa fé de alguns instrutores e praticantes, mais confunde do que ajuda. Em anos de estudo, temos encontrado toda sorte de pessoas e obras. Com raras exceções, a maioria se enquadra no que dissemos acima. Por quê?
Porque a meditação é, como já foi dito, um caminho muito simples e complicado, ao mesmo tempo. Meditar, na concepção budista, significa “observar corpo e mente”. Ao meditarmos, não estamos procurando nada. Não estamos em busca de outra coisa senão observar o fluxo de nossos pensamentos, identifica-los e nos “libertarmos” deles. Ao se iniciar a prática, milhares de pensamentos nos ocorrem. Pensamentos de alegria, bem estar, tristeza, mau estar. Pensamentos de expectativa, euforia, depressão, e pessimismo. Pensamentos indiferentes e até mesmo, no limite, premonições e pequenas visões.
Mas, considerando-se que para o Budismo esse fluxo de pensamentos desordenados não passa de um reflexo de nossos desejos, apegos e idéias pré concebidas, o praticante não deve se apegar a nenhum pensamento que lhe ocorra. Ao contrário, deve identificá-lo (“esse é um pensamento de alegria, esse de tristeza e assim por diante”) e estar consciente de que ele passará, mudará. De que é somente um momento da mente e do corpo, mas não sua totalidade nem imutável.
A respiração controlada é a “âncora” que nos ajuda a manter esse distanciamento do fluxo dos pensamentos, rompendo a cadeia que, durante o tempo normal, nos envolve totalmente. Porém, mesmo a respiração não deve ser o centro de nossas atividades. Não existe um centro. Existe somente o “deixar passar”, respirando calma e profundamente e deixando que os pensamentos, sensações e idéias venham e vão.
Parece sem sentido, não? Sim, porque nós estamos acostumados a buscar algo sempre. O desapego total, parece na melhor das hipóteses uma perda de tempo, e na pior, uma loucura impossível. O praticante porém sabe que não há tempo a perder ou ganhar. E a loucura maior está no fluxo atordoante de sensações que experimentamos no dia a dia. Numa mesma hora podemos ir da euforia ao desespero e voltarmos a euforia. Isso não é uma “loucura”?
A esta altura, talvez o leitor esteja se perguntando: afinal, para que serve então. Qual o objetivo? A longo prazo, podemos dizer que o objetivo é a Iluminação, o Nirvana. Porém ao meditarmos, devemos nos esquecer até mesmo do Nirvana. Devemos simplesmente estar ali. Nenhum objetivo, por mais nobre que seja, deve se sobrepor à simples observação de nosso corpo e mente e nosso fluxo de idéias. Isso porque, mesmo o mais nobre objetivo pode tornar-se uma prisão, uma obsessão, como tantas outras que nos envolvem o dia todo (como sexo, dinheiro, poder, e tantas outras) Assim, o desapego deve ser total, inclusive renunciando a própria Iluminação.
Uma vez que conseguimos chegar a este estado de desapego e de “leveza” mental, o sentido então se revela. Não há nada de misterioso nisso. Simplesmente, uma vez desapegados, conseguimos perceber que o grande milagre da existência não está em “transformar chumbo em ouro”, ou desenvolver poderes extra – sensoriais. Mais em ter a consciência, para além de nossas mesquinhas prisões dos desejos, do milagre impressionante que é estar vivo. E isso é a realidade. Quem pode explicar a vida, um dia de sol, o canto dos pássaros? Quem explicar o sabor dos alimentos e o perfume das plantas. Mesmo a morte, que a pode explicar? Assim, estar nesse mundo é um milagre, estar vivo é um milagre. Meditar é abrir a mente para isso, o que nem sempre fazemos. Tão perdidos estamos em nossos próprios pensamentos e ilusões, que não percebemos a riqueza que nos cerca e está na simplicidade.
Por isso, para além de qualquer mistério, de qualquer mestre, de qualquer livro ou curso, a felicidade pode ser alcançada dessa maneira, meditando, ainda que sozinho. Claro que a presença de um mestre idôneo é sempre melhor, e ajuda e muito nessa tarefa. Mas, infelizmente, nesses tempos de comércio e charlatanismo, além de muitos iludidos por seus “poderes”, mestres assim são raros. Isso, porém, não nos impede de buscarmos. O mais importante é tentar, experimentar. E tomar muito cuidado com o “fast – food” budista que muitos livros e pessoas tentam nos vender.
Carla Betta
31 de julho de 2012
Silêncio
Antigamente nós encontrávamos lugares tranquilos para praticar silêncio e nos perguntar: Quem sou eu? Mas atualmente parece que ninguém tem tempo para o silêncio. O foco de todos não parece ser esse. Em silêncio podemos ver muitas coisas sobre nós mesmos, caso contrário ficamos vendo apenas as coisas do mundo exterior. Deixe que haja essa realização: Eu tenho que fazer esse esforço agora (Dadi Janki).
Mas, eu, euzinha, tenho muita dificuldade com o silêncio e não consigo -ainda, espero- ficar com o pensamento limpo, focandoo nada…
blogdoamstalden
31 de julho de 2012
O caminho já é o resultado Carla…
Alexandre Diniz
3 de janeiro de 2013
Fantástica apresentação professor! Retomando o que foi dito na postagem anterior, que nossos pensamentos são como macacos inquietos, podemos perceber que este é um dos motivos que nos levam à exaustão no final de um dia por exemplo – a nossa mente também se cansa por ficar pulando de pensamentos em pensamentos.
Também vejo que ao controlar nossa mente, podemos estudar melhor.
Abraços!
blogdoamstalden
20 de janeiro de 2013
A imagem dos macacos pulando de galho em galho são uma das metáforas do budismo para exemplificar a inconstância de nossos pensamentos. Vc. acertou em cheio
Reginaldo
14 de outubro de 2013
Ok, meu irmão! Agora me sinto mais instrumentalizado para caminhar nessa senda. Instrumentalizado significa mais leve, menos carregado de intenções. Muito obrigado!
Fátima Ramos
21 de outubro de 2014
Simples e claro!Obrigada
blogdoamstalden
21 de outubro de 2014
Que bom que você gostou, Fátima. Obrigado por comentar. Abraço.
Shirley Bruschi de Abreu
13 de agosto de 2015
Eu sempre pensava:” Ficar aqui sentada e tentar fazer uma coisa que não entendo, não esta fazendo sentido nenhum, pois penso, penso, penso, enfim, a mente não para!”
Então, leio esta pagina e agradeço, pois estou conseguindo entender e, praticando com melhores resultados. Muito obrigada!
blogdoamstalden
17 de setembro de 2015
Você me honra com esse comentário Shirley.