Budismo VII – Meditação: A Chave do Nirvana. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 23 de julho de 2012 por

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A disciplina da meditação, é, como temos visto,  a parte mais importante do Budismo e do seu Caminho. De fato, através dela pode-se chegar ao desapego, ao fim das ilusões, do sofrimento psicológico e finalmente, ao Nirvana, a Iluminação.

 Porém, o que é meditar? Milhares de livros tem sido escritos, palestras ministradas e cursos dados prometendo o ensino da meditação de forma rápida e eficiente. Ora, com o perdão da maneira franca de expressão, a maioria desses livros, cursos e palestras não passa de pura enganação e forma  de ganhar dinheiro, ou ainda uma mistura de tradições , que, malgrado a boa fé de alguns instrutores e praticantes, mais confunde do que ajuda.  Em anos de estudo, temos encontrado toda sorte de pessoas e obras. Com raras exceções, a maioria se enquadra no que dissemos acima. Por quê?

 Porque a meditação é, como já foi dito, um caminho muito simples e complicado, ao mesmo tempo. Meditar, na concepção budista, significa “observar corpo e mente”. Ao meditarmos, não estamos procurando nada. Não estamos em busca de outra coisa senão observar o fluxo de nossos pensamentos, identifica-los e nos “libertarmos” deles. Ao se iniciar a prática, milhares de pensamentos nos ocorrem. Pensamentos de alegria, bem estar, tristeza, mau estar. Pensamentos de expectativa, euforia, depressão, e pessimismo. Pensamentos indiferentes e até mesmo, no limite, premonições e pequenas visões.

 Mas, considerando-se que para o Budismo esse fluxo de pensamentos desordenados não passa de um reflexo de nossos desejos, apegos e idéias pré concebidas, o praticante não deve se apegar a nenhum pensamento que lhe ocorra. Ao contrário, deve identificá-lo (“esse é um pensamento de alegria, esse de tristeza e assim por diante”) e estar consciente de que ele passará, mudará. De que é somente um momento da mente e do corpo, mas não sua totalidade nem imutável.

 A respiração controlada é a “âncora” que nos ajuda a manter esse distanciamento do fluxo dos pensamentos, rompendo a cadeia que, durante o tempo normal, nos envolve totalmente. Porém, mesmo a respiração não deve ser o centro de nossas atividades. Não existe um centro. Existe somente o “deixar passar”, respirando calma e profundamente e deixando que os pensamentos, sensações e idéias venham e vão.

 Parece sem sentido, não? Sim, porque nós estamos acostumados a buscar algo sempre. O desapego total, parece na melhor das hipóteses uma perda de tempo, e na pior, uma loucura impossível. O praticante porém sabe que não há tempo a perder ou ganhar. E a loucura maior está no fluxo atordoante de sensações que experimentamos no dia a dia. Numa mesma hora podemos ir da euforia ao desespero e voltarmos a euforia.  Isso não é uma “loucura”?

A esta altura, talvez o leitor esteja se perguntando: afinal, para que serve então. Qual o objetivo? A longo prazo, podemos dizer que o objetivo é a Iluminação, o Nirvana. Porém ao meditarmos, devemos nos esquecer até mesmo do Nirvana. Devemos simplesmente estar ali. Nenhum objetivo, por mais nobre que seja, deve se sobrepor  à simples observação de nosso corpo e mente e nosso fluxo de idéias. Isso porque, mesmo o mais nobre objetivo pode tornar-se uma prisão, uma obsessão, como tantas outras que nos envolvem o dia todo (como sexo, dinheiro, poder, e tantas outras) Assim, o desapego deve ser total, inclusive renunciando a própria Iluminação.

 Uma vez que conseguimos chegar a este estado de desapego e de “leveza” mental, o sentido então se revela. Não há nada de misterioso nisso. Simplesmente, uma vez desapegados, conseguimos perceber que o grande milagre da existência não está em “transformar chumbo em ouro”, ou desenvolver poderes extra – sensoriais. Mais em ter a consciência, para além de nossas mesquinhas prisões dos desejos, do milagre impressionante que é estar vivo.  E isso é a realidade. Quem pode explicar a vida, um dia de sol, o canto dos pássaros? Quem  explicar o sabor dos alimentos e o perfume das plantas. Mesmo a morte, que a pode explicar? Assim, estar nesse mundo é um milagre, estar vivo é um milagre. Meditar é abrir a mente para isso, o que nem sempre fazemos. Tão perdidos estamos em nossos próprios pensamentos e ilusões, que não percebemos a riqueza que nos cerca e está na simplicidade.

 Por isso, para além de qualquer mistério, de qualquer mestre, de qualquer livro ou curso, a felicidade pode ser alcançada dessa maneira, meditando, ainda que sozinho. Claro que a  presença de um mestre idôneo é sempre melhor, e ajuda e muito nessa tarefa. Mas, infelizmente, nesses tempos de comércio e charlatanismo, além de muitos iludidos por seus “poderes”, mestres assim são raros. Isso, porém, não nos impede de buscarmos. O mais importante é tentar, experimentar. E tomar muito cuidado com o “fast – food” budista que muitos livros e pessoas tentam nos vender.

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