Depois de um tempo sem escrever ao blog, e um longo tempo de reflexão sobre as visões pessimistas da educação brasileira, resolvi dar continuidade a nossa série sobre a ciência jovem. Apesar do meu período de isolamento (em relação ao blog) coincidir com a greve dos professores das universidades federais, e meu retorno também coincidir com um possível desfecho da greve acho que todo esse período foi bom para a valorização da ciência e educação brasileira, apesar de ainda estar longe do ideal. Sinto pelos alunos que estão prestes a se formar e foram prejudicados por esta parada, mas ao pensar na contribuição para o futuro pode ser que este movimento seja um ponto marcante para a valorização da ciência.
Mas voltando a tratar do nosso assunto, tentei abordar nas primeiras duas postagens questões como: “o que é” e “quem faz este movimento de incentivo à ciência”?. Depois dessas apresentações iniciais e movidos pelos comentários e outro artigos aqui publicados, resolvi explorar, neste terceiro texto, um pouco da minha vivência dentro deste movimento.
A escolha desta temática deve-se a um evento ocorrido semana passada, quando apresentei um seminário sobre a ciência jovem para a turma de Pós-Graduação do Sensoriamento Remoto do INPE. O que mais me impressionou durante a apresentação foi observar a reação dos espectadores, ao “descobrirem” o que é a ciência jovem, e o que ela tem proporcionado para a humanidade. Escrevo aqui humanidade pelos resultados apresentados da última Intel ISEF, evento realizado em Maio de 2012 onde cumprimentei a delegação brasileira em meu último post aqui no blog. Durante e após este evento, um garoto estadunidense de apenas 15 anos ganhou muito destaque na mídia internacional por ter criado um exame de baixo custo para identificação de câncer pancreático, não apenas ter criado um exame 26000 vezes mais barato (segundo a revista Veja), o seu projeto também identifica a doença em um período mais rápido que os exames convencionais podendo até identificar a doença antes que o tumor se torne invasivo.
Descobertas como esta podem auxiliar toda a população mundial, mas o que isso tem a ver com a vivência de um participante do movimento? Este exemplo do trabalho de Jack Andraka mostra exatamente o que um participante de ciência jovem sofre, principalmente no Brasil, pois para desenvolver projetos como este é necessário o apoio de uma instituição de pesquisa, de uma universidade, porém há um grande pré-conceito com os “jovens cientistas” pelos cientistas e professores, pois estes não colocam fé nas ideias de uma “criança”. Para a minha sorte eu não sofri muito com isso, pois fui bem apadrinhado, porém algo interessante da história de Jack é que ele mandou 200 cartas para instituições de pesquisas para poder desenvolver a sua ideia, 197 disseram não, 2 nem sequer tiveram o trabalho de responder e quando só restava 1 resposta faltando, veio a resposta da Universidade John Hopkins, onde eles se interessaram pela proposta do garoto.
Mas Jack é um exemplo, não só por não desistir de respostas negativas e continuar acreditando no seu trabalho, mas por seguir todo aquele processo que eu descrevi no post anterior, onde o estudante apresenta uma proposta de trabalho, e a desenvolve quase sem a ajuda de um orientador. Esta ação permite ao estudante não só a independência cientifica, mas também o desenvolvimento do olhar científico, saber elaborar a sua hipótese e criar uma metodologia para resolver a hipótese criada. Não apenas isso este processo proporciona um amadurecimento para a vida, pois aprendemos a receber resultados negativos e contorná-los; aprendemos que na vida muito depende de uma boa indicação e que as avaliações são subjetivas por isso deve saber agradar ao seu público e saber se adaptar. Aprende-se a respeitar a hierarquia, e mesmo sem concordar, sempre respeitar a opinião dos mais experientes. E o mais importante, NUNCA DESISITIR! Por mais que tudo dê errado, nunca desistir, afinal, problemas existem para serem superados, então por que deixar-se derrubar?
Então para todos aqueles educadores que ainda acham que é impossível despertar a criatividade, o interesse pela ciência em seus alunos, deixou aqui uma reportagem do Fantástico sobre um projeto brasileiro que participou da Intel ISEF deste ano. Olha o trabalho desta professora, e para os educadores deixo a pergunta, o quanto você está trabalhando para a ciência jovem?
http://www.youtube.com/watch?v=I-4K0qyQHms&feature=share
Igor Ogashawara é Mestrando em Sensoriamento Remoto pelo INPE e Representante da ICYS no Brasil
Ninfa Sampronha Barreiros
29 de julho de 2012
Muito bom o artigo. Na maioria das vêzes é isso que acontece com a ciência quando se trata de um olhar jovem para com ela. Portas são fechadas. Não há incentivo para essas mentes jovens nem por parte dos órgãos públicos como de empresas privadas, quantas vidas não são salvas precocemente e depois dizem que a ciênca só reinventa a roda! Boa reflexão essa em tempos grevistas. Sucesso