O tema “segurança” é ótimo porque tem várias perspectivas, vários ângulos para serem abordados todos eles, quase sem exceção, despertam paixões e permitem várias visitas e vários textos.
O que eu pretendo abordar neste texto é o “custo” da segurança ( ou da falta de segurança), já que costumo “brincar” dizendo que eu, pelo menos, pago pela segurança no mínimo três vezes: quando pago meus impostos, quando pago o “monitoramento” de minha casa e de meu local de trabalho ( esse último divido com meus sócios) e quando pago um sujeito que tem uma guarita na rua da minha casa.
Eu poderia acrescentar muitos outros: o estacionamento dos lugares onde vou; o seguro contra roubo e furto de minha casa e meu carro ( eu poderia só considerar os acidentes e tentar baratear o preço)….
Existe também os custos indiretos: eu prefiro ir a Shoppings – ser roubado pelo estacionamento/custo deles é bem menos traumatizante que correr o risco de ser atacado na rua.
Afinal, não se pode ser ingênuo e acreditar que o aparato de segurança que os centros comerciais operam não tem seu custo repassado ao consumidor.
O problema é que alguns custos não se traduzem em segurança mas sim numa aparente sensação de segurança, que não corresponde a realidade.
O caso mais óbvio são os chamados “flanelinhas” ou guardadores de rua, o custo desses não se traduz em segurança: paga-se para não se ter o carro vandalizado.
Menos óbvio são os seguranças de shoppings e centros comerciais, o custo da supostoasegurança é, obviamente, repassado ao consumidor de diversas formas, mas o questionável é se isso se traduz em segurança.
O segurança de um centro comercial não está lá para proteger o consumidor, o usuário que é quem o paga, mas para defender o seu “senhor”.
Próximo a minha casa tem um centro comercial onde os seguranças são “especializados” em gritar ou achacar os usuários, afinal é fácil gritar com a velhinha que parou seu carro um pouco torto ou “escoltar” o consumidor que parou em uma vaga “reservada” ( não tem marcação, essa vaga é aleatoriamente determinada pela equipe de segurança) a um dos comerciantes. Mas quando uma quadrilha foi explodir um caixa eletrônico dentro do centro comercial, a valentia desapareceu. Por sorte sem vítimas.
Para que não se argumente que eles estão protegendo propriedade privada eu esclareço: os seguranças desse centro comercial controlam não apenas a parte interna e o estacionamento, mas também as calçadas próximas ao mesmo.
Aliás, explosão de caixas eletrônicos dá outro artigo: explosivo não é controlado pelo exército? Cadê o controle?
A guarita próxima a minha casa é outra dessas idiossincrasias criadas por um estado sem segurança: O sujeito instalou uma guarita próximo a minha casa e passou a cobrar os moradores da rua.
Inacreditavelmente, o poder municipal que deveria fiscalizar o solo não faz nada sobre o assunto, pior, a polícia passou a exigir do “dono” da guarita uma lista de concordância de pelo menos dez moradores. Quem coleta as assinaturas é o próprio dono da guarita. Agora pergunto: você está defronte ao portão de sua casa, com mulher e filhos, o sujeito ( que fica 24 horas por dia na sua rua, de frente para sua casa,) vem com um “abaixo assinado” para você assinar concordando com a presença dele.
Você recusaria? Eu não. O Estado não me provê de tanta segurança por tanto tempo para me proteger da retaliação dele.
O artigo 144 da Constituição diz: “A segurança pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos…”.
O artigo 144 lista os órgãos que devem preservar a ordem pública, das quais cito: policias federal, rodoviária federal, ferroviária federal, policias civis, policias militares e ainda abre uma brecha para guardas municipais.
Aí o Estado diz em regulamentar a profissão de “flanelinha” ( Alguém leu o artigo 144 da Consituição?), permite que seguranças particulares, privados, donos de guarita e assemlhados tomem conta das ruas, calçadas avenidas e cobrem por isso ( Alguém leu o artigo 144 da Constituição?).
Como não cumpre seu dever em relação a segurança parte-se para a retórica de por a culpa na vítima: “claro que foi assaltado/roubado/furtado, precisava andar com esse tipo de carro/relógio?/roupa?”.
Essa retórica é perversa pois pode gerar a seguinte resposta: quem ostenta paga mais impostos certo? Carro mais caro é IPVA mais alto, mais lucros representam mais impostos.
A lógica é absurda: não vamos desenvolver o país, afinal, desenvolvimento gera ostentação ( comprar o primeiro carro usado ou popular é um tipo de ostentação certo? então não falamos só dos ricos), quem ostenta quer ser roubado.
Paremos nossas indústrias portanto?
Perverso é pensar que segurança não é apenas o aparelhamento policial ( não apenas em equipamento mas nas pessoas dos policiais), presídios, Poder Judiciário mais eficiente. Segurança é investir na saúde, na educação ( ensino formal e também no caráter) e na formação de empregos.
Perverso é que a origem de tudo é a impunidade: desde o “colarinho branco” que não usa nossos impostos corretamente até o “ladrão de galinhas”, que sabe que não será punido porque o “colarinho branco” não fez a parte dele.
Ricardo Augusto Chiminazzo é Advogado na cidade de Campinas.
Posted on 7 de agosto de 2012 por blogdoamstalden
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