Em 2008, aliás data em que realizamos nossas últimas eleições municipais, a ONU declarou que pela primeira vez na História da humanidade a população urbana se tornava maior do que a rural. Isso significa, na prática, que está consolidada a urbanização e, com ela, uma imensa série de problemas novos ou antigos com novas características.
O lixo urbano, por exemplo que sempre foi um problema mas que agora é gerado com muito mais velocidade e em muito maior volume, dado a concentração da população e a histeria consumista de nosso tempo. Onde colocar todo ele? Como lidar com ele de maneira a que não nos “afoguemos” em nossos próprios detritos? Como coletá-lo de maneira eficiente, econômica e sem causar enormes danos ambientais?
Da mesma forma os serviços urbanos. Imagine um número cada vez maior de pessoas concentradas e precisando de assistência de saúde, de educação, de energia, vias públicas etc. Você acredita que a situação é a mesma de vinte, trinta anos atrás? Se acredita, a ONU não. Tanto que ela alerta para a necessidade de novas formas de gestão com responsabilidade e em direção a sustentabilidade. Meu amigo e orientador, Prof. Daniel Hogan, pouco antes de falecer havia conseguido a aprovação de um grande projeto para pesquisar a questão das mega cidades, como temos chamado a situação urbana atual. Enquanto eu o visitava no hospital, falamos disso e da sua preocupação e entusiasmo em pesquisar buscando novas soluções. Infelizmente, Daniel não pode dar sequência ao projeto. E ele tinha o fundamental para fazer uma grande pesquisa. Tinha a humildade para admitir que o desafio é enorme e que não temos todas as respostas. Tinha também a consciência de que sem ouvir e entender todos os setores da sociedade, não chegaríamos a conhecer a fundo os problemas e, muito menos, propor soluções.
É por isso, dentre outras coisas, que acho muito engraçado quando alguém diz que deve ser eleito para este ou aquele cargo público porque, acima de tudo, tem experiência. Claro, experiência é muito importante na vida e não somente para cargos, mas para todas as nossas atividades. Entretanto, diante de desafios tão novos para administrar uma sociedade cada vez mais diferente e sempre dinâmica, quem disser que tem experiência e conhecimentos suficientes para resolver e dar conta do desafio, ou é um tolo ou um mentiroso.
Ao invés disso, de políticos com “experiência”, penso que seria mais adequado termos políticos com humildade de aprender e conhecer. De dialogar com a sociedade para buscar uma cidade harmônica e sustentável. Esta necessidade de ouvir, dialogar e entender era a humildade que a experiência tinha ensinado a Daniel, um cientista mundialmente renomado. Alguém que diz ser experiente deveria nos admitir isso: que sua prática lhe ensinou a humildade.
Por outro lado, talvez lá no fundo, os candidatos que arrogam grande experiência estejam apenas manifestando seu autoritarismo, sua incapacidade de dialogar, de buscar soluções coletivas. Ou talvez eles estejam alardeando sua experiência em outra coisa que não o bem público, a experiência em se manter no poder a qualquer custo, mesmo que seja ao custo de promessas ilusórias. Pode ser isso. Pode ser um ato falho que trai a onipotência arrogante ou pode ser um ato falho que trai a experiência em iludir para se manter.
Mas o mais importante não é o que eles pensam, e sim o que nós somos capazes de pensar. Na hora de escolher, é fácil acreditar que alguém fará por nós. Alguém conhece o que não conhecemos e vai resolver nossos problemas coletivos. No fundo penso que queremos acreditar nisso, num líder onipotente capaz de nos guiar e, de quebra, de nos “poupar” o trabalho de pensar, buscar, opinar e construir.
No entanto, pelo menos para mim, que tive grandes mestres experientes como Daniel Hogan, esta esperança de que haja alguém que vai nos redimir é pura bobagem. Somos seres coletivos em comunidades urbanas cada vez maiores, enfrentando problemas novos e muito sérios. Ninguém vai resolver isso sozinho até porque ninguém conhece a fundo todos os desafios que virão. A solução, o futuro, deverá ser uma construção coletiva do conhecimento e da inovação através do diálogo e da participação. Sem isso não vamos dar conta do que vem pela frente. Só vamos confiar em tolos ou mentirosos que nos custarão caro, muito caro.
Posted on 4 de outubro de 2012 por blogdoamstalden
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