Segundo a imprensa local, a avaliação da atual administração municipal atingiu em setembro último 95,7% de aprovação, e seu candidato 57% nas intenções de voto. Tomando como certo o dito popular que diz que cada povo tem o governo que merece e viceversa, os dados combinam; porém confirmam uma verdade preocupante.
Se a “voz do povo é a voz de Deus” como dizem, esse prefeito veio do céu. Mas, se veio, foi para os ricos porque raramente o vi entre os pobres. Desmintam-me os que – exceto em inaugurações – o viram informalmente nas favelas, na periferia entre adolescentes, nas creches, nos CRAS, nas unidades de saúde, nos terminais de ônibus, nos alojamentos dos peões que erguem a cidade que ele está fazendo e nas filas do SUS.
Donde vem, então, tamanha aprovação? A resposta, a meu ver, está no conceito que a população tem de cidade e de governante. Um administrador que não almeja a transformação da sociedade, mas sabe como pensa o povo, tem grandes chances de ser aclamado rei e coroar o sucessor. Providencialmente excluída do conhecimento, a massa tem sua lógica. Curte o espetáculo, a magia, o luxo, a ousadia, o impacto, o descartável. De dureza basta a vida e de sobreviver no limite ela é mestra. Para ela, uma escola com piso de granito, móveis bonitos e material chique já é o máximo. O que se passa lá dentro – exceto descuido com seu filho – não lhe diz respeito.
Um administrador com mangas arregaçadas, capacete na cabeça, plantas nas mãos caminhando com empreiteiros entre tijolos, máquinas e ferragens e que trata os funcionários com ração mínima e sem regalias, passa imagem de empreendedor decidido, ágil, arrojado e austero. E a melhor propagando de um governo é a máquina pública em contínuo funcionamento, cuja baixa qualidade nunca lhe é imputada. Uma obra por dia foi a marca dessa administração, que impôs à cidade um ritmo frenético. Isso é lindo para uma população que puxa para si as causas das próprias mazelas. “Vida de gado. Povo marcado e povo feliz”.
É quanto à mentalidade da maioria que os dados acima preocupam, porque a administração municipal que se encerra foi fiel à sua matriz ideológica, e nesse sentido fez coisas importantes. Cito por exemplo a mobilidade. Construiu pontes e viadutos imponentes, alargou avenidas e fez o que pode para dar vazão a fluxo crescente de automóveis já que priorizou o transporte particular para agradar a massa. Na saúde fez a mesma coisa por achar que o sistema tem que zerar filas e não gastar tempo com questões psicossomáticas. No esporte investiu na conquista de troféus e de medalhas por entender que esporte é rendimento e não congraçamento. Casa própria foi vista como questão de sorte, por isso manteve os sorteios; regularizou situações consumadas e privatizou o espaço transformando a cidade num arquipélago de condomínios. Na educação construiu dezenas de escolas e a qualificação que fez foi visando melhor pontuação no IDEB. Por ver segurança como caso de polícia e de isolamento dos contraventores, armou a Guarda Civil, instalou câmeras, trouxe a Fundação CASA e por último um presídio. Para causar impacto e justificar sua obsoleta crença em que sem arrecadação não dá para governar, trouxe uma empresa grande por não acreditar que pequenas geram mais empregos e desenvolvimento.
Com os poderes e poderosos os seus pés o rei, mesmo com um olho só, reinou absoluto. A plebe aprovou uma administração que não a aborreceu com incômodas reuniões de participação, nem cobrou sua responsabilidade na discussão das causas dos problemas e seu envolvimento na construção de uma cidade sustentável e justa. Como trilhos de trem, povo e governo caminharam lado a lado sem nunca se encontrar.
Mas não nos preocupemos, o rei sabe o que é melhor para todos.
Portanto, save the king!
Antônio Carlos Danelon é Assistente Social
Valmir Rodrigues
5 de outubro de 2012
Não tenho nem palavras para comentar REALIDADE PURA !!, a unica coisa, é que a maioria vive entre os PEBLEUS, pois o castelo são para poucos. Resta lhes, quando a Monarquia desfila, aplaudi-los sem saber o porque. Mas o importante é estar no meio da massa aplaudindo, mesmo que por um momento esquecamos nossas desgraças. Ou optar por arregaçar as mangas e usar da unica arma que o povo dispõe,O VOTO
Pedro
5 de outubro de 2012
realmente o texto eh brilhante!
mas to longe de concordar que o voto é a unica arma de que o povo tem opçao. mto pelo contrario, é apenas um dos diversos fatores perigosos pro statuos quo, mas que o msm engloba para si, assim como o faz com qualquer sombra que se mexa ameaçadoramente contra ele. o sistema tem um sistema de auto defesa de fato MTO eficaz.
acho q a questao se concentra em cada um de nós dar sempre o melhor de si, e isso, se tivermos em mente que o objetivo de cada um É SEMPRE progredir, MELHORAR, pode conseuqnetemente constituir um ciclo interessante de evoluçao.
ateh onde isso irah durar, onde vai chegar, acho dificil dizer, mas acho que o caminho é a integraçao, se nós discordamos tanto desses 95% que acham que tah muito ótimo esse lixo todo que foi a politica desse prefeito esses anos todos (que pra mim foram MTO MAIS DE REGRESSÃO, um retrocesso imenso para a cidade e pq nao, pra regiao tambem, pra nao dizer para nós como seres humanos e coletividade no mais amplo sentido) não é pra simplesmente virar a cara e ignorar, TODOS TEM SUA PARCELA DE RESPONSABILIDADE e não se pode fugir disso!
ao inves disso, pq nao integrar da forma mais aberta que cada um de nós tiver apto a fazer?, pq não explorar e maximizar o quanto possivel os diversos conhecimentos, experiencias, vivencias, VIVENCIAR de fato… o cliche ‘a uniao faz a força’, quando entendido na essencia por cada um, é realmente libertador e revolucionador. cada um cresce como individuo, o crescimento dos individuos leva a um crescimento ainda maior do todo, um crescimento aumentado e multiplicado em mto! devido as diversas relaçoes e trocas…
Pedro
5 de outubro de 2012
e só pra concluir, eu sinceramente espero mto que os politicos sejam apenas uma das classes a serem extintas dentro do tempo que tiver que ser, mas claro, isso a seu tempo…tudo tem seu tempo de maturação.
mas ateh por isso as trocas entre individuos sao tao importantes e essenciais. TODOS querem melhorar, a questao eh ateh onde cada um tah disposto a abrir mao dentro da sua realidade forjada a que é submetido hj em dia. e ateh onde ele pode (por motivos diversos) refletir sobre isso.. pq eh algo que tem ser alinhado, teoria-praxis
Kaique Rossini
5 de outubro de 2012
Aplaudi em pé este texto, se alguém visse me internava
blogdoamstalden
5 de outubro de 2012
De fato o Totó mandou muito bem. Concordo. Abraço.
Leo Carlim
5 de outubro de 2012
Concordo integralmente. Uma análise excelente e realista do cenário atual.
Renan
5 de outubro de 2012
Analise, perfeita, achava estranho tanta aprovação, isso explica tudo.
Gleison
6 de outubro de 2012
Parabéns ao Totó, que já foi até chamado de “louco” por um imbecil, na seção de cartas do JP. “Louco” por ir contra a maioria, por enxergar o que a alienação da grande maioria da população não consegue. Louco? se isso é ser louco, eu também sou, com orgulho! prefiro ser rotulado de louco do que fazer este papel de submissão e alienação!
Tainá Moura
7 de outubro de 2012
Resultado da Votação: prevaleceu as pontes de Piracicaba 😦
Tainá Moura
7 de outubro de 2012
Parabéns pelo texto!! Excelente!
Antonio Carlos Danelon
9 de outubro de 2012
Se em pé Kaique aplaudiu meu texto, comovido, curvo-me até o solo em agradecimento aos comentários que você fizeram. Fico contente por ter ajudado a trazer para fora o grito sufocado de tanta gente que sofre por ver que o rumo que estão impondo à massa vai acabar em nada e todos nós vamos sofrer com isso. É evidente que uma sociedade sustentável e justa se faz com a participação e a contribuição das crianças, dos adultos, idosos, portadores de necessidades, pobres, ricos, patrões, empregados, presos e livres. Oxalá o príncipe herdeiro – já que não aceita a participação popular porque se julga a sabedoria em pessoa – tenha mais sensibilidade e bom senso para governar que o Gepeto que o fabricou. De nossa parte continuemos a clamar e a importunar com nossa voz e com nosso modo de viver sóbrio e transparente.. Somos poucos, mas suficientes para tirar-lhes o sossego.