Os resultados da última eleição mostram que não foram somente os 16 vereadores que aprovaram para si o exagerado aumento de 66%, mas também as pouco mais de 42 mil pessoas que neles votaram. Excluindo assessores, familiares, agregados e os diretamente beneficiados, política e economicamente, que tipo de gente será essa que abona parlamentares reprovados pela maioria? Teria razão um deles quando disse: “Todo vereador precisa ajudar seu eleitor, seja com cesta básica, seja com uma cirurgia, e quem não faz isso não consegue se eleger na eleição seguinte”? (A Tribuna 26.03.09). Vendo de longe se tem a impressão de curral eleitoral, tanto que o mais inexpressivo deles foi o mais votado; outros bateram na trave. Talvez duma análise acurada do mapa eleitoral desses políticos possa surgir alguma resposta.
Chega a ser desalentador. Se do total de 188 mil eleitores tirarmos os 42 mil teremos 146 mil votantes, e não conseguimos renovar a Câmara de Vereadores como era o desejo da maioria. Como pode 42 mil ser ter mais representação que 146 mil? Alguma coisa está errada.
Nesse sentido, vejo uma revolução silenciosa ganhando corpo e atraindo cada vez mais adeptos. São os que se recusam a participar dessa farsa. Sentem que esse sistema de eleições precisa ser revisto. Sabem que a campanha eleitora é tempo perdido; exposição gratuita de oportunistas e laranjas; dinheiro público devorado pela indústria do voto e por marqueteiros especializados em vender lobos como ovelhas. Na verdade as campanhas são pensadas para enganar o povo. Terminado tão dispendioso processo o eleitor continua na mesma. Quem tem dinheiro ou domina a máquina acaba se (re) elegendo, enquanto candidatos novatos e cheios de idoneidade, idéias e boa vontade precisam ralar corpo e alma para conseguir espaço e convencer o eleitorado que não é mais um mal intencionado.
Sempre achei que quem vota em branco, se abstém ou anula o voto é comodista e omisso. Contudo, observando bem caio na tentação de pensar que certos estão eles, porque na verdade o sistema eleitoral brasileiro não consegue expressar a real vontade popular. Portanto, votar pra quê?
A campanha política teria que ser um tempo de debate sobre deveres e direitos de todos e das instituições; de busca por novos caminhos e de sabatina intensa dos que almejam cargos públicos. A participação da população não pode se resumir a apertar botão e votar em quem faz mais promessas. Um plano estratégico tem que ser pactuado e levado adiante por gestores com alma de estadista. Não dá mais para tolerar remendos e herdeiros de projetos personalistas. Além de trabalhar quase 4 meses para o governo, criar a família e fazer o país progredir querem que o cidadão ache tempo para vigiar políticos corruptos e sem vergonha na cara. Ora, político não merece tolerância. Deve ser cobrado sempre. Nesse sentido, a oposição – ponto de equilíbrio da democracia – é fundamental por estar sempre alerta apontando o rumo certo. Não pode servir de refúgio para aventureiros irresponsáveis que botam a cara a cada 4 anos e depois desaparecem.
Os tombos que muitos cidadãos levaram ao pisar nos “santinhos” que forravam as calçadas nos pontos de votação servem de alerta. Precisamos com urgência de outro sistema eleitoral. A ausência de um número cada vez maior de eleitores nas urnas clama por isso. Ou os políticos e os tribunais eleitorais pensam que o todo mundo é trouxa?
Antônio Carlos Danelon é Assistente Social.
Antonio
17 de dezembro de 2012
Deixar de votar, votar em branco ou nulo, é exatamente o que estes pilantras querem.
Abster-se de qualquer forma é dar ou manter no poder os pilantras que ai estão.
Há também, em minha opinião outro fator, o imediatismo.
A sociedade brasileira em sua maioria quer tudo de imediato.
Muitos pais não se sacrificam pelos filhos, por exemplo pagar uma boa escola.
Claro que as despesas com uma boa escola faz com que deixem de ter alguns bens ou divertimentos.
Não pensam que investindo na educação dos filhos provavelmente os netos é que serão beneficiados.
Acontece com na política a mesma coisa, querem votar e eleger aquele que será o “salvador”, esquecem-se que são pessoas como qualquer um de nós.
Uns custam mais caro outros vendem-se por pouco mas, todos em geral querem se dar bem.
Se votamos e erramos, aquele em quem votamos e seu grupo nunca mais deveria receber nosso voto.
Colocar que o sistema não serve é uma opinião e uma solução simplista que serve apenas aos que estão no poder.
Que mudança deve ser feita?
Feita a crítica é sempre bom oferecer ou apresentar a alternativa!
Se não fazemos isto, é crítica vazia e sem sentido, sem foco e sem objetivo.
Panfletagem, nada mais!
Educação e noção de cidadania é o que falta.
Antonio Carlos Danelon
18 de dezembro de 2012
Certo. Porém que tipo de cidadão essa escola que está aí tanto pública quanto privada, cara ou barata tem formado? Ainda estamos no tempo do giz e da lousa, da submissão e da concorrencia, do enquadramento, do individualismo, da carteira enfileirada. Antigamente se ia à escola com um bolsa e alguns cadernos. Hoje os pais se enteram em dívidas com materiais que não resolvem nada. A escola de hoje forma cidadãos críticos ou os capacita para as indústrias e para um bom conceito na pontuação do governo e assim ganhar mais status?
Antonio
19 de dezembro de 2012
A resposta ás suas perguntas é forma exatamente o que colocou, individualistas competitivos.
O giz e a lousa nada tem a ver com a boa escola que pode existir quando a direção e os professores estão imbuídos da missão de formar cidadãos.
Você fala do individualismo mas, recordando um artigo seu publicado aqui mesmo, lembro que dizia sobre as creches fecharem mais cedo. Lembra?
Vá lá ler o que escrevi!
O individualismo começa no que escreve.
Passou por vc a idéia de estabelecer turnos para que as pessoas que dependem das creches pudessem exercer seu trabalho?
Quando escreveu seu texto, estava sendo individualista, pensava em vc e nos seus colegas que ficavam tempo maior do que consideravam justo.
Usando uma frase antológica de Adolfo Bloch que russo de nascimento, foi um grande brasileiro, a respeito das críticas que faz à lousa e ao giz digo:
Se eu der a você uma caneta de ouro, escreverá um livro que será premiado pelo Prêmio Nobel?
A escola de hoje forma bucha de canhão para ser usada pelo capital, leia Willem Reich, vai entender o que digo.
Quanto á pontuação, se os sindicatos não fossem dominados pela política poderiam mobilizar os professores e diretores para se insurgirem contra determinações dos governos que impõe regras como estas.
Quantos colegas seus e vc mesmo participa do sindicato sem ter olhos para a política ou para conseguir uma diretoria de ensino ou coisa que o valha?
Em outra resposta ao site fiz menção de usarmos o blog para trabalhar por algo útil da mesma forma que foi feito com a Lei da Ficha limpa. Não houve resposta!
Ficar escrevendo e reclamando sem efetivamente ao menos tentar fazer algo me parece panfletagem sem sentido prático.
Eduardo Stella
20 de dezembro de 2012
Camarada Antonio. Entendo vosso anseio e de parte comparilho alguns deles.
Mas me dizeis que o homem não é um ser político por natureza e serei o primeiro a solicitar uma ditadura.
Antonio
20 de dezembro de 2012
Sua frase diz tudo e muito para aqueles que dizem, – Não gosto de política!
Um ser humano que viva desta forma, infelizmente a maioria, fica reduzido a um vegetal ou a uma usina química que processa ar a alimentos.
Abraço e um Feliz Natal a todos!
Antonio Carlos Danelon
20 de dezembro de 2012
Obrigado por se dar ao trabalho de ler e comentar meus textos. Ninguém tem a verdade. Temos parte delas, por isso o debate é tão importante. Quanto ao que faço em vez de só criticar não gosto de dizer, mas que faço,faço. Feliz Natal para todos nós desde que não seja o Natal padronizado das massas.
blogdoamstalden
20 de dezembro de 2012
Antônio e Totó. Acompanhei a discussão e fiquei feliz, uma vez que é exatamente este tipo de debate que desejava quando montei o blog. Em relação ao que disseram, infelizmente penso que o individualismo é um traço cultural marcante hoje e não só no Brasil, mas no mundo todo. Faz parte deste ápice do capitalismo em que vivemos. O liberalismo enquanto teoria e o capitalismo prático confiam que o egoísmo particular leva ao progresso coletivo (Adam Smith). Não creio nisso. Somos seres coletivos, sociais e, portanto, políticos. Nossa sobrevivência depende da sociedade e nossos problemas sociais, econômicos e ambientais são coletivos. O socialismo que experimentamos no século vinte, se é que pode ser chamado assim, era apenas um totalitarismo, igual ao facismo. Agora vivemos o inverso radicalizado. A própria escola que vocês citam é isso. Um lugar de formação de mão de obra, e não de crescimento intelectual, pessoal e de cidadania. É necessário encontrar o equilíbrio numa forma de vida social que respeite valores e liberdades individuais mas consiga manter a importância do coletivo, do social. Penso que isso pode acontecer, ainda que seja porque a necessidade vai nos obrigar a isto. Abraços a todos e um Feliz Natal e, Antônio, uma das coisas que espero para 2013 é um texto seu para o blog…