A polêmica sobre o recolhimento de animais. Por Miriam Miranda

Posted on 28 de janeiro de 2013 por

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vira lata

 

A agressividade da carta de uma cidadã contra o canil municipal a respeito do recolhimento de uma cadela nos motivou a pedir uma reflexão da população sobre o tema. A Ong Vira Lata Vira Vida enfrenta hoje o mesmo problema do canil: superlotação, recolhimento criterioso visando os animais em risco eminente de vida e agressões verbais constantes no atendimento telefônico.

As agressões dirigidas à funcionária pública são bem parecidas às dirigidas à atendente do telefone da Vira Lata. Na maioria das vezes, as pessoas se dizem compadecidas de ver um animal, mas se enfurecem quando oferecemos ajuda e pedimos que ela participe da solução. Hoje, apenas o canil e a Vira Lata recebem animais. Ou seja, 2 instituições para atender a cidade de Piracicaba. A questão é ética e matemática: num local que comporta 100 animais, não cabem 200. Num abrigo que comporta 320, hoje com mais de 380, não cabem 700. Não realizamos eutanásias, portanto os animais precisam de um tempo para serem tratados e preparados para uma adoção responsável.

Em 2012 a Vira Lata passou a trabalhar com indicadores. Tivemos no ano passado, 1.549 ligações; 417 delas foram pedidos de recolhimento; 354 pedidos de adoção que resultaram em 58 adoções responsáveis, ou seja, com visitas pré e pós adoção, castração, vacinação, identificação. Os números não deixam dúvidas: há um abismo entre a saída de animais do abrigo e pedidos de recolhimento. O não recolhimento não significa incompetência, pelo contrário, significa prudência.

Agredir a atendente ou desferir xingamentos contra a Ong Vira Lata não mudou a realidade do abandono. Somos parceiros do canil municipal e recebemos animais recolhidos e atendidos por eles: idosos, cegos, animais com patologias graves são transferidos para o abrigo para tratamento e espaço para uma vida melhor. Acompanhamos a angústia dos profissionais do canil em dias de lotação esgotada, animais precisando do atendimento e nosso abrigo sem condições de recebê-los.

As agressões são acompanhadas de sugestões práticas? Essas pessoas estão preocupadas com a questão do animal ou com sua necessidade pessoal? A indignação é transformada em ação? Generosidade e compaixão não são monopólio das instituições que recolhem animais. Deveriam ser da índole todo ser humano.

Em três anos e meio de existência, a Vira Lata trabalha na direção de políticas públicas. Estas serão possíveis com diálogo, articulação e soluções conjuntas. O projeto de castrações nas tendas infláveis é o resultado desse diálogo. Hoje nos intitulamos ativistas na defesa de direitos dos animais porque somos criticados quando somos chamados de protetores. Somos julgados por sermos desconhecidos e pelo pouco tempo de existência da Ong. Não nos importamos com os títulos. Nosso objetivo está bem longe disso.

Um novo Marco Regulatório para Organizações Sociais Civis está em curso. Com a implantação dele, somente amar os animais não isentará uma instituição de seus deveres legais. O acesso à verba pública será dificultado e a organização e legalidade serão condições sine qua non para manter uma Ong em funcionamento.  Ótimo que seja assim.

Novos ativistas estão vindo com pensamentos modernos, comunicação eficiente, em busca de parcerias e convênios com o poder público que garantam resultados reais na defesa de direitos dos animais. Esperamos que o linchamento de instituições fique no passado.

Que venha o novo! Que venha o diálogo! Que venham projetos sérios! Que venham ativistas do bem! Os animais agradecem.

Miriam Miranda

Ong Vira Lata Vira Vida