Gostar de Ler II. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 16 de fevereiro de 2013 por

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livraria bonita

No primeiro “post” “Gostar de Ler”, dei a dica de que, para ler com prazer, para gostar da leitura, primeiro devemos escolher um livro sobre um assunto de nosso interesse. Você não vai curtir a leitura de algo muito distante do seu universo e, assim, não vai expandir este universo, não vai migrar para outros títulos e, por consequência, não vai experimentar o prazer de ler um clássico e de crescer culturalmente.

E, como eu sou um otimista e acredito que você quer tudo isso, o prazer, os clássicos e o conhecimento, vou partir do princípio de que você seguiu a primeira dica e escolheu um assunto do seu gosto. Maravilha, mas e agora? Qual livro escolher? Onde escolher? Como escolher? São questões importantes, não é? Existe uma infinidade de títulos sobre assuntos diversos, mas é difícil saber qual o melhor para você iniciar. Você pode, sim, conversar com seus amigos ou outras pessoas que gostam de ler e pedir sugestões. Também pode investigar na internet e nas livrarias virtuais, lendo os resumos que encontrar. Tudo isso pode surtir efeito e você pode encontrar uma obra legal para iniciar sua vida de leitor.

Mas penso que existe outra dica muito mais interessante. E esta é a seguinte: vá a uma livraria e “garimpe”. Lá você pode pedir ajuda a um vendedor que talvez tenha uma boa dica, se a livraria for boa, com certeza você vai encontrar vendedores que são leitores também, e estes saberão o que lhe indicar. Mas mesmo assim, nada substitui um longo “passeio” entre as estantes e um “garimpo” em cada uma. Por garimpar aqui, entendo apanhar exemplares que lhe chamem a atenção e analisar o livro. Leia um trecho, leia os comentários nas “orelhas” e contracapas do livro, veja quem é o autor. Este contato é que vai definir, finalmente, com que livro começar.

Você pode combinar todas as coisas. Pode perguntar a quem lê sobre um livro legal no assunto que você escolheu, pode pesquisar na internet sobre livros deste assunto e pode, finalmente, pedir informações aos vendedores. Mas todas estas atitudes não substituem o seu contato pessoal com o livro. E por quê? Porque é no momento em que você manuseia a obra e lê, avalia um trecho, vê quem é o autor e qual a linha de abordagem, que se estabelece a sua ligação de interesse. As vezes, neste momento, uma frase, um trecho, uma afirmação prendem sua atenção e lhe despertam a curiosidade e o prazer. A partir daí é que se estabelece a SUA relação com AQUELE livro e daí para a leitura do mesmo.

Este é um processo muito variável, sabe? O que chama a minha atenção ou a dos seus amigos que leem ou mesmo do vendedor, não é o que lhe prende mais. O processo é pessoal, diz respeito a você e a sua estrutura cultural e psicológica e até o momento em que você está vivendo. Um livro que você lê a adora hoje pode lhe parecer mais fraco daqui a alguns anos. Isso é o seu tempo e o seu amadurecimento, o seu momento em ação. Avaliar este momento é muito difícil para quem está de fora.

Uma vez, eu fiz uma lista de sugestões de obras para incentivar meus alunos da faculdade a adquirirem o hábito da leitura. Um deles, um aluno mais velho e muito responsável, resolveu tentar a sério. Eu havia dividido as sugestões em três níveis, um iniciante, um médio e um de leitores mais experientes. O meu aluno pegou um título dos iniciantes e depois, comentou comigo que não havia gostado. Pegou depois outro, no mesmo nível de iniciante, também não gostou. Desanimado, disse-me que achava que nunca conseguiria gostar de ler. Eu não me lembro do que respondi (isso já faz uns dez anos…), mas ficamos uns tempos sem falar no assunto. No fim do ano, o aluno veio, muito contente, contar que havia achado um livro “maravilhoso” na lista, que não conseguia parar de ler. Era “O Nome da Rosa”, de Humberto Eco, um livro, de fato, maravilhoso. Só que eu havia colocado o livro entre aqueles destinados aos mais experientes. Veja só, errei redondamente. O aluno gostou de um que EU achava que ele e os colegas teriam dificuldades em ler…

É por isso que não adianta se fiar somente nas dicas de outros. Vá lá e experimente. Visite uma livraria, um sebo ou uma feira de livros e folheie, leia trechos, manuseie a obra. Isso é “garimpar” e pode ser uma experiência muito boa. Só que faça isso com tempo. Livraria bem visitada é aquela visitada devagar, curtindo, apreciando. Uma boa livraria, inclusive, tem sofás, almofadas e cafés nos quais você pode se acomodar e apreciar o que recolheu das estantes. Tente, vá lá, pegue vários títulos, peça um café ou outra coisa e passe alguns momentos buscando o SEU livro. Com o tempo, você vai perceber que isto, esta visita, também vai se tornar um imenso prazer. Se tiver sorte, pode até fazer novos amigos lá (e até paquerar, sabe?) entre pessoas com o mesmo interesse que o seu. Um exemplo disso é que grandes livrarias  são pontos de encontro de muita gente e pontos de lazer nas quais pessoas passam horas a fio “degustando” livros. As vezes as pequenas também.
Só que você só saberá se experimentar….

Posted in: Estante