Vultosos e de pouco retorno os gastos públicos no combate ao mosquito da dengue; Piracicaba passou de três mil casos no ano passado. O carrapato estrela também fez estrago – aqui a febre maculosa matou oito. Depois vêm gripe H1N1, morcego contaminado, leptospirose, doença dos pombos, escorpiões e etc. Isso indica desequilíbrio ambiental, cujas consequências serão cada vez mais graves.
A monocultura e as cidades invadem descontroladamente o espaço dos animais, que procuram os aglomerados urbanos como a pedir socorro. “Onças voltam a habitar região de canaviais do Estado. Espécies ameaçadas reaparecerem. Há casos de atropelamento de animais em rodovia. (Folha 29.05.11).
De outro lado, alheios a essa tragédia, parlamentares ruralistas, defensores dos latifundiários, dos usineiros, dos fazendeiros e das gigantes do agronegócio fazem de tudo para modificar a seu favor um já por demais permissivo Código Florestal. Mentem dizendo defender a produção de alimentos. Se entendessem realmente de produção agrícola e de equilíbrio ambiental deveriam ser os primeiros a exigir leis cada vez mais rígidas. No entanto, se parecem com frequentadores de rodeios ou com as esdrúxulas duplas sertanejas de hoje, que apesar da bota, do chapelão não sabem distinguir um pé de cana dum de milho e estão tão por fora quanto suas grotescas músicas.
Entre outros absurdos, querem que áreas de preservação permanente e matas ciliares se reduzam ao mínimo para dar espaço à agricultura. Só um néscio ou uma administração vendida aos interesses econômicos não se abalam com as tragédias causadas pela ocupação dessas áreas. Gente que pensa assim é mais nefasta que o bando do mensalão e a maioria dos presos das penitenciárias. “O Brasil tem mais terra, água e floresta per capta do que qualquer outro país, então deveria estar investindo, não destruindo. O país pode ser ‘melhor que a Suécia’ se investir em uso sustentável” (Vind Thomas, diretor do BIRD. Folha 24.05.09).
Esses parlamentares mentem ao tentar conflitar áreas de preservação com áreas cultiváveis. Para eles terra representa poder. É isso que querem e não melhorar nas mesmas áreas a produtividade. Temos territórios imensos ocupados por meia dúzia de cabeças de gado e pela monocultura. Mesmo assim, os supermercados estão abarrotados de alimentos; o desperdício é vergonhoso e a obesidade se tornou o flagelo do século. Mais da metade da comida produzida vai para o lixo, constatou uma pesquisa inglesa. Responsabilidade e justiça social é que faltam; solidariedade, igualdade no acesso; qualquer coisa menos comida.
Ora, não somos somente nós os habitantes desse planeta. E um governo não governa só para os humanos, mas também para os animais, que por serem frágeis e vulneráveis precisam de proteção e defesa. “Se todos os animais se fossem o homem morreria de uma grande solidão do espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontece com o homem. Há uma ligação em tudo”. (Chefe Seattle 1854).
Segundo a imprensa, Piracicaba preservou só 3% de sua mata nativa, 80% das suas nascentes estão degradadas e no ano passado a bacia do Piracicaba mais uma vez liderou a mortandade de peixes. Portanto como resultado dessa política inconsequente, tome mosquito, morcego, pernilongo, escorpiões, ratos e cobras.
Como disse Albert Schweitzer: “O mundo se tornou perigoso porque os seres humanos aprenderam a dominar a natureza antes de dominar a si mesmos”.
Fábio Cristiano
1 de março de 2013
Grande Totó, infelizmente a maioria dos Parlamentares ou se elegem com o dinheiro dos latifundiários ou eles próprios assim o são, o texto reflete o poema de João Cabral de Melo Neto em Morte e vida Severina.
Essa cova em que estás
Com palmo medida
é a conta menor
que tiraste em vida.
– É de bom tamanho,
nem largo nem fundo,
é a parte que te cabe
deste latifúndio.
– Não é cova grande,
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.
Daisy Costa
2 de março de 2013
Falou tudo, Totó! Resta-nos saber se as áreas desafetadas e doadas para o projeto de lei da prefeitura p/ construção de casas populares não estão enquadradas nessas áreas de preservação…nem o CONDEMA soube disso….(aprovado por unanimidade pelos vereadores, sem questionamentos…na quinta p.p.)
Antonio Carlos Danelon
4 de março de 2013
Valeu, Fabião. Estava a caça deste trecho de João Cabral e você chegou em cima. Obrigado. Você viu na Folha TV de domingo passado reportagem sobre a familia (Renan) Calheiros há décadas dominando a paupérrima Murici em Alagoas? É revoltante. Por isso, a existência do inferno não é questão de fé mas de Justiça. Afinal essa gente compra ou ameaça até juízes. Quem fará, então justiça aos sofridos?Você como eu já atendeu gente daquela região e sabe o estrago que trazem na alma. Cada vez mais me convença que a miséria tem nome. endereço, CIC e Rg.
Antonio Carlos Danelon
4 de março de 2013
Concordo Daisy. Como sempre os programas habitacionais são feitos sem planejamento e sempre depois que as áreas de preservação já foram tomadas e destruídas. Na verdade quem faz política habitacional de fato é a população desabrigada que sem opção invade as áreas. O poder público chega bem depois para “regularizar” sua omissão e incompetência, e os vereadores acabam coniventes.