O BBB e a Cidadania. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 28 de fevereiro de 2013 por

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Criticar o programa Big Brother Brasil é como falar mal de políticos corruptos. Qualquer um com o mínimo de informação e lucidez os critica, mas eles continuam aí. O BBB a menos tempo do que alguns políticos (infelizmente, por que os políticos corruptos são piores do que o BBB, claro), mas mesmo assim já são doze anos de programa. E um programa de pessoas sem nenhuma qualidade especial, nenhuma função, nenhum valor diferenciado. Apenas gente escolhida por ser bonita ou jovem ou forte e/ou potencialmente criadores de caso e polêmicas, que o “funcionário modelo” da Rede Globo, Pedro Bial, insiste em chamar de “heróis”. Aliás, para Pedro Bial e para a Globo devem ser heróis mesmo, já que ajudam a manter o lucro que a empresa tem com o programa e, claro, o salário do Bial.

Mas, mesmo as coisas mais tolas podem trazer boas idéias. Acontece que cada “eliminação” de um participante é feita por “voto popular”, como você deve saber. Quem assiste “vota” pela internet ou pelo telefone (com chamada cobrada, claro) para que um dos participantes seja excluído. Andei pesquisando e descobri que o número de votos chegou já a 125 milhões (no BBB 10) e a 35 milhões na edição atual. E é aí que temos um fenômeno interessante e potencialmente muito importante. Se tanta gente envia seus “votos” que na verdade são suas preferências e opiniões, a respeito de uma coisa tão inútil, imagine se enviasse suas críticas, protestos e propostas, via internet, aos vereadores, deputados estaduais e federais, além de membros do executivo?

Você já imaginou o que poderia acontecer? Deputados, senadores, vereadores, governantes enfim, sendo cobrados e fiscalizados via net, por mensagens eletrônicas? Isso pode significar uma reaproximação da representatividade direta e um controle social imenso sobre os políticos. Claro que pode-se argumentar que muitos, dado seu fanatismo pelo programa, votaram várias vezes. Mas façamos um cálculo simples. Vamos supor que cada “eleitor” do BBB “votou” em média dez vezes. Bem, isso ainda significaria um número entre três milhões e meio e doze milhões e meio de pessoas participando. Transforme isso em mensagens eletrônicas. Imagine entre três milhões e doze milhões de emails enviados aos políticos. Você acha que eles iriam ficar indiferentes a tantos eleitores reais? Eu acredito que não, principalmente se as mensagens vierem acompanhadas do aviso de que seu voto não será mais dado a este político se ele na se pronunciar ou agir no sentido dos interesses de seus eleitores. E na verdade tenho motivos concretos para pensar assim. No passado, participei de uma campanha para a prisão de um criminoso foragido. Muito bem, parte desta campanha foi feita via internet através de mensagens enviadas ao então governador do Estado de São Paulo e seu Secretário de Segurança. Eu não sei quantas mensagens eles receberam, já que ao contrário da Rede Globo os políticos não divulgam o número de cobranças que recebem, mas sei que foram enviadas mensagens do país inteiro e até do exterior. Mensagens educadas, porém incisivas, demonstrando a preocupação de quem as enviava e com seus dados de identificação, como o título de eleitor, por exemplo. Quinze dias depois do início da campanha via internet, o criminoso foi parar no site oficial da Secretaria de Segurança e entre os vinte criminosos mais procurados do Estado. Pouco mais de um mês depois, foi preso. Teria sido coincidência? Eu não acho. Até porque continuei usando este mecanismo de “democracia digital”, inclusive recentemente, com resultados muito bons.

Você também pode usar isso. Todos nós podemos. Os endereços eletrônicos de todos os políticos estão disponíveis nos site oficiais das Câmaras, do Senado e do Poder Executivo. Talvez isso signifique uma revolução na democracia, você não acha? E a possibilidade se amplia, uma pesquisa publicada no jornal Folha de São Paulo, no dia 17/02/13, demonstrou que no Rio de Janeiro, 90% dos jovens de áreas carentes já acessam a net e a maioria em computadores próprios. Alguém pode argumentar que esperar que o povo envie mensagens aos políticos na mesma proporção que “vota” no BBB é utopia. Bem, talvez seja, mas utopias antigas já se tornaram realidade. Tudo depende de uma tomada de consciência e da criação de uma cultura de participação. Neste caso, temos o potencial e as ferramentas, por que não podemos ter a participação? Por que as pessoas não podem vir a perceber que, um país que gasta 7,7 milhões de reais/ano por deputado federal (o segundo maior custo do mundo, atrás apenas dos EUA, ainda de acordo com a mesma edição da Folha de São Paulo) tem mais a ganhar escrevendo aos políticos do que escolhendo medíocres na TV? Faça um favor ao mundo, ao país, à sua família e a você mesmo. Comece este hábito de escrever aos políticos e cobrá-los, e espalhe isso entre os seus. E de quebra, vote no BBB também, se você detestar um participante…