Campeonatos de futebol não são eventos de iniciativa pública. E se a renda vai para poucos por que a sociedade deve arcar com os custos da segurança? É certo que a polícia tem a obrigação de zelar pela integridade de todos os cidadãos, mas achar que dentro e fora dos estádios é problema exclusivo dela não tem cabimento.
Grosso modo, nossa polícia não dá conta de proteger o cidadão. Quando chega, apesar do estardalhaço, vem atrasada e sempre depois do ocorrido. Como aceitar que essa mesma polícia transtorne a rotina da população a cada jogo com onerosas operações de guerra para garantir interesses de jogadores ricos, técnicos, cartolas e demais beneficiados como empresas, canais de televisão, principalmente a Rede Globo, que tanto fatura com o espetáculo quanto com a violência dele decorrente?
Policiais, professores, motoristas de ônibus ganham bem menos que jogadores – alguns dos quais de tanto dinheiro acabam se destruindo. Ora, a pessoas muito mais úteis ao país são mortas diariamente nas grandes cidades por falta de política inteligente de segurança. Até quando vai o faz-de-conta?Além do mais, os fatos apontam que apesar do dispendioso aparato ninguém – exceto os ditos privilegiados – está seguro dentro dos estádios. Quando brigas eclodem resta ao policial usar de mais violência ainda, até para se proteger.
Seria do policial o ridículo papel de nos portões dos estádios ficar apalpando sociopatas a procura de armas, se vão a esses eventos justamente para desopilar seus traumas? Não torcem para ninguém; são covardes, porém brigam contando com a intervenção da polícia, que acabou virando personagens desse show macabro, posteriormente narrado com arroubos de heroísmo à platéias do mesmo naipe.
Essa triste realidade me faz lembrar o baile que tomei no início de meu trabalho num abrigo de crianças. Toda hora me chamavam para separar brigas. Acontecia que separava uma aqui surgia outra ali, e muitas vezes os mesmos. Passei a desconfiar do meu papel de palhaço e fui percebendo que brigar para aquelas crianças significava muitas coisas. Chamar atenção, uma delas. Apanhar até compensava, ganhava-se atenção. Era uma forma de ser tocado ou socorrido como a evocar a mãe ausente. Servia também como oportunidade para o mais fraco abusar do mais forte, pois tinha certeza que seria socorrido.
Mudei a estratégia. Cada vez que alguém me chamava para separar brigas eu dizia para brigarem à vontade que ficaria assistindo para dar ao vencedor o troféu da estupidez. Em pouco tempo as brigas desapareceram. Aprendi que cada um deve se responsabilizar pelos seus atos desde cedo e ninguém deve ser impedido de tirar lições dos próprios erros.
Assim, se o Estado passar a cobrar efetivamente dos clubes e das ditas torcidas organizadas a segurança em seus eventos, as coisas se equilibrarão. Como quaisquer entidades privadas devem proteger seus genuínos clientes: torcedores, que mesmo extorquidos nas bilheterias e enganados pela cartolagem, acreditam que esporte é alegria, interação e entretenimento. A menos que futebol tenha virado política pública de pão e circo.
Paguem menos a cartolas, dirigentes, técnicos, patos, gansos, marrecos, estrelas ascendentes e cadentes – cujos salários são uma afronta ao trabalhador brasileiro – e invistam na segurança.
Caso contrário, continuaremos ver nossa polícia fazendo papel de palhaço num circo de imperadores.
Antônio Carlos Danelon é Assistente Social.
totodanelon@ig.com.br
Evandro Mangueira
22 de março de 2013
Torcida organizada, parece mais uma quadrilha organizada, ou como era comum na década de 80: gangue.