Quando, pela tevê, vejo gente clamando entre lágrimas e surtos por cura e paz a embusteiros, auto intitulados “pastores”; do mesmo modo quando passo frente a igrejas e igrejolas e escuto aquela gritaria infernal que ensurdece qualquer mortal e irrita vizinhos agradeço a Deus pela religião que meus pais me deram.
Desde quando me dou por gente lembro-me de minha família reunida rezando o terço todos os dias após o jantar. Nenhum dos oito filhos era dispensado, tivesse o que fosse para fazer. E, se na hora da reza houvesse alguma visita ou vizinho em casa, era convidado a participar. Alguns ficavam outros davam no pé.
Crescemos assim até as exigências da vida adulta ir tirando um por um daquele ninho sagrado. Porém meu pai e minha mãe nunca deixaram de rezar naquela mesma hora. Hoje os dois não estão mais entre nós, contudo os oito, pelo menos uma vez por mês se reúnem para reviver aquele santo momento.
Quando adolescente questionava a necessidade da reza diária. Até tentava dar balão, mas tinha que ser muito criativo e esperto para lograr êxito. Dificilmente conseguia. Mais tarde compreendi o quanto isso foi importante. Mais ainda, vendo agora pessoas desesperadas entregando a charlatães sem escrúpulos e sem ética seus bens conquistados com sacrifício, e até os próprios salários para “sentirem” um pouco de Deus em suas vidas ou na tola esperança de receber em dobro.
Poderia estar entre eles pagando tal mico se não tivesse tido os pais que tive. Ou ao contrário, se aquelas pessoas tivessem tido a graça que tive teriam conhecido a Deus desde o berço, e provavelmente não precisariam acreditar em falsos profetas, como Jesus preveniu. Hoje sei que a fé não cai do céu, mas entra pelos ouvidos e se confirma pela coerência do exemplo. Se os pais não mostrarem Deus, outros o mostrarão, contudo nem sempre o verdadeiro, cujos sinais abundam silenciosa e gratuitamente pelos caminhos e acontecimentos da vida, imperceptíveis, no entanto para quem não é íntimo. Dessa intimidade alguns desfrutam somente após grandes tribulações – benditas se vierem a tempo. É certo que o Deus apresentado por meus pais era rígido e não muito bem de humor, mas protetor e amigo. Mas não parei nisso; fiz minha própria experiência e, como diz o salmo, “provei e vi como o Senhor é bom”.
E não para aí. Meus pais me colocaram numa família maior chamada Igreja. A missa dominical com a melhor roupa que nossa pobreza podia dar; o catecismo seguido do cineminha que frei Paulino projetava; coroinha, seminário, movimento jovem, Cordígeros, Cruzadinha, Ordem Terceira, Marianos, Mês de Maio, festas, quermesses e muitas outras coisas que trazem doces recordações.
Pouco disso ficou já que cada época tem sua característica. A de agora ainda não descobrimos porque as preocupações com o comer, beber, vestir e com o futuro desviaram nosso olhar dos lírios do campo. “Hoje, a Igreja precisa de uma reforma em todas as suas estruturas. Não é só a Cúria, são muitas outras coisas: o nosso jeito de fazer missa, de fazer evangelização…”. (D. Cláudio Hummes. Folha S. Paulo 16.03.13).
Mesmo assim, amo a Igreja, embora indigno do sangue dos mártires. Apesar das feridas que nós – leigos, padres, bispos, cardeais e papas – nela fizemos ela vive bela e forte. O que teria sido do mundo sem seus ensinamentos? Teríamos tido homens e mulheres que marcaram a História, dentre os quais Francisco, que o Senhor mandou de volta para ajudar nosso retorno às origens, como pede o Concílio Vaticano II?
Vejo pais se matando para dar um futuro aos filhos. Meu pai foi barbeiro, minha mãe nunca trabalhou fora. Não deixaram casa e nem diploma para ninguém. Só mostraram o CAMINHO. Tudo o mais veio por si.
“Quem não ajunta comigo, dispersa”. (Mt 12,30). Feliz Páscoa!
acoplador
29 de março de 2013
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Antonio Carlos Danelon
1 de abril de 2013
Valeu, acoplador. Obrigado.
Evandro Mangueira
29 de março de 2013
A fé, talvez, é algo bom, não saberia dizer! Mas a religião é política, sempre foi e permanecerá assim por muito tempo, e como política que é, tem todo tipo de interesse. Deus é apenas pano de fundo e força de manobra. É verdade que o protestantismo, perdeu-se ao longo dos anos, e hoje o que era reforma, virou ruína. Mas a igreja romana não é digna de admiração, e se tem algo nela para se admirar é a capacidade de juntar fortunas no vaticano.
Antonio Carlos Danelon
1 de abril de 2013
Muito me honra você ter lido e comentado meu texto. Agradeço. De fato você tem razão em muitas coisas, embora não acredito que exista uma instituição sequer onde não haja coisas erradas. No entanto, não acredito que homens como Francisco de Assis, Aldo Moro, Tereza de Calcutá, Irmã Dulce, Chico Mendes, Irmã Dorothy, Dom Paulo, Dra. Zilda Arns e milhares de outros e outras estivessem tão equivocados por permanecerem na Igreja. E se ela está tão desmoralizada como você categoricamente afirma, como explicar a presença de 6 mil jornalistas do mundo inteiro na audiência com o Papa Francisco logo no 2º dias de seu pontificado?
Evandro
2 de abril de 2013
Os jornalistas estão onde tem notícia e certamente o pontificado do novo Papa é um grande evento político, digno de ação jornalistica. Quanto a pessoas generosas dentro da Igreja, isso também existem em todas as religiões.
Antonio Carlos Danelon
2 de abril de 2013
Amigo Evandro. Se existem pessoas boas em todas as religiões como você disse, então existem na igreja romana também, não é mesmo? Contudo, gostaria de deixar claro que não frequento o Vaticano, mas a igreja do meu bairro, onde existem uma comunidade de gente que peca, mas que também acolhe e acredita; e um padre que muito adimiro.
Carla Betta
3 de abril de 2013
As críticas em relação ao poder e à política da Igreja católica e das Igrejas de modo geral não invalidam a transformação para o BEM que elas provocam em indivíduos e em pequenos grupamentos e o BEM que se proporciona aos necessitados. As Igrejas (leia-se organizações religiosas) são construídas, dirigidas e alimentadas pelos homens. Homens são imperfeitos e suas obras, portanto, também o são. Por isto, não podemos perder o foco crítico para que haja evolução e aperfeiçoamento nas organizações religiosas, mas não se pode perder também o foco da importante função ética e promotora do crescimento dos indivíduos, dos agrupamentos e da sociedade como um todo. Combater o MAL dentro das Igrejas é tão fundamental quanto participar da vivência espiritual, que faz parte da essência do ser humano, e tão fundamental quanto valorizar sua função ética-social.
Evandro
3 de abril de 2013
Concordo, tanto com o autor como com a Carla, nos comentários. A única coisa que discordo é segmentar. Os protestantes estão de fato no foco, não concordo com muitas das práticas, principalmente as que invalidam os meus direitos políticos. Só não acho que essa característica maléfica pertence a um grupo. Todas as religiões estão no mesmo barco enquanto instituição política, mas também acredito em generosidade em todas elas, tem gente boa fora e dentro das igrejas, tem gente boa, ateia; tem gente boa em todos os lugares. A Crítica ao protestantismo, nesse texto, é muito válida, e acho que cabe sim uma reflexão sobre isso, só não acho que os valores católicos estão tão imaculados para servir de exemplo da oposição ao protestantismo. Nesse caso, caberia uma crítica específica ao protestantismo, ou uma generalizada as religiões. O autor deixou claro sua afeição ao catolicismo em detrimento ao protestantismo. Na minha opinião ambas tem falhas a serem observadas e naturalmente ambas tem pessoas magnificas na sua formação.
O autor repudia a fé em dados momentos: “Poderia estar entre eles pagando tal mico”, o que para mim é um erro, o fato dos fieis serem supostamente enganados, não anulam a sua fé, talvez o mesmo peso de fé que fez Francisco de Assis, Aldo Moro, Tereza de Calcutá, Irmã Dulce, Chico Mendes, Irmã Dorothy, Dom Paulo, Dra. Zilda Arns e milhares de outros seguirem com seus frutos de bondade mesmo em uma igreja rachada historicamente por atrocidades contra a vida.
Antonio Carlos Danelon
3 de abril de 2013
Eta debate gostoso! Como é bom discordar, concordar e dizer o que se pensa sem perder a classe. É assim que se chega pelo menos mais perto da verdade. Bem vinda à roda, Carla. Parece que chegamos a um ponto comum. Todas as religiões têm seus defeitos e virtudes e todas elas respondem de alguma maneira aos anseios espirituais das pessoas, porém nenhuma delas responde totalmente às angústias humanas. Caminhamos meio que no escuro e isso é uma questão de opção pessoal de fé. Só acho de extremo mal gosto o que certos “pastores” fazem com a fé das pessoas que neles confiam irando delas o próprio sustento.