O Perfume de Patrick Süskind – Policial, Histórico e Filosófico. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 7 de abril de 2013 por

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Se você está começando a ler com prazer, ou mesmo se já lê e quer avançar, vai uma dica muito boa. Um livro de ficção que “mistura” romance, drama, trama policial e uma análise da condição humana, da necessidade humana de estar em grupo e, ao mesmo tempo, encontrar a si mesmo. Trata-se do livro de Patrick Süskind, “O Perfume”,  de 1985 que já é um clássico. “O Perfume” não é exatamente um romance policial, mas tem o suspense de crimes e assassinatos junto com uma reconstrução histórica fantástica, além de um sutil e genial questionamento sobre a natureza humana. O fato é que, se você está começando a ler e já curte policiais, este livro é o que chamo de “ponte”, de transição de um gênero mais restrito para outro mais amplo.

O personagem de Süskind é Jean-Baptiste Grenouille, filho ilegítimo que nasce em pleno mercado de peixe de Paris do século XVIII. Sua mãe tenta enterrá-lo ainda vivo em meio aos detritos mal cheirosos de peixe, mas ele chora e é descoberto. A mãe é presa e mais tarde condenada a morte, Grenouille vai para um “orfanato” e sobrevive duramente até a adolescência. Mas ele tem uma característica extraordinária, é capaz de sentir aromas com tal intensidade como nenhum outro ser humano. Pode distinguir, por exemplo, o cheiro de diferentes tipos de madeira, tecidos, animais, pessoas e até pedras. Porém, ele próprio não tem cheiro. Suas roupas sim, mas ele, seu corpo não.

Aí esta a metáfora maravilhosa de Süskind. Grenouille é capaz de entender mais do mundo e das pessoas do que o normal, através dos cheiros e aromas. Mas ele próprio não faz compartilha deste mundo, posto que não tem cheiro próprio. Esta característica o leva, primeiro, a buscar o isolamento, mas depois, consciente de sua falta de identidade, a buscar a aceitação, o amor dos demais. Ele buscará um cheiro próprio, derivado de outros, fazendo um perfume  destilado do aroma específico de outros seres humanos, daí começa sua série de assassinatos.

A reconstrução do mundo do século XVIII é maravilhosa e o autor capricha na descrição olfativa. Lendo o livro, temos um relato muito vívido de como era Paris, sua sociedade, sua geografia, seus hábitos. De como era o funcionamento das corporações de ofício num momento pré-industrial e do quotidiano das pessoas. Mas o mais genial é que a leitura é muito, muito fluída e agradável. Dê meia hora ao livro e ele vai prendê-lo até o fim. E de quebra, você vai ficar extremamente curioso para saber como Grenouille vai terminar sua jornada em busca de um cheiro/identidade próprio.

O Perfume – Patrick Süskind. Ed. Record (livro) e Best Bolso (livro de bolso).

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