O Corrupto e o Assassinato. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 18 de abril de 2013 por

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Thauane-Nunes-Ferreira-silicone

No dia 10/03/13, a médica Thauane Nunes Ferreira, de 29 anos, foi presa em flagrante quando fraudava o ponto eletrônico do SAMU (Serviço de atendimento médico de urgência) do município de Ferraz de Vasconcelos, em SP. Segundo a médica, além dela outros onze médicos e mais vinte enfermeiros participavam do esquema de fraude, feito com dedos de silicone para simular o ponto dos faltosos. O valor dos plantões não cumpridos iria para o bolso do diretor do SAMU, o também médico Jorge Cury, e a vantagem dos médicos estava em poder assumir outros lugares de trabalho no momento em que deveriam estar no SAMU ou simplesmente folgarem.

Em uma das reportagens que assisti, vi a médica fraudando o ponto e,  depois de receber ordem de prisão, sendo consolada pela mãe dentro de uma ambulância. Com todo o respeito ao amor materno, se fosse minha filha teria lhe dado uma “surra” na frente das câmeras, mesmo correndo o risco de ser preso também, por agressão…

Ocorre, como já argumentei em artigos anteriores, que tenho nojo de corruptos e dentre todos eles, os que mais me enojam são aqueles que roubam de serviços essenciais, tais como a saúde. Um bandido comum, que assalta na rua, nem sempre é um assassino. Sim, ele pode vir a ser um na medida em que empunha uma arma e assalta, mas pelo menos está assumindo o risco de matar e ser morto, além de ser julgado por assassinato. Quem, no entanto, rouba da saúde pública, do dinheiro público destinado a saúde, mata indiretamente.  A ausência da médica Thaune Nunes quando algum colega lhe fraudava o ponto, e dos colegas para quem ela fraudou, pode ter sido a causa de uma morte. Alguém que tenha deixado de ser socorrido ou tenha sido mal socorrido por falta de médicos e enfermeiros e veio a falecer, foi assassinado pelos corruptos de Ferraz de Vasconcelos, foi assassinado por Thauane Nunes, Jorge Cury e os demais.

E não foi só isso. A verba que foi desviada talvez pudesse ser utilizada em outros serviços médicos, tais como hospitais, tratamentos, medicamentos. Se alguém deixou de ter acesso a tais serviços por falta de verbas e faleceu, foi também assassinado por corruptos. O mesmo raciocínio vale para todo dinheiro desviado da saúde pública, seja por médicos, funcionários, políticos, fornecedores, empreiteiros ou quem quer que seja. Todos são assassinos covardes, mais covardes do que aquele que mata na rua e teve, no mínimo, a coragem de fazê-lo diretamente. Aliás, não é só uma questão de fazer diretamente, mas também do alcance do crime. Quem mata na rua, mata um ou dois, mas quem rouba do serviço público de saúde, mata muitos. Roubos milionários causam falta de serviços para milhares de pessoas e muitas delas poderiam ser curadas se tivessem acesso rápido a tratamento. Mas não têm e, a meu ver, foram sim, assassinadas.

A médica agora responsabiliza seu antigo chefe, o médico Jorge Cury. Ela alega que se não agisse desta forma, não poderia trabalhar, não seria mantida no SAMU. Alega que participar do esquema seria a única forma de se manter no emprego. A lógica da desculpa é terrível. Suponha que eu lecionasse numa escola cujo diretor exigisse que eu revendesse drogas para os alunos. Eu então estaria isento de responsabilidade porque esta seria a maneira de me manter no emprego? O que esta médica demonstra ser ao argumentar desta forma? Tola, extremamente necessitada, corrupta ou covarde? Ela teve, ou deveria ter tido, educação e informação suficientes para saber o mal que estava causando, afinal teve condições de cursar medicina. Mas não reagiu, participou e correu o risco de matar, se é que não matou indiretamente. Agora se refugia no colo da mamãe e, com ajuda de seus advogados, talvez saia com pouca penalidade. Pior, mesmo se condenada, sua pena e a de tantos outros corruptos será menor do que a de quem mata diretamente. E eles todos são a mesma coisa: assassinos…

PS: em março completei um ano de coluna regular no JP. E agora dia 18 de abril completo um ano de blog (com mais de 50 mil acessos). Agradeço a todos pela paciência de me acompanhar e os convido a escreverem seus cometários e mesmo artigos para publicação aqui. Abraços. Amstalden

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