No dia 10/03/13, a médica Thauane Nunes Ferreira, de 29 anos, foi presa em flagrante quando fraudava o ponto eletrônico do SAMU (Serviço de atendimento médico de urgência) do município de Ferraz de Vasconcelos, em SP. Segundo a médica, além dela outros onze médicos e mais vinte enfermeiros participavam do esquema de fraude, feito com dedos de silicone para simular o ponto dos faltosos. O valor dos plantões não cumpridos iria para o bolso do diretor do SAMU, o também médico Jorge Cury, e a vantagem dos médicos estava em poder assumir outros lugares de trabalho no momento em que deveriam estar no SAMU ou simplesmente folgarem.
Em uma das reportagens que assisti, vi a médica fraudando o ponto e, depois de receber ordem de prisão, sendo consolada pela mãe dentro de uma ambulância. Com todo o respeito ao amor materno, se fosse minha filha teria lhe dado uma “surra” na frente das câmeras, mesmo correndo o risco de ser preso também, por agressão…
Ocorre, como já argumentei em artigos anteriores, que tenho nojo de corruptos e dentre todos eles, os que mais me enojam são aqueles que roubam de serviços essenciais, tais como a saúde. Um bandido comum, que assalta na rua, nem sempre é um assassino. Sim, ele pode vir a ser um na medida em que empunha uma arma e assalta, mas pelo menos está assumindo o risco de matar e ser morto, além de ser julgado por assassinato. Quem, no entanto, rouba da saúde pública, do dinheiro público destinado a saúde, mata indiretamente. A ausência da médica Thaune Nunes quando algum colega lhe fraudava o ponto, e dos colegas para quem ela fraudou, pode ter sido a causa de uma morte. Alguém que tenha deixado de ser socorrido ou tenha sido mal socorrido por falta de médicos e enfermeiros e veio a falecer, foi assassinado pelos corruptos de Ferraz de Vasconcelos, foi assassinado por Thauane Nunes, Jorge Cury e os demais.
E não foi só isso. A verba que foi desviada talvez pudesse ser utilizada em outros serviços médicos, tais como hospitais, tratamentos, medicamentos. Se alguém deixou de ter acesso a tais serviços por falta de verbas e faleceu, foi também assassinado por corruptos. O mesmo raciocínio vale para todo dinheiro desviado da saúde pública, seja por médicos, funcionários, políticos, fornecedores, empreiteiros ou quem quer que seja. Todos são assassinos covardes, mais covardes do que aquele que mata na rua e teve, no mínimo, a coragem de fazê-lo diretamente. Aliás, não é só uma questão de fazer diretamente, mas também do alcance do crime. Quem mata na rua, mata um ou dois, mas quem rouba do serviço público de saúde, mata muitos. Roubos milionários causam falta de serviços para milhares de pessoas e muitas delas poderiam ser curadas se tivessem acesso rápido a tratamento. Mas não têm e, a meu ver, foram sim, assassinadas.
A médica agora responsabiliza seu antigo chefe, o médico Jorge Cury. Ela alega que se não agisse desta forma, não poderia trabalhar, não seria mantida no SAMU. Alega que participar do esquema seria a única forma de se manter no emprego. A lógica da desculpa é terrível. Suponha que eu lecionasse numa escola cujo diretor exigisse que eu revendesse drogas para os alunos. Eu então estaria isento de responsabilidade porque esta seria a maneira de me manter no emprego? O que esta médica demonstra ser ao argumentar desta forma? Tola, extremamente necessitada, corrupta ou covarde? Ela teve, ou deveria ter tido, educação e informação suficientes para saber o mal que estava causando, afinal teve condições de cursar medicina. Mas não reagiu, participou e correu o risco de matar, se é que não matou indiretamente. Agora se refugia no colo da mamãe e, com ajuda de seus advogados, talvez saia com pouca penalidade. Pior, mesmo se condenada, sua pena e a de tantos outros corruptos será menor do que a de quem mata diretamente. E eles todos são a mesma coisa: assassinos…
PS: em março completei um ano de coluna regular no JP. E agora dia 18 de abril completo um ano de blog (com mais de 50 mil acessos). Agradeço a todos pela paciência de me acompanhar e os convido a escreverem seus cometários e mesmo artigos para publicação aqui. Abraços. Amstalden
Evandro Mangueira
18 de abril de 2013
Sinto-me contemplado com o artigo.
Saulo Paixão
18 de abril de 2013
Apesar de novo acompanhando o blog, a curiosidade me despertou o interesse a acessa-lo, descobri um portal muito interessante, com temas nutritivos para um cidadão comum como eu. Parabéns pelo sucesso do blog e acompanho cada post, pois recebo todos em meu e-mail.
blogdoamstalden
18 de abril de 2013
Muitíssimo obrigado Saulo. Sinta-se sempre a vontade para comentar e até enviar um artigo. Abraço.
Brunão
18 de abril de 2013
Me faz questionar se ainda temos jeito.Oque leva uma pessoa, que estudou tanto, tenta fazer uma carreira e função de cuidados a pessoas que necessitam de tratamento para viver…..Amor a profissão é muito mais que dinheiro….Quantas pessoas morreram decorrente desses filhos das putas?? dignos de crimes hediondos
Valéria Pisauro
18 de abril de 2013
É importante ressaltar que trata-se de uma médica, que com certeza fez juramentos…no entanto, o dinheiro é mais forte.
Paulo Formaggio
18 de abril de 2013
Olá Luiz Fernando. Parabéns pelo blog e obrigado por nos provocar e deixarmos de ser omissos. Eu compartilho cada palavra tua. O que me “causa espécie” é que o crime cometido por uma médica (uma não, ela, pega em flagrante delito e todos os outros ausentes, donos dos dedos de silicone, além dos seus superiores) aos olhos da justiça, tem um peso menor, assim como, se o crime fosse cometido por um analfabeto, acredito que este não consiga o mesmo tratamento da justiça, pelo simples fato de não poder pagar um bom advogado.
Sinto que a justiça deveria tirar suas vendas e perceber que nem todos são iguais, que a posição social, os títulos, a educação deveriam ser agravantes, além do alcance do crime, que neste caso feriu a população onde é mais caro, a saúde…
Ninfa Sampronha Barreiros
18 de abril de 2013
Parabéns duplamente. Sucesso para o seu blog. [ ]
Carla Betta
19 de abril de 2013
Que país é este? Que valores são estes? É preciso e tenho esperança que virá -não sem dor, não sem crises- uma nova escala de valores. Mais uma vez, a educação é o motor fundamental para virarmos em direção oposta ao caminho que observamos_ seja a educação individualizada no âmbito familiar, seja a educação nas escolas e nas instituições.
Daisy Costa
20 de abril de 2013
Li pelo JP – é a pura verdade! quem assassina quem!!??
Antonio Carlos
20 de abril de 2013
Depois ficamos detonando os políticos. Eles são o retrato de nossa sociedade. Ainda bem que o grande número de pessoas honestas evitam o caos. Somos um povo que precisa ainda de muitos sofrimentos e provações para se purificar da mentalidade egoísta que ainda nos domina.
Antonio
20 de abril de 2013
Fico triste pela mãe que não deu uma boa surra em sua filha!
E o Conselho?
Omite-se como sempre.
Precisamos de uma reforma completa e ela deve começar pela justiça e leis.
Quem merece pena maior, um menor irmão de mais três ou quatro, um de cada pai ou esta mocinha bonitinha que pode estudar, teve família etc.
E de que família veio, quais os valores que lhe foram transmitidos.
Pela mãe aconselhando, podemos imaginar.
Valores monetários e sociais, te-los sem se importar como.
Completo minha resposta, repetindo o texto do Antonio Carlos.