O Jovem e a Maturidade. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 25 de abril de 2013 por

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birra

 

Qual é a idade em que alguém se torna responsável por seus atos? Que pode compreender melhor o mundo a sua volta e o significado e conseqüências daquilo que faz? A resposta é depende. Depende do amadurecimento físico e psicológico deste indivíduo e das condições sociais, culturais e familiares nas quais ele vive. O que define a maioridade (que via de regra entendemos como “maturidade”) não é uma data cronológica de dezoito ou dezesseis anos, mas a real capacidade de se entender os seus atos  e o que eles representam para si e para os outros. Assim podemos encontrar jovens de quatorze, quinze anos extremamente maduros e responsáveis, e por outro lado, podemos encontrar pessoas de trinta ou quarenta que são eternas crianças irresponsáveis.

E aí é que está, a meu ver, o grande problema. Ocorre que podemos atuar numa parte do processo de amadurecimento de uma pessoa, através da educação, mas nem tudo está ao nosso alcance. Fatores “externos” (amigos, ambiente social, cultura etc) ajudam a formar ou não esta maturidade assim como alguns fatores “internos”, tais como particularidades psicológicas e neurológicas que podem acelerar ou atrasar o “amadurecimento”. Educar é, em parte, agir diante das limitações também. Mas temos então outro problema, como sabemos o que realmente são limitações daqueles que educamos? Eu penso que isso é bem complicado.

E é complicado, em primeiro lugar, porque pais, mães, avós e demais familiares, tem a tendência a ver, eternamente, seus filhos, netos e sobrinhos como crianças. É comum ouvirmos idosos se referindo a seus filhos desta maneira, “as crianças”, mesmo quando estes filhos já estão na faixa dos cinqüenta anos. Eu diria que é um impulso que tem certa nobreza. Deriva do amor que temos pelos filhos enquanto eles são pequenos e nossa vontade de protegê-los e vê-los felizes sempre.

Em segundo lugar, como fator que torna complicado definir o que é limitação de nossos filhos, está o fato de que a sociedade contemporânea está “esticando” a adolescência. O fenômeno “natural” do amor paterno e materno,  que tende a infantilizar os filhos eternamente, encontra um eco na cultura moderna, que parece privilegiar o comportamento infantil até em adultos. Isso acontece por motivos diversos também e sua análise requer livros, não artigos de jornal. Um destes motivos, porém, cito agora. Para a sociedade de consumo, para as empresas e para a propaganda, quanto mais infantis ou imaturas as pessoas são, melhor. O comportamento imaturo, infantil de um jovem ou de um adulto gera lucro. Vende moda, bebida, cosméticos, aparelhos eletrônicos sem fim. Um adulto de verdade pode analisar se algo que ele vai ou quer comprar tem utilidade e, melhor ainda, se ele pode pagar ou deve gastar naquilo. Uma criança não. Portanto, quanto mais agirmos como crianças birrentas que gritam para seus pais ou para si mesmos “eu quero”, mais as empresas vendem. As propagandas da sociedade de consumo criam, assim, a ilusão de que você precisa de seus produtos e que pode pagar por eles. Na maioria das vezes é apenas ilusão: você não precisa e não pode ou não deve pagar por eles. “Querer” o tempo todo, sem se atentar para o resultado deste “querer” é permanecer infantil. Se a sociedade torna este comportamento “natural”, então somos tentados a acreditar que nossos filhos estão certos em sua eterna imaturidade. Esta é uma “limitação” criada pela sociedade e assumida por nós.

Todos nós gostaríamos de proteger os nossos e de dar a eles tudo aquilo que o mundo (inclusive o do consumo) promete como sendo bom. Só que não é assim, não é mesmo? Em algum momento temos que admitir que nossas crianças já cresceram e precisamos encorajá-las a seguirem seus caminhos e assumirem suas responsabilidades. Mais do que isso, temos que aceitar que eles vão colher o resultado de suas atitudes e que você não pode assumi-las por eles, não eternamente. Temos, assim, que ensinar isso a eles: que vão receber o resultado daquilo que fizerem ou deixarem de fazer. Pais, avós e parentes não estão eternamente aí e nem podem impedir ou proteger de tudo. Alguém aí é capaz de sofrer, pelos seus filhos, os efeitos físicos de uma dependência de drogas? Ninguém é. Logo precisamos ensinar a eles que, caso eles usem e se viciem, sofrerão os piores efeitos e nós seremos razoavelmente impotentes para ajudá-los. E não é só a questão das drogas. Se seu filho estudar ou não, se trabalhar ou não, se buscar brigas na rua ou não, se dirigir perigosamente ou bêbado, se permanecer eternamente uma pessoa de responsabilidade limitada,  tudo isso trará conseqüências que você sofrerá junto, claro, mas cujo principal sofrimento será o dele.

Hoje se discute a redução da maioridade penal de dezoito para dezesseis anos. Eu ainda não tenho uma opinião acabada sobre o tema. Mas de uma coisa eu tenho certeza: estamos criando eternas crianças e, independente da idade, em algum momento elas serão chamadas a responder pelos seus atos. Que sejamos capazes de ensiná-las a fazer isso rápido, porque se não, talvez seja tarde demais. Tarde demais não só diante da lei, mas diante da vida.

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