Os gays sempre viveram a transgressão sexual e por que agora querem casar-se. Uma instituição falida até mesmo para os heterossexuais?
Já ouvi esse questionamento diversas vezes, e a questão é mais ampla. Em dado momento histórico, era desejo desse grupo a garantia de sua liberdade sexual, o que já foi, de certa forma, conquistado. O que falta, agora, é a garantia plena para os que desejam constituir família, juntar patrimônio.
Ao exemplificarmos um heterossexual na mesma posição, esse possui o direito de casar-se e ver os seus direitos como pessoa que mantêm união estável, garantidos, sem prejuízo. Tais garantias não o obrigam a casar-se, no entanto lhe fiança todos os direitos previstos se ele optar por tal escolha, e é isso que se almeja no caso das relações homoafetivas.
Presenciei, diversas vezes, pessoas falarem que têm amigos gays, que os adora, mas que não acham certo vê-los se beijando, ou que não apóiam o casamento homoafetivo.
Essas pessoas não aceitam a afetividade existente nessas relações, é quase uma repulsa do amor que envolve esse tipo de relação.
Enquanto os “amigos” são transgressores sexuais, aceitam-lhes, porque os vêem como sendo uma conduta, algo mutável, ou se não mutável, mas como escolha. No momento que se fala da afetividade, do amor e do casamento, traz para muito próximo tal comportamento, criando a normalidade do fato.
O casamento igualitário desconforta os que são a favor de fachada. Lembro-me de um episódio, quando comemorávamos o aniversário de uma amiga, e tarde da noite, as meninas presentes resolveram ir a uma balada GLS, ao chegar e presenciar os beijos (Essa era uma boate que proíbe, inclusive, ficar sem camiseta), o que as meninas presenciaram, foi a típica dança do acasalamento que existe em qualquer balada, pessoas bêbadas se beijando.
Resolveram ir embora, e no dia seguinte ouvi de uma delas: “Fomos embora porque achamos estranho tudo aquilo, as pessoas se pegando, um lugar escuro.”
Não respondi nada, achei a colocação miserável, uma vez que todas as baladas hétero que frequento, são escuras e as pessoas bebem, dançam e se “pegam”. Mas entendi o espanto delas, a imagem que algumas pessoas têm de gays é colorida, como em uma parada. O contato que se tem é o dos cabeleireiros, dos maquiadores, dos estilistas e afins. Uma personagem na verdade.
Aceitam o gay como uma personagem quase folclórica: um humorista de TV, um comediante de “stand up”, ou aquele amigo confidente que é sensível, companheiro, compreensivo e ainda te dar opiniões sobre cabelos, maquiagem e sobrancelhas, e não como um ser humano, cheio de desejos, amores e anseios. Sabe aqueles pais que tem conhecimento que seus filhos fazem sexo, mas preferem acreditar que não fazem? É a mesma relação aqui.
O casamento igualitário é importante nesse momento não só para igualar os setenta direitos negados a quem vivência tal relação, como também trazer para a sociedade o convívio com essa realidade, tirando a imagem de um personagem, da caricatura de uma atração circense que a sociedade cria das pessoas com tal orientação sexual, e o colocando como ser humano capaz de constituir família. Excluindo principalmente a imagem de pessoas sexuais, que buscam apenas prazer sem vínculo algum com a afetividade.
Lembrando que o casamento igualitário é civil, não confundir com o religioso, além disso, não será obrigatório. As pessoas terão os seus direitos garantidos, mas somente aquelas que os desejarem.
Recentemente a Daniela Mercury anunciou o seu relacionamento com outra mulher, e também a regulamentação civil de sua união, isso a trouxe as mídias e pessoas questionaram se não era um golpe de propagada, se o que ela desejava era aparecer nos veículos de comunicação. Pode até ser verdade, embora não creia nisso.
Tem momentos que a história nos obriga posicionamentos, às vezes o silêncio se faz necessário, às vezes o grito é que se faz.
Em um tempo, onde tem pessoas decidindo contra os nossos direitos básicos é preciso gritar que existimos, e que não aceitamos tais condições e acho que foi isso que Daniela fez!
Vi, durante esses meus trinta e três anos, uma crescente mobilização contra a união homoafetiva, e isso se deu justamente no período em que os direitos começaram a ser conquistados, provando que a homofobia sempre existiu, mas que se encontrava oculta e que hoje se torna declarada. Aqueles que são contra começaram a mostra o rosto.
Deixo um vídeo que considero esclarecedor:
Deixo aqui, um link com respostas as diversas perguntas que surgem a respeito do assunto:
http://casamentociviligualitario.com.br/questoes-e-respostas/
E também um link de apoio ao PEC que modifica o artigo 226º da constituição, incluindo nesse artigo o casamento igualitário:
http://casamentociviligualitario.com.br/abaixo-assinado/
Evandro Mangueira, Nascido em 1979 na cidade de Cajazeiras, que tem por título “A cidade que ensinou a Paraíba a ler.” Atualmente mora em Piracicaba-SP, cidade que adotou como sendo sua também. Tem por formação Gestão Financeira, mas encontra-se nas letras tanto quanto se encontra nos números.
Autor do livro: Arcanjo Gabriel
Carla Betta
3 de junho de 2013
Bem esclarecedor, bem argumentado! Gostei! Seus textos sempre trazem uma nova visão para mim. Neste caso com relação ao movimento homofóbico, que não supunha assim tão forte!
Evandro Mangueira
3 de junho de 2013
É Carla, pra que vivencia essa realidade, sabe muito bem como o crime de ódio e intolerância é atuante e determinado.