Na véspera do dia de Santo Antonio, após o terço diário, começava o foguetório. Embora pobres, meu pai achava um jeito de providenciar a munição. Era o busca-pé estourando nos pés de algum lerdo; a bombinha, que a gente punha debaixo da latinha de massa de tomate até sair o fundo. O traque, também chamado ‘peido-de-véia’, que tinha um barulho ardido. O fósforo de cor era o mais bonito; girávamos o palito aceso formando círculos coloridos. As festas em honra ao santo pipocavam pelos sítios e a singela Piracicaba, que parava para comemorar seu ilustre padroeiro. Não me esqueço da procissão nas ruas do Centro animada pela banda União Operária.
Na adolescência Antonio virou o meu santo companheiro. Tudo falava para ele, principalmente minhas dificuldades e problemas. Pedia-lhe muitos favores, não me lembro de ter ficado na mão. Um dia comprei uma revista que contava sua vida.
O nome dele era Fernando de Bulhões y Taveira de Azevedo. Nasceu em Lisboa em 1.195. Desde pequeno se sentia atraído para as coisas mais elevadas. Aos 15 anos entrou para a congregação dos agostinianos. Ali Fernando dedicou-se profundamente aos estudos e à meditação. Porém seu coração não estava contente. Queria mais. Em 1.220 viu passar por Portugal os corpos de cinco franciscanos martirizados no Marrocos. Ficou profundamente abalado e comovido. Entrou para a Ordem de São Francisco com o nome de Antonio Olivares. Tentou ir também para Marrocos, mas Deus queria dele muito mais que martírio.
Morou no convento dos franciscanos em Messina, cujo prior o levou a Assis para o Capítulo Geral em 1.221. Lá conheceu Francisco de Assis, que depois o chamaria confidencialmente de “meu bispo”, pois além de sacerdote, seu conhecimento teológico e bíblico era admirável, tanto que foi autorizado a instruir os frades.
Foi designado para a província franciscana de Romagna num convento perto de Forli onde desempenhava as funções de atendente, porteiro e cozinheiro. Viveu na obscuridade até que seus superiores notaram seu extraordinário dom da oratória. Certa vez numa ordenação que acontecia na catedral da cidade, o pregador não pode ir, sobrou para Antonio substituí-lo na explicação do Evangelho. Acharam que seria um fiasco. Porém, pasmos ficaram com o que saia da boca daquele franciscano de tosca aparência.
Enviaram-no então ao norte da Itália e França a fim de pregar onde a heresia dos albigenses era mais forte. Seu linguajar claro e contundente abalava costumes e doutrinas tanto dentro como fora da Igreja. Foi chamado de martelo dos hereges.
Teve finalmente morada fixa no convento de Arcella, perto de Lisboa. Dali saia a ensinar onde fosse chamado. Em 1.231 sua pregação atingiu o ponto máximo de intensidade principalmente na defesa dos pobres e no ataque impiedoso à injustiça social, à usura e à ganância, o que lhe valeu perseguições e ciladas.
Pediu e foi feita uma casinha de madeira sobre a copa de uma árvore para se dedicar mais à oração. Contudo, sua saúde sempre frágil devido à hidropisia e aos constantes sacrifícios que se impunha, foi atingida por uma doença inesperada e morreu em Arcella a 13 de junho de 1231, com 36 anos. Olhando para o céu, suas últimas palavras foram “Finalmente te vejo!”. Foi sepultado com honras de cavaleiro e multidões clamaram por sua canonização, que ocorreu já no ano seguinte.
A maior luta de Antonio foi contra a injustiça social, cada vez mais presente em Piracicaba, que aos poucos perde sua identidade pacifica, seu encanto e se distancia de seu protetor; tanto que nem guarda mais seu dia. Seu padroeiro agora é o dinheiro; atrás dele vai grande procissão guiada por políticos picaretas, empresários sem escrúpulos e uma Igreja insossa. Se continuarmos nesse caminho, Antonio será para nós nada mais que uma estátua de barro ou um mastro erguido na Praça da Catedral.
Antonio Carlos Danelon, o Totó, é assistente social. totodanelon@ig.com.br
Anônimo
14 de junho de 2013
Salve, Santo Antonio!
Antonio Carlos Danelon
17 de junho de 2013
Salve!!!E salve Piracicaba também.
Carla Betta
17 de junho de 2013
Santo Antonio agora é conhecido como santo-casamenteiro e, nas festas juninas, totalmente desprovido de sua indumentária da luta a favor dos pobres! Vestido com folguedos e posto “de castigo” pelas moças solteiras. Grata, Totó por revelar sua verdadeira face!
Antonio Carlos Danelon
17 de junho de 2013
Valeu, Carla. Estou esperando seu novo texto.