O que eu espero agora. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 4 de julho de 2013 por

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deputado e cidadão

Neste quase um mês de protestos, assisti manifestações, li e escrevi sobre elas e também participei. E uma das perguntas que mais tenho ouvido é: no que vai dar isso? Em seguida, a pergunta mais ouvida é: vai continuar? Vai realmente significar uma mudança no Brasil? Eu quisera ter as respostas claras e definitivas, mas se as tivesse, seria um vidente, não um cientista social. Todo movimento em curso é difícil de analisar. Podemos sim acompanhá-lo, tentar entendê-lo e avaliar seus caminhos e possibilidades de sucesso, mas dizer com precisão no que vai se tornar ou se vai continuar, isso é muito difícil, quase impossível.

Esta onda de manifestações, por sua vez, tem características que a tornam mais complicada para os analistas. Como já citei antes, ela não tem apenas uma proposta, mas traduz um conjunto de insatisfações que vão desde a má qualidade e alto custo dos serviços transporte públicos até os maus serviços de saúde, educação e segurança, passando pela questão da corrupção e da impunidade. O “desbloqueio” ocorreu pelas tarifas, mas as demandas são muito maiores. Ao contrário de em outros movimentos de massa nas ruas, tais como o das “diretas já” e o do “fora Collor”, desta vez não existem partidos políticos “aliados do povo” e aqueles “inimigos do povo”. Tampouco as entidades sindicais ou grandes ONG´s e organizações de classe estão na liderança. Ao contrário, a indignação atinge todos os partidos e, com certeza, demonstra até mesmo uma desconfiança em relação a muitas entidades, como as sindicais. Tudo isso e mais o seu caráter “digital”, uma vez que as concentrações foram combinadas, divulgadas, filmadas e difundidas pela internet principalmente, torna o que está acontecendo bastante novo e, salvo algum especialista talentoso que eu no momento não conheço, provavelmente todos nós da área temos nossas indagações sobre para onde vai o movimento ou mesmo se vai para algum lugar.

Alguns falam no efeito “flash-mob”, uma mobilização relâmpago, geralmente combinada pela internet e que, até pouco tempo atrás, os jovens usavam como diversão, apenas para “testar” a difusão de um encontro combinado pelas redes sociais. Para quem vê este “efeito” por detrás das manifestações, ou seja, que elas seriam uma versão mais amplificada deste fenômeno “relâmpago” a tendência é de um esvaziamento rápido das mobilizações. Os políticos parecem apostar, para não dizer “desejar” que seja assim. Que logo voltemos todos para casa assistir a novela. Tanto que “aceitaram” algumas demandas da população bem rápidamente, tais como o arquivamento da PEC 37, a votação da lei que torna corrupção um crime hediondo e a diminuição de tarifas ou suspensão de aumentos na maioria das cidades onde ocorreram manifestos. Até um político corrupto foi preso, o que não acontecia, segundo alguns órgãos de imprensa, desde 1988. A expectativa de muitos deles é a de que, “dados estes anéis, mantenham-se os dedos” e que a partir daí as multidões se “pacifiquem” sem chegarem a questionamentos mais profundos, como a questão da representatividade, do papel do Estado nos serviços públicos ou, pior, a exigência de uma total transparência nas atitudes dos políticos e dos partidos.

E isto tudo, esta “desmobilização relâmpago” pode mesmo acontecer. Vai depender de vários fatores, dentre os quais a capacidade que os participantes dos movimentos terão de definir demandas, reivindicações centrais e de consenso. Acredito que estas reivindicações, por sua vez, terão que ser de dois tipos, um geral e o outro local. O tipo local seria uma “agenda” própria de demandas de cada cidade, como é o caso de Piracicaba em relação ao nosso serviço de saúde, educação e as atitudes da Câmara dos Vereadores, que reajustou seus salários e ao mesmo tempo é vista como subserviente demais ao executivo local. Já o tipo geral seria uma agenda de reivindicações no plano estadual e nacional. Reivindicar projetos, atitudes e mesmo uma moralização da política que ultrapasse o município. Um segundo fator que pode impedir a desmobilização é a capacidade de articulação e organização dos grupos envolvidos. Até agora, o movimento tem primado pela descentralização, com a participação e alguma organização de vários grupos, alguns estruturados efetivamente e outros mais informais, além de, é claro, milhares de cidadãos independentes. Isso é muito interessante, mas pode levar a pulverização e à desmobilização. Não se trata de acreditar em um centralismo que pode inibir o movimento mais espontâneo ou mesmo criar novos “caciques políticos”, como já vi acontecer, mas sim de avaliar que, sem um mínimo de organização, democrática é lógico, não haverão as pautas comuns que citei e, daí, a muito provável desmobilização.

Agora, se você me perguntar o que eu, enquanto cidadão que aprovo e participo das mobilizações, mais desejo, o que espero que realmente aconteça, minha resposta será um pouco mais simples. Eu espero que agora, uma vez que uma geração inteira viu o poder da população nas ruas, que fez com que políticos de partidos variados “corressem” aprovar projetos que estavam “encalhados” a tempos ou a tomar medidas que até há pouco diziam ser inviáveis (como a redução das tarifas); que esta geração que está assistindo o “sumiço” e o “medo” de muitos mandatários, inclusive em nossa cidade, que estão cientes de sua situação de questionados e por isso estão em silêncio; e que, finalmente, esta geração que viu com grande alegria o que é uma mobilização popular, passe agora a confiar mais no poder da união, do interesse coletivo, superando, ao menos em parte, o individualismo que parece ter marcado a mentalidade das últimas décadas. E espero isto com muita intensidade. Sabe por quê? Porque não existem soluções individuais para as grandes questões coletivas. E tudo o que está em jogo, fim da corrupção, educação, saúde, meio ambiente, mobilidade urbana, todos estes desafios são coletivos. Você não vai escapar destes desafios sozinho, mas talvez tenha começado a aprender que, em conjunto com os demais, pode enfrentá-los e mudar, sim, sua vida, sua cidade, o Brasil e, quem sabe, até o mundo…

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