Preocupa-me bastante tal assunto, mas não pelas razões mais previsíveis. Isso além de o tema lançar no ar novamente uma questão que jamais cala, mas a qual poucos percebem. Ou seja: o que é saúde? Que fatores devem ser considerados para uma melhoria verdadeira na saúde do brasileiro?
Quanto aos médicos estrangeiros no geral, mormente os cubanos, que pena me causam! Imaginem virem de um país organizado, a seu modo, e encontrarem nossa realidade rotineira de explosões de caixas eletrônicos, assaltos e sequestros relâmpagos.
Hoje ainda li que, em São Paulo, uma família de pobres imigrantes e trabalhadores bolivianos teve sua casa invadida e seu filho de cinco anos assassinado com um tiro na cabeça, porque a criancinha, assustada, chorava muito. Os bandidos estavam nervosos e com razão; a família mal tinha cinco mil reais em casa…
Isso, descrito acima, é aterrorizante, revoltante demais e é nosso cotidiano, nosso pão (que o diabo amassou) de cada dia. Estrangeiros, sejam então bem vindos à nova pátria!
Pode também acontecer que, no caso dos cubanos, pelas grandes e injustas dificuldades que o embargo americano cria para seu país, certos produtos industrializados como uma simples resistência de chuveiro elétrico ou ferros de passar, desodorantes e um bom xampu acabem (nunca se sabe) por mexerem com alguns deles de forma fatal e incalculável. Seduzidos. E, assim, consigam os mesmos conviver com as epidemias de crack, com as mortes, com tudo o que verão e nunca viram antes. Podem sempre conseguir trabalhar muito bem, apoiados num idealismo enorme. Mas vão ficar doentes. Precisarão de bons psiquiatras também.
Inegável que, fatalmente, a vinda de grande número de médicos estrangeiros trará retrocesso à luta médica por melhores salários e condições de trabalho, mas não estamos no céu. Essa é apenas nossa pós-modernidade. Deixemos pois de lado o corporativismo, reprovável pulsão atávica, animal e primitiva, transportada aos nossos modernos dias e modificada ao modo da sociedade atual. Sempre se pode mudar de área e cursar psiquiatria para auxiliar os pobres colegas estrangeiros. Ou podem-se aprender novas profissões: de eletricistas, de encanadores, de serralheiros. Áreas bem remuneradas, com vagas de trabalho e funções relativamente de poucas responsabilidades.
Um desafio constante é a vida! É preciso sabermos disso. Nela, coisa mais que certa é a transformação, a mudança.
Quanto à saúde em si, faltam sim medicamentos, aparelhagens de todos os tipos e tamanhos, vagas em hospitais, em UTIs. Faltam ambulâncias, postos de atendimentos, pronto socorros. Sem essas estruturas de base, melhor será trazermos, ao invés de médicos, mágicos estrangeiros. Às toneladas. Fazem muita falta.
E não é só; essas carências acima citadas serão eternas, por muito que nossos governantes se empenhem nessa luta específica. Isso porque com a morbi-mortalidade que nosso trânsito caótico causa, com a violência terrível das cidades, com a poluição do ar, água e solo por produtos carcinogênicos, empurrados que somos no dia a dia neurótico das grandes comunidades, pelos ruídos, pelos rumos anômalos de nosso modo de desenvolvimento, nunca haverá hospitais, UTIs, nem exames suficientes para mitigarem todos os nossos erros, rumos equivocados e loucuras.
Ainda “nos falta muito pra perceber ( mas será que temos esse tempo pra perder?)”, e tomara que a gente chegue lá!
Evandro Mangueira
3 de julho de 2013
Eloah Margoni, boa reflexão, mas me parece que esse médicos estrangeiros seriam para vagas em lugares distantes, as quais os médicos nacionais não desejam ocupar. Não sei se a coisa é totalmente ruim, como pintam, mas sei que existem vagas sobrando em determinadas partes do país que ninguém quer, isso sei que tem. Quanto a ser uma solução, talvez desse problema, até seja, mas existem outras demandas que precisam ser “curadas” também.
Helio Grosso Jr
3 de julho de 2013
Gostei Eloah. Caro Evandro, ninguém quer porque nao ha condições nem salários dignos.
Fui conhecer de perto o sistema de saúde Cubano. Convivi por um mês com os estudantes de Medicina da Universidade de Santa Clara. Uma coisa eu posso afirmar: nao sobrara um único medico sequer em Cuba se realmente essa insanidade se concretizar. Tamanha insatisfação do povo de la. Deu pena de ver. Voltei deprimido. Imaginem que havia colegas que nao conheciam o MAR…em CUBA!!!!!!
Evandro Mangueira
4 de julho de 2013
Helio, imagino mesmo que em Cuba a coisa esteja nesse pé, mas me responda uma coisa:
Aqui em Piracicaba uma consulta particular custa em média 250,00 reais, consultas de 15 minutos no máximo. Não sei quanto paga-se nos planos de saúde e nem no SUS aos médicos, mas sei que é bem menos do que isso. A minha pergunta aqui é: Ter uma maior concorrência (Se todos os médicos viessem pra cá) seria uma coisa ruim? Ruim para a população?
Essa é uma pergunta mesmo e não uma crítica, eu apenas não tenho conhecimento nessa área.
Eloah Margoni
4 de julho de 2013
Na verdade, quis, no artigo, ironizar nossos caminhos equivocados do desenvolvimentismo, o corporativismo de nossa classe, a primeira fala da presidente que foi, neste ponto, meio desastrada e não bem focada, e a dificuldade total, na prática, de se trazerem tantos médicos assim. Evandro, continuo achando que se a sociedade continuar com os rumos torpes que tem, não vai mudar tanto pra melhor virem médicos pra cá, o que até já ocorre; por que não ocorreria? É normal.
Antonio Carlos Danelon
6 de julho de 2013
Quem bom que você voltou,Eloah.
Penso que não somente faltam médicos. Mesmo que venham o sistema os neutalizará, como já acontece. São muitas queixas, Brasil afora, contra o atendimento ruim e Piracicaba não fica de fora. Jão são 4 cidadãos que morreram em UPAs na espera de vagas para internação. Dinheiro não falta, tanto que fazem pontes com mirante, passarela estaiada, viadutos, aquário, estádios de cair o queixo para pernas de pau e cartolas se enricarem mais ainda. O problema acontece na gestão. Está passando da hora de alguém responder. Ninguém é responsável ou isso não é crime? Para que servem Promotoria Pública, Ministério Público, Defensoria e etc.? Esperamos mais da Justiça que prender ladrões de salame, deter moleques que vendem drogas para comprar tênis e encher abrigos de crianças pobres. O ‘novo’ secretário da Saúde de Piracicaba promete ‘inverter o modelo’ intensificando atendimento nos PSFs, contratando mais médicos, aumentando a carga horária de cada setor e negociando mais leitos nos hospitais. Tudo muito óbvio, contudo, o nó do problema está na gestão. Se a administração fosse mais dialogante, teríamos melhores resultados. Só no cinema super-herói resolve tudo sozinho. Muito mais que competentes precisamos de agregadores. A participação dos profissionais é indispensável. Soluções sustentáveis se constroem coletivamente. Por outro lado, é necessário descobrir por que temos uma população tão doente. Saúde vem com políticas públicas consistentes e não com remédios e mais médicos. es.
Antonio Camarda
7 de julho de 2013
Opinião sensata, gostei muito Eloah. Vejo a vinda de médicos cubanos como um oportunidade de tocarmos o dedo nesta ferida antiga que é a saúde pública . Se por um lado não podemos negar a negligencia do governo com PARTE da classe médica, e estes médicos com certa razão protestam, por outro não podemos subestimarmos ou deixarmos de lado a existência , conforme mencionado do “”corporativismo, reprovável pulsão atávica, animal e primitiva, transportada aos nossos modernos dias e modificada ao modo da sociedade atual””””basta ver o lobby de médicos em diversas esferas do poder, desde a vereança, começando pela nossa cidade,que podemos afirmar que são excelentes profissionais e péssimos políticos, pois assisti seções da camara onde eram feitas denuncias graves por um vereador com provas sobre negligencias no sus etc. , e o vereador médico partiu para a defesa como se nada daquilo tivesse acontecido ou acontece na cidade , e como tudo fluísse como primeiro mundo, e outro medico apoiava tal atitude. Bem é bom lembrarmos do Dr, Pallocci , braço direito do ex presidente, incompetente, ladrão, nada fez pela saúde bem como seus comparsas médicos não fizeram. Infelizmente os que protestam hoje com razão, é provável que continuem votando no tal lobby , pelo vício do corporativismo, mas o tiro sai pela culatra. Na semana passada estava em uma delegacia para obter um B.O. , e la estavam duas senhoras , mãe e filha. Conversei pouco com elas mas notei o sofrimento e desespero: a filha perdera o marido, idade 47 anos, e ficou mentalmente afetada , tanto que só depois de algumas semanas é que foram à delegacia. Segundo informaram era um homem forte e nunca usara o sistema de saude, quando precisou era grave , mas houve negligencia desde o atendimento, e o equipamento ( não entrei em detalhes) estava quebrado. Dispenssaram o paciente, que voltou muito mal, foi dado um analgésico , e disseram que tal equipamento só seria consertado na proxima semana, e não encaminharam o paciente para outro local. Poucas horas …veio a óbito.. Lembro-me de um amigo estrangeiro que adotou o brasil como patria…e entre trabalhos como engenheiro no norte e nordeste durante anos,pelas mineradoras Caraíbas (norte Bahia) Vale (carajas ), em nossos encontros familiares , costumava reunir os jovens , principalmente e passar um sermão dizendo, pra q quando terminassem os estudos , demonstrassem amor e desprendimento pelo brasil indo trabalhar em regiõe do norte e nordeste que estavam em desenvolvimento e tinham potencial enorme para o futuro e eram carentes em médicos, dentistas,, engenheiros, tecnicos,com renumeração melhor que no sudeste. Mas que ninguém queria ir pra la pois la não tinha Shoping center , e outras luxúrias…, então concordo com o Evandro Mangueira que postou : “” Não sei se a coisa é totalmente ruim, como pintam, mas sei que existem vagas sobrando em determinadas partes do país que ninguém quer, isso sei que tem.”””””