A Câmara e a sua imagem. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 11 de julho de 2013 por

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No dia 03/07/13, foi publicada no site da Câmara Municipal de Piracicaba, uma “nota de esclarecimento” que acusava o vereador Paulo Camolesi e o Mandato Coletivo a que ele representa, de não cumprirem com os compromissos que assumiram em campanha. Acusa principalmente (e inveridicamente) Camolesi de utilizar o valor do aumento de subsídios aprovado em 2012 e que é objeto de contestação popular capitaneada pelo movimento Reaja Piracicaba.  O mesmo texto que, aliás, não está assinado por ninguém, diz ter o objetivo de “preservar” a imagem da Câmara e dos vereadores. Não vou reproduzir aqui, novamente, a réplica ao texto, uma vez que isso foi feito através de comunicado escrito e em entrevista coletiva na última sexta feira pelo Vereador e pelos membros do Mandato Coletivo (entrevista a qual tive a honra de ser convidado a participar como um cidadão que defende a idéia do Mandato) e que foram amplamente divulgadas pela imprensa e internet. Também já publiquei, ainda no sábado, minhas considerações pessoais sobre o fato em meu Blog, logo seria repetitivo tornar a estas agora.

O que eu gostaria de comentar, nesta coluna de hoje, é o fato de que, quem busca “preservar sua imagem” é porque acredita que ela está sendo denegrida. E neste caso, a Câmara ou os vereadores que pediram a publicação da “nota” e não a assinaram, se sentem então “denegridos” pela postura de Camolesi de não aceitar o aumento de salário que os vereadores se auto-concederam no ano passado. Com o perdão da franqueza, esta situação seria cômica se não fosse trágica. A Câmara se sente “atingida”, “desmerecida” e busca “preservar sua imagem” porque alguém coerentemente segue a vontade popular e recusa um aumento que a maioria da população acha injusto? Oras, em setembro do ano passado, o Jornal de Piracicaba realizou uma pesquisa de opinião e constatou que 87,1% dos entrevistados eram contrários ao aumento de 66% dos subsídios. Por acaso aqueles que publicaram a tal nota acreditam que esta situação mudou? Acham mesmo que agora, depois que milhões de pessoas no Brasil todo e em Piracicaba também, marcharam nas ruas em protesto contra tarifas, corrupção, mal uso de dinheiro público e falta de investimentos em áreas básicas, o povo mudou de opinião e aceita os vencimentos dos vereadores? Depois que vinte mil pessoas marcharam pelas nossas ruas e muitas até ameaçaram depredar a Câmara, eu duvido que tenha acontecido esta mudança. Penso que é o contrário. Que hoje, se refeita a pesquisa, o percentual dos contrários seria maior. Mas a Câmara, ou sua maioria (não saberei até que os vereadores venham a público defenderem seus aumentos) parece pensar ao contrário. Parece pensar que a postura de um vereador que tem depositado o dinheiro em uma conta poupança (por orientação jurídica) aguardando o momento de devolvê-lo ao povo, os está denegrindo…

Sabem o que realmente eu acredito que “denigre” a imagem dos vereadores e da Câmara? O fato da vontade popular já expressa claramente ser desrespeitada de forma tão clara. Denigre a imagem da Câmara termos tido três mortes em um mês, por falta de vagas em hospitais, e os vereadores que estão aí a muito tempo aprovaram gastos absurdos em obras duvidosas propostas pelo Executivo, sem defenderem uma saúde de melhor qualidade. Denigre a imagem da Câmara, o fato da maioria das suas ações não passar de pedidos de asfaltamento, nomes de ruas ou moções de aplauso, sem fiscalizarem o Executivo com isenção, que é um dos seus papéis principais. Denigre a imagem da Câmara, o TCE ter rejeitado as contas municipais de gastos em educação por sete anos consecutivos e os eternos vereadores reeleitos terem-nas aprovado. Denigre a imagem, vereadores oportunamente se ausentarem das sessões quando alguma matéria polêmica está em votação. Aliás, denigre a própria ausência, posto que as sessões ocorrem apenas duas vezes por semana. Não vão por quê? Compromissos profissionais? Mas se tiveram um aumento tão bom, não deveriam dedicar mais tempo às funções legislativas? Ou o aumento ainda é pequeno e quer-se mais para freqüentar as sessões?

O que denigre a imagem da Câmara são as atitudes da maioria dos seus vereadores. Inclusive a de alguns que marcham com vinte mil pessoas nas ruas por causas que incluem a moralidade dos gastos e ao mesmo tempo embolsam o aumento que estes mesmos manifestantes rejeitam. Veremos se em agosto, quando for protocolado o projeto de lei popular contra o aumento, com mais de vinte e duas mil assinaturas, o vereador-marchador vai votar contra este projeto. Veremos se ele e os outros vão denegrir ainda mais suas imagens contrariando um número de assinaturas que supera o total de votos que elegeu esta Câmara inteira ou vão finalmente ser coerentes e ouvir as vozes das ruas enquanto ainda dá tempo.

Até lá, quem, ao contrário do que diz a nota, “preserva” a imagem da Câmara é Paulo Camolesi e o Mandato Coletivo. A “nota de esclarecimento” acusa Camolesi de usar “a tribuna da Câmara, as redes sociais e a imprensa para mostrar a imagem de um parlamentar diferente dos demais, colocando-se como modelo a ser seguido e como alguém que é diferenciado dos demais (sic). E ele tem sido sim, diferenciado e um modelo a ser seguido. Ainda bem!

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