Vejo políticos e administradores, tanto da coisa pública quanto privada, pregando o crescimento econômico como único meio para melhorar a vida das pessoas. Contudo, essa visão de progresso já morreu. O bolo cresce sem parar, mas quem come são os de sempre. “Tinham razão os economistas que, já nos séculos passados, diziam ‘não se pode ser feliz rodeado de infelizes’. Se a sua felicidade deve ser garantida pela força, não é mais felicidade”. (Luigino Bruni, mestre em Economia e Política na Universidade de Milão – Mundo e Missão – março de 2009).
Vendo as cadeias cheias de pobres; gente morando em barracos; trabalhadores longe de casa amontoados em alojamentos imundos, ganhando o mínimo para erguer pontes, fazer estradas e construir condomínios de alto padrão; crianças sozinhas ou com terceiros enquanto suas mães trabalham; coletores de lixo inalando veneno por oitocentos reais; pessoas escravizadas nas fazendas do agronegócio e nas confecções clandestinas que abastecem grandes lojas; trabalhadores das minas sempre às vésperas da morte; a vida dura dos policiais, dos plantonistas, comerciários, vigilantes, motoristas, cozinheiras de restaurantes chiques, domésticas; e cafajestes endinheirados se aproveitando de adolescentes pobres aliciadas pela indústria do sexo, entendo quem banca tal crescimento.
Piracicaba tem um dos maiores PIBs do Brasil, porém aumentou a evasão escolar; o trânsito mata mais que a violência urbana; cerca de 30 mil famílias ainda estão na pobreza; o CDP está superlotado e vem mais presídio por aí; o tráfico de drogas consome o maior tempo da polícia; os delitos juvenis aumentaram em 53%; o déficit habitacional está perto de 14 mil casas; não há vagas nos hospitais; os idosos e deficientes da periferia estão jogados às traças; não há lazer e entretenimento acessíveis a todos; a população está pendurada no cartão de crédito; atividades culturais, esportivas e entretenimento só para quem têm dinheiro, basta ver quanto custa cinema, teatro e até mesmo ver o XV, apesar de ruim. Adianta um monte de dinheiro nas mãos de gestores que só ouvem empresários e estão nem aí com as necessidades do povo, especialmente dos mais sofridos?
E os recursos naturais aguentam tanta exploração? Nossa região poderá ter racionamento de água e fomos a 12ª cidade que mais emitiu CO2 no Estado em 2010. Isso é progresso? “Crescemos, construímos, gastamos e lucramos cada vez mais, mas isso não tem se traduzido em uma sociedade mais igualitária e sustentável. Esse espiral de crescimento vai até o topo, mas entra em colapso”. Gerd Leonhard, pensador alemão. (Folha de São Paulo 17.11.12. A Europa amarga uma de suas maiores crises econômicas. A lendária Grécia pede esmola. O todo poderoso Estado Americano, que diz confiar em Deus, mas anda armado até os dentes, quebrou. A China enfrenta explosão de desigualdade. Pesquisa revela que os 10% dos domicílios mais ricos concentram 57% da renda e 85% de toda a riqueza do país. Piracicaba é muito mais rica hoje que na minha infância, porém naquele tempo meu pai criou 8 sem Bolsa Família e minha mãe não trabalhava fora; não havia favelas, e ladrões só de galinhas.
Os fatos mostram que nações devastadas por catástrofes se reergueram graças à fraternidade e espírito de cooperação de seus cidadãos. Portanto, o que conta, o que faz uma nação evoluir é a solidariedade que cada um carrega dentro de si e não o dinheiro.
“O mundo não será melhor se ficar mais rico. O mundo será melhor se todas as pessoas crescerem em igualdade social…”. Dra Zilda Arns Neumann.
Antônio Carlos Danelon é assistente social.
totodanelon@ig.com.br
Carla Betta
19 de julho de 2013
Que texto lúcido e verdadeiro!
Camilo Irineu Quartarollo
20 de julho de 2013
Os que comem o bolo são os de sempre e pelo jeito, Totó, está lhes fazendo mal. É uma armadilha para os que acham que lucrar com a desgraça alheia lhes serve. A riqueza só é boa, quando não falta nada aos seus convivas desta existência precária que é a vida humana. Paz e bem.