Amigo leitor, hesitei, até hoje, por postar meus contos nesse blog, parte porque tenho uma forte influência nelsonrodriguiana, parte porque uso do estilo da escola literária naturalista, assim, predomina nesse tipo de romance o instinto, o fisiológico e o natural, retratando a agressividade, a violência, o erotismo como elementos que compõem a personalidade humana. Ressalto que os contos não representam, necessariamente, minha opinião, mas trago em suas linhas o comportamento humano mais elementar. Aos que quiserem prosseguir a partir desse ponto, desejo uma agradável leitura e quaisquer semelhanças com a vida real é mera coincidência.
Tereza Mania de Limpeza
Aos quatorze anos Bárbara lera a história de Tereza mania de limpeza, de cara se identificara. Ela era uma menina fresca, diferente de suas amigas. Nunca tomara banho de chuva, e nem brincara na lama, em dia de missa levava consigo, sempre, um lenço e antes mesmo de sentar-se na cadeira, lustrava, às vezes por tanto tempo que uma velhota ou outra resmungava.
A menina sentia-se limpa, não comia fora de casa, não bebia água em copo alheio, e na rua contava com a ajuda do pai, pois não gostava de sujar os sapatos com a terra que soprava a leve brisa.
Quando completou dezenove anos, começara um namoro arranjado, era de bons olhos para a família que a menina logo se casasse com um rapaz de tão renomada família. Ele, um galã de novela de rádio, um tipo romântico que não visitava uma única noite sem trazer, tanto para a futura sogra como para sua amada, rosas! Às vezes vermelhas, às vezes brancas, e em algumas ocasiões amarelas.
O namoro de portão, aos poucos se adentrou a sala de estar, e não tardou muito, os pais deixavam o casal sozinho por alguns minutos, oportunidade perfeita para beijos apaixonado que nunca aconteceram, ele nem mesmo tocara as mãos da moça sem as luvas que ela usava, e uma única vez sentiu a fineza de seus cabelos. A menina que de tão cândida e pura, lembrava uma santa, e em noites que o rapaz se sentia mais ávido, investia aproximando-se dela um pouco mais e Bárbara sempre limitava a distância, justificando que era hora de dormir, na verdade faltavam muitas horas antes de dormir, mas obediente o rapaz partia.
Em certa ocasião sua mãe investigou sobre o namoro e os limites de aproximação, sempre começava com uma moral ensinada pela sua mãe, no caso a avó de Bárbara:
– Como sua santa vó sempre dizia –iniciava a tormenta da mãe – não se deve deixar o rapaz abusar de nossos corpos antes do casamento, um beijo na testa por noite já é suficiente, se quiser mais intimidade uns dois beijos, sendo um na mão e outro na face, e não mais que isso, uma mulher tem que se dar o respeito.
E a moça, para total espanto até mesmo de uma mãe conservadora, promulgava que seu futuro marido nunca a tocara em parte alguma, nem na mão, nem no rosto, e que ela acha de uma sujeira imunda o beijo. A mãe olha intrigada, mas totalmente satisfeita consigo mesmo pela educação da filha.
Os dias se passaram e logo chegou o casamento, a noiva quebrando todas as regras, estava à porta da igreja muito antes da hora marcada, mas ninguém sabia o paradeiro do noivo. Alguns diziam que o viram bebendo no botequim, outros diziam que estava atrasado devido a algum problema de saúde, mas em boca pequena corria o boato que ele deleitara-se, na noite passada, em corpos nus de prostitutas e que até a hora do casamento, a bebida e a farra de cópula, não o deixara acordar, e que nem um dos seus parentes sabia onde havia ocorrido a tal imoralidade.
Depois de quatro horas esperando em frente à igreja, a menina com seu vestido branco, chorava aos braços da mãe e aos gritos e ameaças de morte, exercidas pelo pai descontrolado. Se não fosse o padre muito amigo da família da noiva e se essa família não fosse tão influente na cidade, ele próprio teria desistido de celebrar essa união, mas ficou firme perante o altar entoando hinos de louvores de hoshana.
Ao fim da espera, o pai decidido a acabar com a vergonha, liberou que os criados e os serviçais, abrissem as portas do grande barracão, onde seria servido o jantar, e que todos da cidade pudessem se deleitar no manar que seria servido, e assim se sucedeu: todos na pequena cidade comeram e beberam a custa da desgraça alheia, enquanto o pobre homem honrava-se sobre o poder de servir comida de boa qualidade a tanta gente, enquanto isso a mãe e a ex-noiva deitavam-se no quarto a espera do tempo passar.
A mãe não tardou a adormecer, vencida pela vergonha e piedade que sentia pela filha. Enquanto Bárbara, com os olhos abertos, via toda luz que entrava pela janela.
Resolveu, ainda vestida de noiva, pular a janela que dava acesso a grande fazenda do pai e as casas dos empregados. A menina pulou descalça a cerca que separava a parte nobre da fazenda da parte de mãos calejadas e casas populares dos trabalhadores rurais, que serviam quase como escravos, as lavoras fieis do senhor seu pai, rasgando vez por outra partes do seu vestido que horas antes era puro e alvo. Sentido pela primeira vez na vida, o chão sujo, úmido e frio!
Após a travessia de pedras e lama, chegou até onde era a pocilga e viu um homem robusto de roupas sujas que cuidava dos porcos alimentando-os antes dele próprio comer em sua casa, lavagem, tão semelhante a que ele dava aos animais. A moça não esperou o rapaz falar, arrancou-lhe a própria roupa, despiu-se e avançou com desejo, desejo de quem trava luta pela própria existência, e parte da roupa do mulato ela também rasgou.
O moço que não sabia o que estava acontecendo, cedeu aos desejos carnais, uma vez que ele mesmo tivera em seus braços poucas mulheres e nem uma delas cheirava a água de banho, e nem mesmo tinham pele macia.
A moça deitou-se sobre ele, e em seguida rolou no chão imundo, sem roupa, sentindo o músculo do seu amante lhe invadir e o corpo pesar suado sobre o seu. Ela sentia seus cabelos se cobrirem de lama, que era a mesma lama que os suínos usavam para se refrescarem, parte da comida dos animais que escorria dos cochos, invadiam o coito do casal que se lambuzavam em prazer.
Ao fim do último impulso do rapaz sobre o corpo de sua fêmea, ela deitada ao chão, recoberta de lama e cheirando a urina de suínos sentiu o gosto da vasa que entrava pelo canto em sua boca.
Ela gargalhou alto, tão alto que todos na festa ouviram e a cidade silenciou-se enquanto Bárbara sentia-se mais limpa do que nunca!
Evandro Mangueira, Nascido em 1979 na cidade de Cajazeiras, que tem por título “A cidade que ensinou a Paraíba a ler.” Atualmente mora em Piracicaba-SP, cidade que adotou como sendo sua também. Tem por formação Gestão Financeira, mas encontra-se nas letras tanto quanto se encontra nos números.
Autor do livro: Arcanjo Gabriel
Ninfa Sampronha Barreiros
29 de julho de 2013
Muito bom. Adorei, bem Rodrigueano esse conto,rs. Era bem esse o final. Continue, sucesso.
Evandro Mangueira
29 de julho de 2013
Obrigado Nifa, é importante ouvir opiniões, sou muito crítico com relação ao meu trabalho, sempre acho que deveria melhorar.
Elisa
30 de julho de 2013
Fenomenal!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Parabens!
Evandro Mangueira
30 de julho de 2013
Obrigado Elisa! Muito importante suas considerações!
Carla Betta
31 de julho de 2013
Bem escrito, Evandro! Bem descrito também, o que dá o clima do conto. Parabéns!
Evandro Mangueira
31 de julho de 2013
Obrigado Carla, sei que não é o estilo que você gosta de ler, então muito obrigado mesmo pelo esforço e pelo elogio.
Carla Betta
31 de julho de 2013
Li com prazer e alegria. Prazer por estar bem escrito e a alegria que diz respeito a nos deliciarmos com os feitos bem feitos dos amigos.
Valéria Pisauro
1 de agosto de 2013
Muito bom! Parabéns!
Evandro Mangueira
2 de agosto de 2013
Obrigado Valéria, é importante ouvir elogios e críticas!