
A ilustração é uma homenagem a um de meus heróis. Albert Schweitzer, músico que se tornou médico para trabalhar com os leprosos na África.
Um amigo que é médico e é dos bons, do tipo que ainda estuda, se atualiza e não recebe “prêmios” de laboratórios farmacêuticos por receitar preferencialmente os remédios produzidos por tais empresas, anda inconformado com a possível vinda de médicos estrangeiros para o Brasil. Ele argumenta que sua profissão já é muito desvalorizada e que, portanto, ao invés de se trazer gente de fora, o Estado deveria valorizar mais os daqui, provendo, inclusive, melhores condições de trabalho aos profissionais da medicina. Eu concordo com ele em parte. E principalmente porque ele é o médico que realmente faz o “dever de casa” e, ao atender um paciente que é de convênio ou do SUS, por exemplo, realmente atende, ouvindo o doente, examinando e gastando mais do que quinze minutos numa consulta, como infelizmente temos visto por parte de tantos dos colegas dele.
A parte com que concordo é a de que os médicos precisam sim de boas condições de trabalho, como de resto todos precisamos. Concordo também que, dadas as responsabilidades e as exigências, como plantões e disponibilidade aos pacientes, os valores que médicos recebem, principalmente por consultas de convênios, andam muito baixos. Por outro lado, não tenho certeza de que os salários, inclusive aqueles do setor público e também a “bolsa” que o governo quer pagar pelo programa “mais médicos”, seja tão ruim se comparado a outros. O governo federal vai pagar R$ 10.000,00 para cada médico que entre no programa, livre de impostos. Um professor universitário de nossas melhores instituições públicas e no topo da carreira, não ganha isso líquido. Mas meu amigo retruca. Afirma que, em primeiro lugar, a função social do médico é mais importante, ou pelo menos mais urgente. Que um professor, se errar, pode até prejudicar o aluno, mas não mata ninguém. O argumento está correto, mas neste caso poderíamos contra argumentar que policiais ganham bem menos que um médico ou um professor e deles dependem também a vida e a morte de pessoas. O mesmo pode-se dizer dos outros profissionais de saúde, desde técnicos de laboratório até atendentes do SAMU, de cujas atitudes e conhecimentos dependem muitas vidas. Aliás, todos estes profissionais citados, policiais inclusive, estão sujeitos a plantões e disponibilidade quase integral, além de, no caso dos policiais, arriscarem também a própria vida. Eles, então, não mereceriam salários maiores?
Meu amigo é um homem inteligente e retruca que o tempo de formação de um médico é longo, maior do que o de um policial, um enfermeiro ou o de um socorrista. Que são anos de estudos para entrar numa boa faculdade e mais tempo ainda estudando e trabalhando para aprender medicina. Correto novamente. Como professor acompanho o esforço de muitos alunos e ex alunos nestes estudos. Mas de novo vem a questão: um professor doutor no topo da carreira, na USP, por exemplo, estudou mais. E muitos ensinam exatamente medicina, logo o tempo de estudo não é um critério absoluto para se pensar todos os salários.
No fim das contas, nem eu nem meu amigo deixamos de ter razão. Mas o problema fundamental talvez esteja em outro ponto. Ocorre que no mundo atual, a remuneração de um profissional não é medida em função de seu papel em prol do bem da humanidade. É medida em termos de quanto lucro ele pode gerar, seja o lucro da empresa para a qual trabalha seja o lucro político que pode gerar para os administradores do Estado. Particularmente eu penso que um enfermeiro, um socorrista, um policial, um médico ou um professor, além de muitas outras profissões, são socialmente mais importantes do que um jogador de futebol. No entanto, o Neymar vai ganhar aproximadamente dezoito milhões de euros por ano, um apresentador de televisão do programa mais estúpido ou fútil possível pode chegar perto disso e por aí vai. Eles nem sempre estudaram e, principalmente, não acrescentam muito a ninguém. No entanto o “mercado” de trabalho os valoriza mais do que aos outros. Logo, não se trata de uma questão pontual relativa as profissões específicas, mas ao que o “mercado” e uma sociedade valorizam. E se um jogador ou um apresentador de TV ganham tanto é porque geram lucro. E se o fazem, é porque nós, a população, os idolatramos mais do que aos médicos ou professores. Isso pode mudar? Talvez, se em algum momento nós começarmos dar menos importância à televisão e passarmos a nos interessar mais pelo mundo real. Talvez, se em algum momento nós começarmos a mudar nossa própria opinião sobre quem é um ídolo. Enfim, eu não sei se pode mudar, mas sinceramente, acredito que deveria mudar.
Falando em mudança, Ronaldo “Fenômeno” parece achar que tudo está bem…
Evandro Mangueira
15 de agosto de 2013
Pois é, não serei eu que atirarei pedras contra os médicos, mas que a saúde anda de mal a pior, isso anda, quando pisei em um prego, fiquei uma semana para ser atendido e em um único dia, fiquei 9 horas esperando no pronto socorro até o cansaço me fez desistir de esperar, ao lado de gente deitada ao chão e pessoas vomitando. Estou em Piracicaba, cidade desenvolvida no sudeste do país e mesmo assim passei por isso (e muito mais), imagine quem mora em cidades de 5 mil habitantes onde o médico vira prefeito.
Max
15 de agosto de 2013
Realmente… as coisas são assim… o valor que se dá a cada profissão não chega nem perto do real valor que elas tem…(salvo certos casos, acho)
Brunão
15 de agosto de 2013
A população carente não quer saber da nacionalidade do médico, ela apenas quer um que cuide dela….Que médicos formados nas grandes universidades gostariam de ir aos interiores do Brasil??Com certeza de quantidade insuficiente…quanto ao Ronaldo.. infelizmente ele não disse nenhuma mentira, ele apenas se expressou mal num contexto de manifestações no Brasil, não devemos valorizar esse comentário dele, pq estaríamos justamente dando ênfase aos ídolos criticados no texto…assustador seria, um professor, um médico ou um político fazer esse tipo de comentário…
Carla Betta
16 de agosto de 2013
Alguns “mimimis” nesta questão dos médicos me irrita. Hoje não estou diplomática, nunca o fui de verdade, mas é que eu disfarço e hoje eu estou sem a mínima vontade de disfarçar.
Confesso que -desta vez- o texto do Amstalden mais me confundiu que esclareceu. Desculpe, Luis, é o que senti assim que acabei de ler.
1º ‘mimimi” = Vamos importar terroristas! Ainda se comenta isto em alto e bom tom como se fôsse fato que comunista come criancinha?!!! Ninguém sabe que a URSS se desmantelou? …. E todas as consequencias advindas deste fato histórico?…
2º ‘mimimi” = Pobres médicos brasileiros que não são bem remunerados. Hello! Acorda! Quase NINGUÉM é bem remunerado no Brasil! Uma porcentagem ínfima, quase imperceptível no gráfico estatístico recebe ótima remuneração. Então, que tal os médicos pararem de se esconder atrás da trincheira da classe (não falo de todos, claro) e darem as mãos a todos nós?
3º ‘mimimi” = Lei é lei e não tem essa barbaridade de privilegiar uns! Todo profissional formado no exterior TEM que revalidar o seu diploma.
4º ‘mimimi” = Não falta médicos, falta estrutura_ como se uma coisa excluísse a outra! Mas, sem estrutura AINDA se pode realizar atendimentos razoáveis. Sem médicos não tem como. Vide “Médicos sem fronteiras”.
Brunão, concordo com vc: vamos parar com esse “mimimi” em cima de declaração de jogador de futebol, de mulher-fruta, de modelo-manequim! E prestar mais atenção às opiniões de quem pensa, de quem estuda, de quem procura conhecer o asunto.
Enfim, quem assina este comentário não é Carla Betta evoluída, é a carcamana, a Bettarello, neta e filha de pai e avô briguentos e reclamões! Hoje, esta sou eu. Amanhã vai ser outro dia. Mas, minha opinião é esta mesma, só poderia ter sido expressa de outra forma.
Antônio Cláudio Fischer
16 de agosto de 2013
Amstalden, vc mexeu na ferida. Como avaliar o merecimento dos salários das profissões não é. é obvio que cada um pucha a sardinha para o seu caçuá ou jacá, quem não pode puxar para lado nenhum é o aposentado, o trabalhador que recebe salário mínimo, é os domésticos que após achar que teriam algum direito viram tais direitos serem mudados e quase voltarem ao “status quo”, e assim vai. Belo artigo, parabéns meu caro.
helio rocha
17 de agosto de 2013
Trabalhei pelo BB em quase todos os rincões deste país. Vi muita miséria, tristeza, seca no NE, frio (muita inundação) no sul, pobreza no vale do Ribeira (aqui em SP – pode crer-o melhor e mais rico!!).Minha esposa estava grávida – e só pudemos consultar um médico depois de 30 dias – eu estava no sertão/caatinga-ou catinga – do sertão baiano -onde UM médico passava em Macaúbas(BA) uma vez por mês. Hoje deve ter mudado e deve ter até um hospital e então o médico tem amparo logístico para trabalhar e atender toda a região.Concordo em se pagar bem para esses heróis que juraram lutar (Hipócrates) pela saúde das pessoas. Admiro quem foi para a África cuidar dos doentes e famintos.O recurso usado pelo governo não é dele – é nosso e deve servir para melhorar a vida do povo.Tem pontos a favor e contra e acho que um debate nacional deve ser feito para benefício da população. Sou contra os convênios médicos que exploram seus associados e prestam um serviço de má qualidade. Tenho exemplos disso na minha família e não sou leviano para falar disso. Piracicaba precisa de uma faculdade de medicina – formar médicos e bem remunerados trabalhar no interior de estados com gente doente, pobre. Eu -desculpem-me a modéstia – fui dissiminar crédito agricola no sertão de muitas cidades e o fiz bem – de acordo com normas e minha consciência de servir quem precisava “comer”!!
Evandro Mangueira
17 de agosto de 2013
É isso aí Helio!
helio rocha
17 de agosto de 2013
Amstalden – estamos com você. Seus comentários devem ter desagradado “alguém”. Não acho que o JP deveria ter “tirado” seus comentários – verdadeiros, por sinal – pois não ofendeu ninguém e nunca foi acintoso. Hoje – falar a verdade nesta cidade, neste país,. neste estado – é crime!! Vide mensalões, “trensalões” (não tremsalões”) pois são prova de cabal irresponsabilidade fiscal e improbidade administrativa de pessoas que se apoderaram de tudo que é governo e não admitem q/q crítica que se faça a eles. Lutamos por democracia para ter o direito de falar, agir, criar nossos filhos numa legítima NAÇÃO onde deve prosperar a dignidade, a ética, a transparência e a honestidade -tão em falta hoje nos nossos eleitos. Acho que o JP – com nova roupagem atualmente – deve rever essa atitude e permitir que q/q cidadão exponha seu pensamento. Isso é jornalismo sério, imparcial, conectado com a realidade e com responsabilidade perante seus leitores. O leitor é a razão da existência dos jornais do país. Ninguém anuncia num jornal de poucos leitores e isso pode levar à bancarrota todos os que assim agirem. CUIDADO !! A VOZ ROUCA DAS RUAS FOI OUVIDA E TRANSMITIDA ATRAVÉS DAS MÍDIAS SOCIAS E SAIU ÀS RUAS SEM CHAMAMENTO DA ”GRANDE IMPRENSA” DE CONLUIO COM ”GRANDES PARTIDOS E GRANDES POLÍTICOS” DONOS DE TVS, JORNAIS, REVISTAS ETC. Eu ainda acredito no jornal de “papel” mas se a censura for o motivo de cercear opiniões, temo que o fim deles está próximo. Temos 230 milhões de celulares, smarts, iphones, ipads, notes, e outros meios que poderão substituir os jornais e revitas. Vide Folha de ontem – 16.08.13 -com 319.182 exemplares – impressos + digitais – é pouco num universo populacional de 200 milhões de leitores ávidos por notícias verdadeiras!!!
Carla Betta
17 de agosto de 2013
Hélio: identifiquei-me com seus comentários. A gente precisa pensar mesmo em todos os cantos do Brasil. Quanto aos convênios: não poderia ser diferente, pois foram criados para lucrar. Mas, na falta de uma boa administração pública da saúde, o que nos resta? Sermos reféns dos convênios.
Interessante a sua colocação sobre as mídias alternativas, agora é que realizei o alcance delas.