Por volta dos 30 anos já tinha acumulado conhecimento suficiente sobre o sofrimento do povo. Sabia das causas e tinha uma proposta. Mas quem acreditaria? Se transformasse pedras em pães poderia ganhar credibilidade. Porém, ele sabia que só esse pão não mata a fome do ser humano. Pensou arriscar-se em exibições portentosas para que Deus se manifestasse; e existia também a possibilidade de aliar-se aos poderosos e fazer sua mensagem vir por decreto.
Percebeu, no entanto, que não era por aí. As transformações devem vir de dentro para serem definitivas. Isso não acontece com milagres, pirotecnia e movimentos de massa. Massa gosta de espetáculo e de mudanças mágicas. Por isso, exige sinais, não para crer, mas para satisfazer sua mentalidade descartável e consumista.
Para mudar as coisas seria preciso partir, se entregar, ir atrás, argumentar, testemunhar, construir tijolo por tijolo, enfrentar o desacordo, driblar o perseguidor, dormir ao relento, botar a vida em risco, semear com largueza e confiar na providencia. Quando ele fechou as portas da carpintaria e deixou a mãe aos cuidados dos parentes, correram atrás dizendo que ficara louco. Tinha decidido. Arrumou um grupo de desencanados e começou fazer-lhes a cabeça. Até voltou para sua terra certa ocasião; quase foi linchado. Afinal, que sinais davam fiança ao filho do carpinteiro que até outro dia era um deles?
A partir de então sua família passou a ser os que nele punham crédito. Sua fama cresceu e a certeza também. Ia de cidade em cidade e falava abertamente. Arrumou encrenca com os líderes do povo. Furou muitas regras que eles prezavam mais que a vida. Chegou a desafiá-los a matarem-no que ele se reergueria em três dias. Chamou de víboras, donos da verdade e opressores do povo os que se julgavam mestres. Encarava discussões desgastantes com os chefes e não deixava ninguém sem resposta. O cerco foi apertando e armavam-lhe ciladas para o pegarem em alguma palavra atravessada. Pediram que desse uma sumida porque até o rei queria matá-lo. Chamou o rei de raposa, e disse que ninguém o impediria de completar sua obra.
Como pop star do momento desapontava a galera com atitudes como entrar na capital da nação montado num jumento; lavar os pés dos amigos; não resistir ao malvado, defender prostitutas, aceitar um traidor no grupo e perdoar quem o torturava.
Tinha compaixão dos doentes e resgatou-lhes a fé que cura. As pessoas de vida duvidosa e os excluídos encontravam nele proteção. Enternecia-se com as crianças porque via nelas o protótipo do cidadão do Reino que anunciava. Contudo, temia que sua missão fosse desvirtuada. Teve de se esconder muitas vezes para não ser aclamado.
Todavia, do que ele gostava mesmo era falar do Pai, e com tal autoridade que o povo ficava suspenso. Deixou muito claro que a maldade vem de dentro das pessoas. É necessário conversão do coração ao amor, porque o amor vem de Deus e supera todas as barreiras que atravancam uma vida de bem-aventuranças. Não adianta colocar remendo novo em pano velho. Gestos de bondade nada mudam. É necessário ser bom e dar rumo novo à vida. “Se observais os meus mandamentos permanecereis no meu amor, como eu guardei os preceitos do meu Pai e permaneço em seu amor. Eu vos digo isto para que a minha alegria esteja em vós e vossa alegria seja plena”. (Jo 15,10).
Chegada a hora deixou-se capturar sem resistência. Afiançou a inocência dos seus amigos e sozinho encarou as conseqüências de sua opção. Despejaram-lhe nas costas o ódio que os consumia por serem cegos e não abrirem o coração à misericórdia. Aguentou toda a humilhação a que foi exposto e do alto do suplício ratificou tudo o que disse e fez. Foi sepultado num túmulo emprestado. Porém, a morte era pequena para ele. Apesar da enorme pedra e dos guardas ele saiu vivo radiante de luz.
Antônio Carlos Danelon, o Totó, é assistente social. totodanelon@ig.com.br
Anônimo
2 de setembro de 2013
Que lindo! Parabéns.
Anônimo
2 de setembro de 2013
Texto maravilhoso!!!!
Parabéns.
Antonio Carlos Danelon
3 de setembro de 2013
Obrigado anônimos, que sem ninguém saber ajudam a melhorar o mundo.
Ninfa Sampronha Barreiros
2 de setembro de 2013
Só assim tijolo por tijolo, sem nunca se perder dos seus ensinamentos. Um texto e tanto. Parabéns Totó.bjs
Antonio Carlos Danelon
3 de setembro de 2013
Valeu, Ninfa, agora mais que nunca. Tijolo por tijolo como você vem fazendo sem descanso mesmo frente a persguições e incompreensões.
Amadeu Provenzano Filho
2 de setembro de 2013
A leitura crítica do texto, diga-se, inspirado por Deus, tem tudo a ver com o que estamos vendo na nossa cidade. Alguém tem que ser crucificado, alguém tem que pagar, e vindo de onde menos se podia esperar: de pessoas conduzidas para representar o povo, perseguindo o povo que os conduziu para representá-lo. São crianças, adolescentes, jovens, homens e mulheres, idosos sofrendo como Jesus e sendo condenados, uns por acusações cheias de inverdades, outros por falta de escolas, outros por falta de saúde, outros por falta de segurança, outros por falta de trranporte humanizado. Ainda ssim, vendo tudo isso acontecer debaixo dos seus olhos, perseguem.
Antonio Carlos Danelon
3 de setembro de 2013
Obrigado, Amadeu. Sei o que você sente desde nossos bons tempos do movimento jovem porque seu coração tem fome e sede de justiça. Por isso sofre. Não se esqueça que se perseguiram o Mestre perseguirão também seus seguidores. Contudo, “tenham confiança. EU venci o mundo”. Nós também venceremos.
Daisy Costa
2 de setembro de 2013
Compartilho infinitas vezes!!! Maravilhoso este texto, mais que um poema, mais que uma oração, mais que um manifesto
Evandro Mangueira
2 de setembro de 2013
Muito bonito o texto!
Antonio Carlos Danelon
3 de setembro de 2013
Daisy e Evandro, é uma honra ser lido por vocês; elogiado, então é a glória. A luta continua e ELE caminha conosco. Isso basta.
Antonio Camarda
2 de setembro de 2013
Parabéns pelo texto, tão bem comentado pelo Amadeu Provenzano Filho . Estamos vivendo e testemunhando tempos difíceis, caracterizado pela inversão de valores. A exemplo do passado, acredito que se Ele “o Filho do Carpinteiro” surgisse de repente em qualquer lugar ,em especial em nossa querida cidade, disfarçado em gente do povo, seria tratado como “Super Star” caso fosse reconhecido por parte da mídia adepta do poder ou de quem paga mais, usando-o como objeto promocional. Caso contrário, ou seja , não sendo reconhecido….passaria pelas mesmas injustiças, perseguições que estamos passando. E caso o Filho do Carpinteiro, agisse como narrado por João 2:15 -16 “Fazendo um chicote com algumas cordas, …..expulsou a todos do templo, “” Imaginem se como cidadão tentasse hoje mesmo sem chicote expor seus pensamentos sobre a verdade , apontando as irregularidades que ocorrem na nossa suposta casa de leis . Interromperiam seu discurso, o acusariam com mentiras, o expulsariam do recinto , e dependendo da acusação teria uma tropa de guarda costas de algum nobre da casa prontos a provocar e agredir tal cidadão. O próximo passo seria ir até a delegacia e ainda registrar B.O invertendo o acontecido ….não contentes como de costume entraria em ação o pessoal da inquisição , para rever nos vídeos se tal cidadão estava sentado durante a falsa leitura da Biblia , falsa pois eles não seguem o que la esta exposto . Depois a perseguição continuaria: mandariam verificar onde trabalha, acionariam a chefia ou empregador para demiti-lo!!!!!! Resumindo : se o filho do Carpinteiro continuasse falando de justiça , é bem provável que teria o mesmo fim de um cidadão trabalhador do rio de janeiro Amarildo de Sousa….. Apesar do poder dos mais fortes , hipócritas , não devemos esmorecer ao dedicarmos voluntariamente nosso tempo às causas que visam destacar os valores humanos mais nobres. Estamos pacificamente pleiteando somente:Ética,e Transparência na tentiva de barrar a corrupção vergonhosa, pois sabemos que : A CANETA DE UM POLÍTICO CORRUPTO MATA MAIS QUE A ARMA DE UM TRAFICANTE. Ainda existe defensores da justiça, sejam advogados , promotores , juízes , confiáveis nos quais podemos depositar esperança . Nem tudo esta perdido.
Antonio Camarda
2 de setembro de 2013
Aos que não estão acompanhando o que ocorre na chamada casa de leis ou camara municipal de piracicaba , quando mencionei “perseguições ” , é bom como diz o dito popular ‘matar a cobra e mostrar a cobra” então vamos la: um jovem que estava sentado durante a leitura da Biblia, foi retirado do recinto pela polícia.por ordem do presidente da casa…. …foi ameaçado de prisão , mas o presidente perdeu nos tribunais pois o brasil é um pais laico. Não conformado e vingativo o presidente processou novamente o jovem funcionário público para que perdesse o emprego…..Recentemente uma professora respeitada foi homenageada na camara, junto com outras por meritos…. A professora , na internet agradeceu mas confessou não sentir-se a vontade no recinto devido atitudes de parlamentares…Bem, resumindo: foi e esta sendo perseguida …chegaram a ligar para a diretora da escola e para orgão(s) de coordenadoria de ensino , com a finalidade de puni-la.. …. Mais recente foi o Snr Antonio Oswaldo Storel , cidadão respeitavel , quem foi a vítima , sendo demitido do cargo de assessor do vereador Paulo Camolesi , simplesmente por ter publicado um artigo no jornal Gazeta de Piracicaba, esclarecendo como funciona a camara municipal . Estão tentando calar qualquer cidadão que não caia na “simpatia ” dos nobres….É uma ditadura disfarçada em democracia. .
Antonio Carlos Danelon
3 de setembro de 2013
Camarda, velho e indomável guerreiro. Coração inquieto enquanto o sol do bem não raiar. Pessoas como você dignificam o mundo. Enquanto tivermos Camardas a injustiça não terá sossego.
Carla Betta
3 de setembro de 2013
Lindo o texto, lindo este JESUS próximo, humano e revolucionário! Penso que Ele é assim mesmo! Mais humano e revolucionário do que possa supor a nossa vã filosofia! Abçs!
totodanelon@ig.com.br
4 de setembro de 2013
Carla, quem tem você por perto erra menos. Sempre sincera, transparente e acolhedora.
marisa h.s.oliveira
3 de setembro de 2013
Sempre muito lindo seus textos.
Antonio Carlos Danelon
4 de setembro de 2013
Obrigado, Marisa. Fico muito contente e com vontade de escrever mais.
Evandro Mangueira
4 de setembro de 2013
Um texto para ser relido! Comovente, e como disse minha amiga Carla, um Jesus humano.
Antonio Carlos Danelon
4 de setembro de 2013
Ficou muito grato, Evandro. E Ele deve ter sido mais ou menos como você que quando fala, fala o que sente, sem medo e com ternura.