Sempre que falo que sou nascido em Cajazeiras – PB e depois de explicar que PB é Paraíba e não Pernambuco, e fica no Nordeste e não no Norte, escuto as mais diversas exclamações, entre elas cito três que são muito frequentes:
– Nossa, mas você é tão branquinho!
– Mas você fala tão bem, como pode ser de lá?!
– Você é do “Norte”, mas não come carne? Vá! Você deve ter comido muita “buchada de bode” na infância! (Referência ao fato de que sou vegetariano)
Há um ano estava no processo de jardinagem de minha casa e precisava plantar grama, não conhecendo nada a respeito do assunto e precisando comprar ferramentas, busquei uma agropecuária renomada de Piracicaba. E diante minha quase total ignorância no assunto, perguntei a um vendedor a respeito de enxadas, isso depois de ter escolhido sozinho, mangueira com aspersores, tesoura de poda, válvula solenóide e outras coisas mais:
Qual a enxada é mais adequada para carpir matos em terrenos repletos de pequenas pedras de rio?
(se você é como eu, um ignorante nesse assunto, saiba que existem mais enxadas dos que se pode imaginar)
Para minha surpresa, em vez de resposta, ouvi uma nova pergunta:
De onde você é com esse sotaque?
Respondi que era da Paraíba e para minha total indignação, ele completou:
Vai me dizer que nunca pegou em uma enxada, que não sabe escolher uma enxada?
E acreditem, apontou para um conjunto de ferramentas que estavam ao canto e saiu, deixando-me sozinho para escolher a ferramenta!
Uma moça que entendia tanto de enxada quanto eu, me ajudou, finalizando a compra.
Em outra ocasião, fui pegar um diploma de um curso técnico que há alguns anos deveria ter buscado. Por não conhecer mais ninguém da escola, perguntei a uma das moças com quem eu deveria falar e ela me informou:
Fale com uma moreninha na secretaria.
Cheguei até a secretaria e lá existiam quatro mulheres, três morenas e uma negra, e a tal “moreninha” era a mulher negra.
Como podem ver, existem, claramente, três formas de preconceito nessas situações:
1 – Preconceito explícito;
2 – Preconceito velado;
3 – Preconceito enaltecedor.
Começarei pelo explícito.
O vendedor de enxadas não se inibiu em expressar sua opinião de que todo nordestino é, ou deveria ser, um retirante, um possível cortador de cana e que por isso seria um sábio na arte de comprar enxadas!
Nesse caso ele errou, porque embora eu seja um nordestino com todas as limitações que os nordestinos sofrem por fazerem parte de uma região explorada politicamente e esquecida por uma nação inteira, não sou retirante. Nunca tive a necessidade de usar uma enxada e muito menos de comprá-la. Sei que algumas pessoas acham que lugar de nordestino é na portaria de um prédio ou como servente de pedreiro, mas não é bem assim que o mundo funciona.
O preconceito explícito é fácil reconhecer, inclusive o indivíduo que o pratica, porque ele é formado de frases de efeito, com sentido claro e sem base argumentativa, é porque sempre foi assim e, portanto deverá ser assim para sempre, mas a principal característica desse tipo de preconceito é a generalização. O caso da Mayara Petruso ilustra bem esse artigo.
Já o preconceito velado é aquele que teme falar errado, que teme ofender, peca pela omissão da verdade.
Bem mais difícil reconhecer, uma vez que é oculto, enevoado e acompanhado de falas complacentes. No caso da “moreninha” não bastasse falar que a mulher é morena, sendo uma inverdade, pois ela era negra, ainda acompanhada do sufixo “inha” para deixar a frase meiga, carinhosa e sem maldade.
O Preconceito velado é para mim o mais perigoso dos preconceitos, pois a pessoa teme tanto ser tachada como preconceituosa que acaba pecando por excesso e falta com a verdade.
Ninguém em um ambiente descontraído usa a palavra homossexual para se referir a um gay, ou o termo afro-descendente para se referir a um negro, a não ser que nesse ambiente esteja um gay, no primeiro caso, ou um negro no segundo caso, ao qual não se tenha intimidade suficiente.
Eu costumo brincar que diferencia-se a palavra gay de homossexual da seguinte forma: Gay é quando se fala do filho do vizinho, homossexual é quando os pais dele te visitam.
O preconceito velado ocorre corriqueiramente no Brasil, diariamente o vemos. Nosso povo tem um dos piores preconceitos: o velado.
Vejamos o que aconteceu aos médicos cubanos, existem diversos argumentos contra e a favor acerca da decisão política de se trazer médicos de fora, não só de Cuba, mas os mais criticados foram eles. Foram criticados pela cor, pela condição social, condição política, pela a aparência e até pela suas capacidades de atuarem na área que são formados. Um acontecimento qualquer nesse país o preconceito aflora, reaparece e toma força e proporções assustadoras.
O mesmo ocorreu quando surgiu o debate sobre a regulamentação do casamento gay, os homófobos apareceram, gritaram e espancaram.
Pois não poderia ser diferente, essa é a principal característica do preconceito velado, as pessoas dizem não ter até a hora em que uma classe ou grupo entra em evidência, daí vem o famoso bordão: “Não tenho preconceito, mas daí os gays quererem casar é demais” ou “Não tenho nada contra a raça deles (negros), mas…” essa última frase já foi completada por diversas maneiras.
Conheço pessoas que usufruem de planos do governo como: Prouni, minha casa minha vida, entre outros e ao falar do bolsa-família a carga preconceituosa aparece de forma tão violenta contra os nordestinos que fica claro a crítica, não é por ser um plano de divisão de renda, mas sim por contemplar diversas família a baixo da linha da miséria, é por tirar crianças carvoeiras da fome e do trabalho escravo, em regiões do Nordeste. Condenam-se todos daquela região ao patamar de ignorantes políticos, preguiçosos e aproveitadores do Estado.
A verdade é que os planos de divisão de renda são necessários e eu desafio alguém a viver com a quantidade que o governo oferece. Esse argumento é tão ruim e tão sem fundamento, que a pessoa que o faz esquece-se que nesse país quanto mais rico, mas beneficiado, um grande empresário é beneficiado em milhões todos os meses, seja porque não declara, seja porque não paga os impostos ao governo (mesmo quando esses impostos são repassados ao consumidor), seja porque declara sua renda em forma de pró-labore, seja porque é beneficiado com diversos outros meios. Seria no mínimo injusto falar contra o bolsa-família quando tantos milionários se beneficiam do governo.
E o que dizer do que enaltece?
Pode parecer brincadeira, mas esse é sem dúvida o mais estranho comportamento humano, pois para revelar de forma sutil o seu pensamento, a pessoa preconceituosa elogia. Quando uma pessoa afirma: “você fala muito bem por ser nordestino”, ela ofende não só os nordestinos que não tiveram a oportunidade de desenvolver suas aptidões acadêmicas, mas também ofende aqueles que se esforçaram por anos para conseguir algum conhecimento.
O preconceito velado é comum de ser visto, é quando alguém elogia claramente com ar de surpresa de que aquilo seja realmente possível, ou quando sugere que é uma anomalia, uma exceção.
É curioso, porque as três formas acentuam, na verdade, a covardia, a arrogância e a ignorância do individuo respectivamente nas formas velado, explícito e enaltecedor, separadas apenas por essas características. Mas aí mora o grande perigo, o preconceito enaltecedor e o velado, juntam-se ao explícito na primeira oportunidade. Nós vimos isso, quando pessoas apóiam deliberadamente o Feliciano, quando pessoas se expressam em defesa de Micheline Borges, ou quando pai e filho juntam-se para torturar e matar rapazes gays como o caso de Igor Xavier, que a família espera há onze longos anos por justiça.
As multifaces desse comportamento criam variáveis que se camuflam facilmente na sociedade e são aceitas como normais, sem maldade. Cria-se mecanismo para se diluir em meio a conversas, surge de forma espontânea e se propaga, se prolifera.
Receio termos o pior dos preconceitos e quanto a mudar esse cenário, só enxergo um caminho: o conhecimento.
Evandro Mangueira, Nascido em 1979 na cidade de Cajazeiras, que tem por título “A cidade que ensinou a Paraíba a ler.” Atualmente mora em Piracicaba-SP, cidade que adotou como sendo sua também. Tem por formação Gestão Financeira, mas encontra-se nas letras tanto quanto se encontra nos números.
Autor do livro: Arcanjo Gabriel
Evandro Mangueira
9 de setembro de 2013
NOTA:
Onde lê-se: O preconceito VELADO é comum de ser visto, é quando alguém elogia claramente com ar de surpresa de que aquilo seja realmente possível, ou quando sugere que é uma anomalia, uma exceção.
Leia: O preconceito ENALTECEDOR é comum de ser visto, é quando alguém elogia claramente com ar de surpresa de que aquilo seja realmente possível, ou quando sugere que é uma anomalia, uma exceção.
Carla Betta
9 de setembro de 2013
Gostei muito do artigo! Gostei da lucidez com que nomeia os modos de expressão dos preconceitos!
Anônimo
9 de setembro de 2013
Excelente reflexão!
Evandro Mangueira
9 de setembro de 2013
Obrigado amigo(a)
Marcelino Agostini
10 de setembro de 2013
Sinceramente, concordo em parte com o texto. Essa história de preconceito velado é muito relativa. Eu não tenho vergonha de dizer que sofri bullying na infância, na escola. Não por ser negro nem nordestino. Mas sim por ser o menor da classe e por tirar as melhores notas (o fatídico rótulo de CDF). Ser motivo de chacotas, “apanhar” dos colegas maiores, isso foi uma forma de preconceito. Quanto a esse nhém nhém nhém de chamar uma pessoa de moreninha, é relativo. Acho que a própria sociedade não está preparada para uma cena do tipo: “Pode falar com aquela moça negra ali”. Mesmo que não haja má intenção por parte da pessoa, é uma forma de expressão incomum, que tende a ser mal vista e mal interpretada. O que você vê como preconceito velado pode ser simplesmente uma atitude mui respeitosa da pessoa. Ou você duvida que se ela dissesse a frase acima, não haveria meia dúzia de pessoas olhando com certo ar de estranheza?
Com todo o respeito, Evandro, acho que o seu exemplo da agropecuária mais me parece um caso de um funcionário mal-educado e sem o menor perfil para atender ao cliente. Não duvido que seria aquele tipo que não perde a piada. Poderia ser uma pessoa obesa, uma garota jovem e delicada, um idoso, ele provavelmente encontraria uma forma de desrespeitar o cliente e deixá-lo no vácuo, pois pessoas assim fazem disso um hábito. Não pense que estou aqui numa posição confortável fazendo cista grossa para o preconceito que existe, sim, e muito no Brasil. Mas essa moda do politicamente correto trouxe uma tendência a se ver preconceito em tudo e todos. E não pense que não falo com conhecimento de causa. Já falei do bullying na infância, e nem preciso mencionar que já ouvi horrores quando assumi ser gay. Eis um exemplo: uma amiga, fanática religiosa, tentou me exorcizar por telefone!
Com todo o respeito, acho que é possível ter uma visão mais otimista do mundo à sua volta. Não falo de deixar de ser realista, até porque o pessimismo em excesso também nos cega. Mas se você pensar que toda vez que alguém o desrespeita não é necessariamente porque você nasceu em Cajazeiras, mas talvez porque existam, no mundo, pessoas frias, cruéis ou simplesmente mal-educadas, que não sabem ou nem querem ser boas com os semelhantes. A melhor forma de combater esse “preconceito velado” é ignorá-lo. Ou então sucumbir à paranoia.
Evandro Mangueira
11 de setembro de 2013
Olá Marcelino, tudo bem? Conheço sua opinião a respeito do politicamente correto e o quando sou paranoico e moralista de outras ocasiões, agradeço sua colaboração no que tange ao texto, muito útil sua reflexão a respeito dos possíveis exageros de minhas falas. Mas o fato é que a sociedade aceitando ou não existe preconceitos velados. Quanto ao rude empregado, ele poderia está só em um dia ruim, e nós dois sabemos que isso pode acontecer, alias existem funcionários que parecem que os dias ruins são eternos, mas não vem ao caso, ocorre que não sou vitimista e longe de mim ser, usei meu exemplo porque tenho propriedade dele, não gosto de citar pessoas e casos, mas conheço muitos. É verdade o rapaz poderia apenas ser rude com qualquer outro, o que não justifica. Lembro do caso do Danilo Gentilli (Deixo claro que gosto muito dele) que tentando justificar o fato de que ele chamou negros de macacos, ele disse algo assim: “Se posso chamar gay de viado, gordo de baleia, por que não posso chamar negro de macaco?” Infeliz colocação, uma vez que ele não pode chamar gordo de baleia e nem gay de viado, nem o vendedor também pode. Quanto a sociedade não querer ouvir frases do tipo: fale com aquela negra, acho que isso deveria mudar, nossa colega de trabalho e minha amiga pessoal, Carla, não tem problema em dizer que seus filhos são negros, não me lembro dela os tratar por “moreninhos”, mas se posso dar minha opinião nesse caso, ela não deveria ter dado referência alguma, um nome entre quatro pessoas (número de funcionárias na secretaria em questão) não seria difícil de se descobrir quem era. Aceito suas colocações com muito apreço, pois sendo condição do texto público é esse o papel social dele, fomentar a discussão. Quanto a atitudes muito “respeitosas”, essas nunca valorizei muito. Não sigo modismo do politicamente correto, eu acredito que ser politicamente correto é o melhor, eu sou politicamente correto, e não vejo que isso seja ruim, oposto sim, acredito ser devastador. Mais uma vez obrigado pela colaboração, seus comentários só contribuem para que minhas opiniões se fortaleçam.
Carla Betta
11 de setembro de 2013
Em meus artigos e noto que em alguns artigos do Amstaldem também partimos de uma situação cotidiana particular para analisar o todo, portanto, pelo que conheço e pela resposta dada, foi este o caminho percorrido pelo Evandro em seu texto. Não cabe, penso eu, julgar o atendente, mas o que esta situação representa.
Marcelino, vc me desculpe, mas não é nenhum nhém, nhém, nhém, a questão de chamar uma pessoa negra de “morena”, é puro preconceito! De que tem 2 filhos mulatos (lindérrimos, diga-se de passagem) e um ex-marido negro. De quem viveu em 4 cidades do estado de São Paulo. De quem morou no exterior por 3 anos. De quem viveu na pele os olhares dissimulados, nem sempre sutis, do preconceito. É a mais pura e disfarçada discriminação. Qual seria o problema de nomear a pessoa de negra? A maioria das pessoas negras que conheci, incluindo meus ex-marido, detesta ser chamado de “preto”, “pessoa de cor”, “moreno”. Confesso que a repulsa peloo adjetivo “preto” eu não compreendo muito bem, mas respeito. “De cor”, por quê? Não somos todos “de côr”? Ou somos todos transparentes? Eu sou bege, neste caso, com manchas diversas em tamanho e côr. Morena é a Branca de Neve: pele alva e cabelos pretos. É um eufemismo, portanto, para dissimular o preconceito. Que desrespeito haveria em me chamarem de branca? “Aquela pessoa branca ali, de vestido…” Então, por que não dizer “aquele negro, de camisa verde”?
O chato, muito chato do modismo não se refere apenas às pessoas que o seguem, mas aos que são contra, o que acaba se tornando um modismo às avessas. Não estou dizendo ser este o caso, é apenas uma reflexão que faço. Seria bom, mais rico, se conseguíssemos encarar pessoas, situações, a vida, enfim, com o olhar entusiasmado de uma criança, no qual tudo é novo e poderia ser analisado como tal.
Evandro Mangueira
11 de setembro de 2013
Carla, em um artigo que intitulei de “Sou exclusivo, mas uso modinha” escrevi:
Sou contra os modismos? Não!
O que precisamos é aceitar que vivemos em um grupo e que o grupo copia comportamento, assim com todos os primatas o faz, que o comportamento de um grupo, às vezes, garante a sobrevivência do mesmo.
Aceitar que precisamos de modismos, como motivação de existência é , talvez, o caminho de aceitar que não somos exclusivos, que fazemos parte de uma comunidade de sete bilhões, crescente, de humanos, de que cada um é contribuinte de um todo.
É perceber a insignificância da unidade e notar o movimento do todo. O pensamento exclusivo é que leva alguém a jogar papel na rua, pois, esse acha, é só um papel.
Precisamos urgentemente, notar que somos um grupo, que somos primatas imitadores e que a exclusividade leva a morte. Quando se vive em bando, precisam-se seguir modelos, mas também precisa-se aceitar que não temos nada de especial, por isso:
Seja doador de órgãos, eles não servirão para nada depois de sua morte;
Não se apegue a materiais, doe livros, revistas, roupas que não usa há algum tempo, outros farão uso apropriado deles;
Ao ficar tentado em estacionar em vagas preferenciais, a parar em faixa de pedestre ou jogar uma sacola plástica pela janela do carro, tenha em mente que você não é único, que outros vivem e dependem desse planeta.
Se for pra seguirmos modinhas, que sejam as que nos levará a sobreviver por mais tempo nesse planeta. E vivermos bem, eu digo!
Reafirmo aqui o que disse naquela época, sou a favor do modismo e sou politicamente correto, mesmo se isso fosse modismo. Dizer que sigo uma “modinha” não me ofende, pelo contrário, me elogia.
Marcelino Agostini
12 de setembro de 2013
Carla, reafirmo aqui que não vejo o fato de chamar alguém de moreninha seja “puro preconceito”. Uma observação do Evandro me fez refletir a respeito, e realmente acredito que teria sido mais apropriado a pessoa do exemplo em questão referir-se à outra pelo nome, e não por características físicas como a cor da pele. O que quero dizer a você e também ao Evandro é que essa questão do preconceito racial está tão incrustada na cultura brasileira e na mente das pessoas que aquelas que se dizem “vítimas” do preconceito não conseguem sequer aceitar a possibilidade de estarem sendo destratadas por qualquer outro motivo que não seja o preconceito em si. Você, por exemplo, que já morou no exterior, se eventualmente sentisse o desprezo ou indiferença por parte do povo de outro país, haveria de concordar que tais atitudea não seriam necessariamente atribuídas ao preocnceito à sua cor, mas poderia até ser pelo fato de ser brasileira. Por que não? Existem muitas nações que são intolerantes com estrangeiros. Mas veja bem só dei um exemplo. E claro, neste caso também seria um preconceito – a xenofobia. O que quero ilustrar com isso é que atualmente vivemos uma realidade em que há preconceitos tão grandes ou maiores que o racial. E na maior parte do tempo, “velados” também. Trabalho em contato direto com o público há mais de dez anos. Já fui desrespeitado pela minha estatura, pela minha forma de me vestir, pelo meu jeito de falar (não, não tenho sotaque, mas assumo aqui que tenho uma voz um pouco… diferente, rsrs). Por inúmeras vezes vi pessoas rirem de mim pelas costas, ou me imitando, e sabe de uma coisa? Não me deixei abalar. Imagine então ao assumir ser gay! Acredite, Carla, e o Evandro sabe disso tanto quanto eu, a homofobia vem sendo, na atualidade, o pior e mais perigoso dos preconceitos, pois ela é mais aceita pela sociedade, sendo inclusive difundida na TV e até em templos religiosos. Acha que eu não sei o que é preconceito velado? Sou casado com um rapaz, e ele é negro. Nós vivenciamos isso todos os dias. Já teve uma vez que um carro nos parou e o motorista nos “parabenizou” só porque nos demos as mãos. Essa expressão de surpresa pode ser tão ofensiva quanto a situação do Evandro, quando alguém demonstra surpresa por ele ser da Paraíba e ser uma pessoa culta. Não era para causar espanto. E é nesse ponto que quero chegar: a sociedade precisa se livrar das amarras da segregação racial. Cotas para os “menos favorecidos” apenas reafirmam a diferença racial, ao considerar que os afrodescendentes precisam de uma “ajuda extra” para se classificarem em concursos ou vestibulares. Nós sabemso que não são especificamente os negros, mas sim os mais pobres, aqueles que estudam em um sistema educacional precário, que precisam realmente de um incentivo do governo (como as cotas). Por favor, não quero ofendê-la com esse meu ponto de vista, mas quero encerrar dizendo que a sociedade só evoluirá e o preconceito so acabará no dia em que o ser humano olhar para o caráter e o “conteúdo” de seu semelhante, e não lançar esse olhar superficial, julgando-o pela cor, crença, roupa, ou pelo que ele faz em sua vida pessoal. Eu não me abalo com o preconceito velado que se escancara em minha frente todos os dias porque e pequeneza das pessoas só me fortalece. É quando digo para Deus: “Obrigado por não me deixar ser uma pessoa assim”
Carla Betta
12 de setembro de 2013
Não estou ofendida em nada e por nada. No fundo, estamos concordando. Estamos nos enriquecendo neste debate. Para além da análise que pretendemos, estamos comentando do que nos afeta pessoalmente.