O sociólogo e o articulista. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 18 de setembro de 2013 por

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É com prazer que iniciei uma coluna semanal na Tribuna Piracicabana. Já há muito tempo colaboro com a imprensa em geral, e agora o faço em uma coluna semanal neste diário. Algumas pessoas, que acompanham meus artigos, costumam se perguntar “qual é a minha” ou, em outras palavras, a que grupo, partido ou corrente política eu pertenço. Já ouvi “estórias” de que sou “pago” por políticos e movimentos sociais para escrever. Também já ouvi, muitas vezes, que serei candidato a algum cargo político. Enfim, é muito curioso, mas quando alguém se dispõe e se comunicar, de maneira um tanto crítica e reflexiva como eu tento fazer, em geral as pessoas desconfiam de algum “sentido ou intenção ocultos”. Não as culpo. Não é nada incomum mesmo que aconteça de pessoas escreverem em jornais exatamente por tais motivos: candidaturas, defesa de uma corrente política para receber favores e até mesmo por ter algum vínculo financeiro com alguma entidade. Aliás, conheço inclusive alguns jornalistas que “alugam a caneta”, escrevem artigos para políticos e candidatos que não são capazes, eles próprios, de escreverem.

Não tenho a pretensão de convencer o leitor de que sou uma “caneta livre” (ou melhor, hoje seria mais adequado dizer um ‘teclado livre’). Por mais que eu tente fazer isto, o julgamento não compete a mim, mas a quem lê e acompanha minhas atitudes. Mas por que escrever? Qual a função de um articulista? No meu caso, está relacionado à minha função enquanto sociólogo. As Ciências Sociais tentam entender e interpretar o mundo humano e seus fenômenos, porém não constituem uma proposta de mudança em si. Entender fenômenos sociais significa que você pode, sim, utilizar o que aprende para “tentar” promover mudanças positivas na sociedade, mas por outro lado, se quiser, também pode usar os conhecimentos para o oposto, para manter as coisas como estão ou até torná-las piores, mas no interesse de alguém ou algum grupo que o pague para isto. O caminho é escolha sua.

Mas no caso de escolher o positivo, a mudança para melhor, como fazê-lo?  Cheguei a conclusão que o grande papel de mudança, dentro dos limites pessoais, que um sociólogo pode exercer, é o de professor. E ser professor não é apenas ensinar conteúdos técnicos, mas também, e principalmente, estimular os alunos à crítica e a reflexão. Um professor não é alguém que reproduz um conhecimento imutável, até porque o conhecimento sempre evolui, mas alguém que incentiva e proporciona condições para que seus alunos pensem por si próprios, reflitam o mais livremente possível e com a maior clareza possível. E isto, por sua vez, significa, nas palavras de um grande sociólogo já falecido, educar para a razão e para a liberdade. Mais ainda, significa defender que razão e liberdade são valores universais e adequados a todos os seres humanos. Manter algumas pessoas na ignorância e na aceitação passiva da realidade social, política e econômica e ensinar somente a alguns, é uma forma de manter as desigualdades e opressões. Mas estimular a todos a buscarem a liberdade através de análises racionais, é promover a mudança e o bem comum. Esta é minha função, penso eu, como sociólogo e professor e os meus escritos, como os artigos que publico aqui, são uma tentativa de levar minha função para além da sala de aula. Não que eu deseje que os leitores sejam meus alunos, mas sim que desejo refletir com eles assim como tento fazer com meus alunos.

Muitas vezes isto significa ser crítico e até mesmo debater publicamente com alguém ou algum grupo. Em outras vezes significa defender sim propostas e grupos. Mas, pelo menos no meu caso, nunca significa que estou apoiando ou criticando alguém por outro interesse senão os que eu expus acima.

Espero que nesta minha parceira com a Tribuna Piracicabana, isto possa ficar cada vez mais claro. Se não ficar, reflita, pense, e me questione…

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