
Fonte da imagem: http://www.liveinternet.ru/journalshowcomments.php?jpostid=153572106&journalid=4236657&go=next&categ=0
Alguns anos atrás, entrando na sala de aulas da faculdade após o “dia das crianças”, perguntei, brincando, o que os alunos ganharam de presente pelo “seu dia”. Para minha surpresa uma garota de vinte e tantos anos, disse que ganhara “somente um chinelinho”. Disfarçando o espanto, pedi que, aqueles que haviam sido presenteados, levantassem a mão. Outro “susto”, quase um quarto da turma as ergueu. E era, só para lembrar, uma turma da faculdade. O mais jovem ali devia ter uns dezoito anos. E ganharam presentes de “dia das crianças”…
Está bem. Para nossos pais, independente de nossa idade, sempre seremos um tanto “crianças”. Você pode ter 50 anos, mas seu pai de 80 vai pensar em você lembrando-se da criança que ele carregava no colo. É uma memória afetiva normal, embora às vezes incômoda. No entanto, o fato de alguns de meus alunos terem sido presenteados no dia das crianças, faz parte de outro tipo de fenômeno, a manutenção da infância ou de atitudes infantis até a idade adulta pela sociedade de hiper-consumo. Alguns autores usam o termo “kidults”, uma contração das palavras criança (kid) e adulto (adult) em inglês para definir este fenômeno. Ocorre que quanto mais infantil você for ao comprar ou ao desejar (e até mesmo exigir) presentes, mais a indústria vai vender e escoar a produção. Daí incentivar, através da propaganda e outros recursos midiáticos, a eterna infantilização do indivíduo, que deseja e acha normal ser, inclusive, presenteado pelos seus pais no dia das crianças, mesmo já tendo vinte anos.
Você pode argumentar que todos nós desejamos bens, agrados e presentes, daí o comportamento infantil não seria uma criação de marketing e sim algo normal do ser humano. Mas não é bem assim. Um adulto compreende (ou deve compreender) uma série de limitações e prioridades da vida. Ele deve ser capaz de distinguir aquilo que lhe é mais importante adquirir daquilo que é supérfluo. Para um adulto, a segurança financeira de ter uma poupança para emergências deve ser mais relevante do que adquirir produtos o tempo todo e cuja utilidade não é tão relevante assim. Quando, porém, ele é “infantilizado” ou mantido em estado infantil pelo marketing, o cálculo de prioridades fica deturpado. Comprar ou ganhar (onerando aos outros) algo não prioritário passa a ser mais importante do que guardar o dinheiro para a aquisição de algo mais relevante, como, por exemplo, um imóvel. E não é só isto. No momento em que assumimos um comportamento consumista infantilizado, tendemos a ser menos resistentes às frustrações. Aquilo que não conseguimos obter ou aqueles fatos que contrariam nossa vontade (as frustrações da vida) nos irrita e exaspera desproporcionalmente. Tendemos a reagir como crianças contrariadas e birrentas ao invés de agir como “gente grande”.
E o que significa agir como adulto diante das frustrações da vida? Ser passivo ou aceitar tudo o que nos incomoda? Penso que não. Penso que ser adulto significa, dentre muitas outras coisas, ser capaz, em primeiro lugar, de distinguir aquilo que é uma dificuldade ou frustração real daquilo que é uma frustração “construída” ou irreal. Um adulto não se irrita diante da impossibilidade de comprar um carro do último modelo, por exemplo, principalmente se este carro tiver características e equipamentos desnecessários. Para que, como outro exemplo, tantas pessoas adquirem camionetes possantes, com caçamba e rodas capazes de vencer a lama, se não saem da cidade, não transportam cargas e nem vão enfrentar uma estrada de lama? Uma criança responderia “porque eu quero”, mas um adulto deveria ser capaz de dizer “eu não preciso disto”. Em segundo lugar, penso que ser adulto significa ser capaz de perseguir seus objetivos e superar as dificuldades com disciplina, paciência e esforço. Faz parte da natureza infantil ser imediatista, mas ao adulto compete compreender o tempo necessário para atingir seus objetivos e se esforçar para isto. Se, no entanto, somos mantidos numa situação infantilizada, tendemos a esquecer a paciência da construção e optarmos somente pelos “caminhos mais fáceis”. Mas, será que só existem caminhos fáceis na vida?
No dia das crianças, lembre-se de sua infância, mas não se esqueça de ser um adulto. Respeite o universo infantil, mas não se esqueça de ajudar seus filhos a crescer.
Jordi
9 de outubro de 2013
achei ruim, achei o que voce fala de adulto dentro do senso comum, achei inclusive que voce fala mais de voce e nao do que ser adulto pode ser ou nao.
precisa de reflexão professor. postar o textinho escrito entre a cagada da manha do domingo e o almoço é bem menos do que voce pensa. assim como o conteudo dele.
voce como bom doutor sabe que as reflexões sobre geração, genero, sexualidade são mais que meras reflexões antes do chá da tarde, assim como o campo o do consumo que não é essa paçoca de senso comum.
muito fraco.
blogdoamstalden
9 de outubro de 2013
Jordi (ou André?), este blog é um local de reflexão e debates. Você tem o direito de achar que o texto foi fraco e de dizer isto aqui. Mas os termos que você usa não são exatamente cordiais, pelo menos é o que eu acho. Sua resposta, também, a meu ver foi fraca. Não expõe argumentos, só denigre o texto. Logo, eu não creio que valha a pena responder e/ou debater com você, nem citar a fonte das idéias (ethos adulto x ethos infantil) e a respectiva bibliografia. Pena. Poderíamos ter discutido civilizadamente.
Obrigado, por “abrilhantar” o Blog…
blogdoamstalden
9 de outubro de 2013
Ah, esqueci de dizer. Não perca tempo comentando de novo nos termos em que o fez. Eu vou deletar o próximo. Só mantenho este para fins ilustrativos…
Carla Betta
12 de outubro de 2013
Espero mesmo que vc delete, Amstalden, porque aos leitores é ofensivo críticas nestes termos. Quanto ao texto…. eu vou discuti-lo depois, possivelmente com um artigo.
Helena de Campos
9 de outubro de 2013
Nós já temos uma eterna criança dentro de nós. É essa criança que fica guardada para os momentos propícios, essa que deixa os nossos momentos felizes, que apossa rapidamente dos presentes sem medo de rasgar os embrulhos!
Daisy Costa
10 de outubro de 2013
Onde chegaremos? O capital e sua podre publicidade determinando nossa vida: ‘infantilização dos adultos’ versus ‘adultização das crianças’…
Alexandre Diniz
10 de outubro de 2013
Valeu professor! Gostei da reflexão.
Eu concordo que críticas podem ser feitas. Sócrates discutia veementemente com os sofistas. Porém como o senhor mesmo mencionou, é importante um embasamento nas críticas (e acesso à informações é o que não falta hoje em dia). O que falta é vontade das pessoas de lerem um pouco mais.
Abraços!!
acescorcioAndrea
5 de novembro de 2013
Pois é, quando eu era criança só ganhava presente no Natal e nem por isto cresci frustrada, também existiam os comerciais da Estrela e muitos amiguinhos meus tinham muito mais do que eu materialmente. Acredito que seja culpa dos pais o que as crianças fazem hoje, criança hoje não pode ser frustrada se não “quebra”. Então, vamos quebrar os pais no bolso e depois aguentar mi mimi de adulto idiota qdo crescerem, não serão capazes de lidar com situações adversas. pais: desliguem a TV e participem mais da vida dos seus filhos.
Anônimo
5 de novembro de 2013
Nossa !esse rapaz ,o Jordi , q comentou primeiro e usou palavras chulas eh extremamente mal educado , como alguem sem nenhuma educacao possa ser capaz de comentar um texto se eh esperado q gente com essa postura nao saiba nem ler ? Bem a proposito , o texto eh bonzinho mas… nao traz muita novidade para pessoas q estao sempre ligadas , eh uma critica , q se fosse definir o texto em temperatura eu diria q eh morno .
Suzane Lindoso
5 de novembro de 2013
Muito boa sua reflexão. Os pais têm, falhado bastante na sua tarefa de educar, não incentivando o crescimento emocional. Gosto de ler seus textos.
Rafael Giuliano
5 de novembro de 2013
Olá Amstalden, boa tarde!
Encontrei seu blog por “acidente” feliz, numa indicação de leitura de algum contato das redes virtuais.
Sua reflexão, simples e direta, com certeza encontra “eco” numa série de fenômenos sociais observáveis, o que por si daria um excelente debate sobre o atual, porém cíclico, comportamenta das pessoas, não de “gerações”, gêneros ou quaisquer outros elementos de “exclusividade”, mas da humanidade.
Você, por um acaso, já teve a oportunidade de ler “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley? Sei que se trata de uma ficção, porém, a trama foca, entre outros aspectos, a infantilização das pessoas, a fim de garantir o consumo contínuo de bens e o “perfeito funcionamento” da sociedade civilizada. Adoraria discuti-lo, se for oportuno.
Mais uma vez, parabéns pelo texto.
Com apreço,
Rafael Giuliano
fabitami
5 de novembro de 2013
Você colocou em seu texto: “Quando, porém, ele é “infantilizado” ou mantido em estado infantil pelo marketing,”
Não é o marketing propriamente quem dita ou cria ou mantém a sociedade num estado de “infantilidade”. Trata-se de um fenômeno social, sim explorado pelo mercado, afinal, o marketing apenas verifica o perfil dos consumidores e busca meios de se comunicar e atender aos seus anseios. O profissional de marketing (assim como o de propaganda) não cria as necessidades. Ele estuda o cenário e trabalha com os anseios percebidos. Pode, no máximo, estimular uma “necessidade” latente. Este comportamento “infantil” tem muito mais a ver com a evolução da própria sociedade em cada geração e a maneira como cada geração “ensinou” aos seus filhos o que é viver. Esse artigo do blog Demografia Unicamp deve explicar melhor essa “infantilização”. http://demografiaunicamp.wordpress.com/2013/10/30/porque-os-jovens-profissionais-da-geracao-y-estao-infelizes/
Só uma observação: quando eu estava na faculdade, eu costumava, de brincadeira, presentear meu namorado no dia das crianças e vice-versa. Mas nunca ganhei presente de dia das crianças dos meus pais depois dos meus 15 anos… Será que essa parte dos seus alunos não ganhou presentinhos assim?
Rafael Giuliano
6 de novembro de 2013
Olá Fabi,
Sei que seu comentário não foi dirigido a mim, porém, adorei suas considerações e provocações.
Desejo contribuir com uma reflexão a respeito do condicionamento. Ainda hoje publiquei em minhas redes virtuais que estou trabalhando numa nova Teoria Social Apreciativa sobre o que chamo de “Condicionamento por Reforço do Mainstream”, realizado quando compartilhamos algo, disseminando uma mensagem com repercussões danosas, na maioria das vezes. Ideia que me surgiu durante um diálogo a respeito de “coolhunting” e de como reforçamos demandas e “tendências”.
Ainda estou elaborando melhor esta nova TSA, a partir de algumas observações, porém, posso lhe dizer que a soma de algunas tendências sociais às intervenções midiáticas têm promovido comportamentos que não são totalmente naturais.
Acredito que temos reforçado certas mensagens provocando, talvez, elementos não tão valorosos das pessoas e da sociedade.
Tomara que tenhamos a oportunidade de dialogar mais sobre este tema.
Com apreço,
Rafael Giuliano
fabitami
26 de dezembro de 2013
Puxa Rafael, faz um tempão que estou tentando te responder – achei bem legal você comentar (e de forma tão educada) a minha resposta. Eu havia começado a escrever; parei; recomecei, estava na metade, parei de novo. Sempre recomeçava de onde havia parado. Quando finalmente consegui finalizar minha resposta, deu erro ao enviar. Fiquei frustrada comigo, porque a resposta havia ficado tão legal!
Vou tentar lembrar o que havia respondido. Resumidamente eu concordo que há sim essa influência que você citou. Basta pensar nos governantes populistas, por exemplo, que utilizam estratégias de comunicação com foco na manipulação popular. Se não funcionasse, não usariam, certo? Vejo as novas tecnologias apenas como catalisadores destas estratégias. O problema é que, com a velocidade, novas consequências surgem – para o bem e para o mal. Basta lembrar o caso daquela escolinha em que os donos foram acusados de pedofilia e, no final, ficou mais do que provado que eles eram inocentes. A prova de inocência, porém, não serviu para apagar os danos causados. Até hoje sofrem com as consequências da imprudência jornalística.
Achei interessante esse seu trabalho. Mas gostaria de enfatizar que uma sociedade é formada por pessoas que crescem sustentadas por valores que vêm de diferentes fontes. A principal, ainda, é a doméstica, da sua relação com os pais (ou figuras substitutas), seguida pelas experiências na vida escolar. Uma influência externa vai se deparar antes com estes valores. Mas se a criança de hoje não tiver uma boa orientação em casa (antes de tudo), será um alvo fácil para as estratégias de marketing, quaisquer que sejam as suas origens e intenções.
Bem, no final ficou diferente do que eu disse antes. Ficou “mais ou menos”, mas acho que passa a mensagem.