
Fonte da Imagem: http://wp.clicrbs.com.br/meufilho/2012/12/17/o-que-fazer-quando-o-filho-leva-%E2%80%98bomba%E2%80%99-na-escola/
Por estes dias de provas e trabalhos finais, eu conversava com um amigo e colega sobre aprovações e reprovações. Ele me confidenciou que não costumava reter (ou reprovar) seus alunos. Em sua visão, um evento destes pode desestimular o estudante e estigmatizá-lo como um “perdedor”, um incapaz e, conseqüentemente, interromper um processo que leva o aluno ao crescimento. Para meu amigo, assim como para muitos pedagogos, o ritmo em que uma pessoa aprende é diferente para cada indivíduo e, o fato de alguém não atingir um nível mínimo de conhecimento em uma disciplina em um período, não significa que, em primeiro lugar, esta pessoa não aprendeu nada. Algo ele teria aprendido e isso não é matematicamente mensurável, daí a reprovação ser sempre “arbitrária”. Em segundo lugar, um aluno pode, hoje, dependendo do seu ritmo de desenvolvimento, não alcançar o mínimo requerido, porém, no futuro próximo, o próprio processo individual seria capaz de levá-lo ao amadurecimento intelectual de modo que ele seria capaz de suprir, sozinho, a falha de não ter aprendido antes. Logo, novamente, não haveria sentido em retê-lo, uma vez que teria condições próprias de aprender desenvolvidas na própria vivência escolar.
Eu concordo com ambas as ideias. Acredito sim que cada indivíduo tem um ritmo e um processo próprio de crescimento intelectual e aprendizado. Também acredito que é difícil estabelecer critérios neutros de avaliação e que, no fundo, sempre corremos o risco da arbitrariedade. Mas também acredito que existem outras questões envolvidas que tornam a retenção ainda uma necessidade.
Aqui não é possível expor todos os motivos pelos quais penso assim. Mas uma questão que posso apontar agora é a do incentivo ou não ao processo de amadurecimento. Um jovem estudante precisa ser estimulado ao conhecimento, ao crescimento intelectual. Parte deste estímulo cabe ao professor fornecer, tornando a aula mais dinâmica, interessante e instigante. Mas a outra vem da determinação de uma meta, um nível mínimo de conhecimento que se estipula. A determinação desta meta é, a meu ver, também um instrumento de incentivo. De uma maneira geral, todos nós e os jovens em particular, temos coisas mais gostosas de fazer do que estudar. Podemos assistir filmes, jogar no computador, namorar, sair com os amigos, praticar esportes etc. Enfim, a tarefa de estudar e mesmo de prestar realmente a atenção nas aulas, tem concorrentes muito fortes. E, humanamente, é fácil cair na tentação de deixar o mais difícil para depois e “curtir” algo mais agradável agora. Eu mesmo vivi este processo enquanto aluno e vivo ainda hoje enquanto professor e indivíduo. Às vezes é tão difícil me disciplinar para corrigir uma prova, preparar uma aula ou até mesmo realizar uma tarefa doméstica. Mas preciso fazer tudo isto, preciso assumir a responsabilidade sobre minha vida, caso contrário, vou estancar, ficar parado e sofrer as conseqüências. Da mesma forma, se um aluno não tem uma meta, um mínimo, uma responsabilidade obrigatória, a chance de que ele deixe o estudo para depois é muito grande. A prova é isto, uma meta, um chamado à responsabilidade que vai ser cobrada por toda a vida. A retenção, por sua vez, não é uma punição, mas um revés, sim, causado ou por uma dificuldade pessoal ou por uma falta de interesse e esforço. Se alguém é automaticamente aprovado, seja lá o que tiver ou não feito, de que forma vai se disciplinar para o futuro e compreender que vai sempre colher o que plantar? Alguns alunos de maturidade excepcional fazem isto. Estudam e aprendem espontaneamente. Para estes, fazer provas não costuma ser um problema, já que estão preparados de qualquer modo. Minha experiência de 27 anos de docência, me diz que a grande maioria não é retida por dificuldades, mas por absoluta falta de interesse, agravada, hoje, pela falta de cobrança a responsabilidade de estudar.
Mas, e no caso daqueles que têm dificuldades? A retenção não cria desestímulo? Penso que sim, que desanima. Mas todo revés tende a nos desanimar. Crescer pessoalmente é compreender que temos limitações, mas que estas podem ser sempre amenizadas e/ou superadas. Logo, quando um aluno é retido, está sofrendo uma frustração. Mas também está compreendendo um mecanismo universal da vida: os limites e sua ultrapassagem. Cabe ao professor e à escola em geral, ensinar também esta lição: a de que uma retenção não é um castigo, mas um limite a ser vencido. O que não pode acontecer é a discriminação ao retido. Ele precisa, ao contrário, ter mais atenção por parte do professor no próximo período. Voltando ao início do texto, acredito que as pessoas se desenvolvem em ritmo próprio, mas precisam ser estimuladas a isto. Não reprovar não me parece ser o estímulo adequado. Ao contrário, parece-me ser, muitas vezes, uma manobra para os governos e instituições que mantêm escolas ruins, manterem as aparências de que o povo está sendo educado.
Anônimo
11 de dezembro de 2013
Caro amigo Amstalden gostei muito do texto e das idéias nele inseridas. Acredito que nos falta este tipo de dicussão. Nem sei a quanto tempo não presencio este tipo de discussão na instituição onde trabalho. Na minha opinião estamos passando por tempos difíceis, principalmente pela falta de interesse dos iniciantes da “carreira universitária”, e isso vem se agravando. O que me preocupa, na realidade, é a nossa incapacidade de lidar de forma adequada com tudo isso, resultando em profissionais de formação questionável, seja pela oferta de condições ruins, seja pela “matéria-prima” de baixa qualidade que nos é fornecida pelo ensino médio. Nesse contexto fica difícil discutirmos metodologia de avaliação.
Valéria Pisauro
11 de dezembro de 2013
Pois é, Amstalden, esse texto lembro-me uma fala da nossa querida Dille: “Escola não é shopping, o aluno desde cedo, tem que aprender ter responsabilidades….”
Abraços.
Tainá
11 de dezembro de 2013
Eu tenho um primo de 14 anos que na 6ª série (12 anos) ele foi reprovado.
Eu tenho certeza que a reprovação foi importante para o crescimento dele, porque ele relaxou o ano inteiro, era o dia inteiro computador e video game.
E os pais avisaram que se ele fosse reprovado o único prejudicado seria ele. E foi o que aconteceu, ele estava triste porque os amigos estavam em outra sala e agora em 2013 os amigos estão se formando na 8ª série e ele não.
O importante é que ele sentiu na pele, precisou passar pelo sofrimento para crescer, e no ano passado quando ele terminou a 6ª série (13 anos), a mesma Coordenadora que deu a noticia de que ele havia reprovado, foi a mesma pessoa que o presentou com a boa noticia, ela mesma fez questão de parabeniza-lo pela dedicação aos estudos.
A reprovação deixa triste, desanima…mas acho que é mais positiva do que negativa.
É claro que tem pessoas com dificuldades para aprender, mas sempre temos onde buscar ajuda, seja com colegas, professores…enfim.
O fato é que hoje em dia a falta de interesse é muito maior do que a dificuldade em aprender.
Evandro Mangueira
11 de dezembro de 2013
Para mim, (aluno) o problema é da educação, ela é muito desinteressante, além disso temos que aprender coisas totalmente fora da realidade e com metodologia jurássica. A escola deveria já conduzir o aluno a um nicho da educação desde cedo. Quem gosta de exatas tem mesmo que estudar biologia? Quem gosta de biologia tem mesmo que estudar geografia? Acredito que ao obrigar todos ficarem na mesma sala faz com que o aluno que goste da matéria não se dedique, perca o foco e termine desanimando de aprender. Creio que em uma sala onde só tivesse alunos interessados em matemática as aulas de cálculos renderiam muito mais. Não gosto de provas, alunos pagam para outros fazerem, tem os aparelhos celulares que tiram fotos, enviam e recebem a resposta em questão de segundos, sem falar que muitos alunos não conseguem interpretar,um erro claro de português e lógica. Acho que provas não seriam necessárias se os alunos que cursavam as matérias fossem os que gostam efetivamente delas, teriam mais prazer ao aprender. Ainda existem as universidades que não preparam o profissional para a área que atuará, no máximo prepara para se tornar um acadêmico. Cursos fora da realidades, cheios de teorias. Não creio q a culpa seja só do aluno.
Carla Betta
12 de dezembro de 2013
Excelente reflexão!