Os Professores e a Retenção. Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 11 de dezembro de 2013 por

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Por estes dias de provas e trabalhos finais, eu conversava com um amigo e colega sobre aprovações e reprovações. Ele me confidenciou que não costumava reter (ou reprovar) seus alunos. Em sua visão, um evento destes pode desestimular o estudante e estigmatizá-lo como um “perdedor”, um incapaz e, conseqüentemente, interromper um processo que leva o aluno ao crescimento. Para meu amigo, assim como para muitos pedagogos, o ritmo em que uma pessoa aprende é diferente para cada indivíduo e, o fato de alguém não atingir um nível mínimo de conhecimento em uma disciplina em um período, não significa que, em primeiro lugar, esta pessoa não aprendeu nada. Algo ele teria aprendido e isso não é matematicamente mensurável, daí a reprovação ser sempre “arbitrária”. Em segundo lugar, um aluno pode, hoje, dependendo do seu ritmo de desenvolvimento, não alcançar o mínimo requerido, porém, no futuro próximo, o próprio processo individual seria capaz de levá-lo ao amadurecimento intelectual de modo que ele seria capaz de suprir, sozinho, a falha de não ter aprendido antes. Logo, novamente, não haveria sentido em retê-lo, uma vez que teria condições próprias de aprender desenvolvidas na própria vivência escolar.

Eu concordo com ambas as ideias. Acredito sim que cada indivíduo tem um ritmo e um processo próprio de crescimento intelectual e aprendizado. Também acredito que é difícil estabelecer critérios neutros de avaliação e que, no fundo, sempre corremos o risco da arbitrariedade. Mas também acredito que existem outras questões envolvidas que tornam a retenção ainda uma necessidade.

Aqui não é possível  expor todos os motivos pelos quais penso assim. Mas uma questão que posso apontar agora é a do incentivo ou não ao processo de amadurecimento. Um jovem estudante precisa ser estimulado ao conhecimento, ao crescimento intelectual. Parte deste estímulo cabe ao professor fornecer, tornando a aula mais dinâmica, interessante e instigante. Mas a outra vem da determinação de uma meta, um nível mínimo de conhecimento que se estipula. A determinação desta meta é, a meu ver, também um instrumento de incentivo. De uma maneira geral, todos nós e os jovens em particular, temos coisas mais gostosas de fazer do que estudar. Podemos assistir filmes, jogar no computador, namorar, sair com os amigos, praticar esportes etc. Enfim, a tarefa de estudar e mesmo de prestar realmente a atenção nas aulas, tem concorrentes muito fortes. E, humanamente, é fácil cair na tentação de deixar o mais difícil para depois e “curtir” algo mais agradável agora. Eu mesmo vivi este processo enquanto aluno e vivo ainda hoje enquanto professor e indivíduo. Às vezes é tão difícil me disciplinar para corrigir uma prova, preparar uma aula ou até mesmo realizar uma tarefa doméstica. Mas preciso fazer tudo isto, preciso assumir a responsabilidade sobre minha vida, caso contrário, vou estancar, ficar parado e sofrer as conseqüências. Da mesma forma, se um aluno não tem uma meta, um mínimo, uma responsabilidade obrigatória, a chance de que ele deixe o estudo para depois é muito grande. A prova é isto, uma meta, um chamado à responsabilidade que vai ser cobrada por toda a vida. A retenção, por sua vez, não é uma punição, mas um revés, sim, causado ou por uma dificuldade pessoal ou por uma falta de interesse e esforço. Se alguém é automaticamente aprovado, seja lá o que tiver ou não feito, de que forma vai se disciplinar para o futuro e compreender que vai sempre colher o que plantar? Alguns alunos de maturidade excepcional fazem isto. Estudam e aprendem espontaneamente. Para estes, fazer provas não costuma ser um problema, já que estão preparados de qualquer modo. Minha experiência de 27 anos de docência, me diz que a grande maioria não é retida por dificuldades, mas por absoluta falta de interesse, agravada, hoje, pela falta de cobrança a responsabilidade de estudar.

Mas, e no caso daqueles que têm dificuldades?  A retenção não cria desestímulo? Penso que sim, que desanima. Mas todo revés tende a nos desanimar. Crescer pessoalmente é compreender que temos  limitações, mas que estas podem ser sempre amenizadas e/ou superadas. Logo, quando um aluno é retido, está sofrendo uma frustração. Mas também está compreendendo um mecanismo universal da vida: os limites e sua ultrapassagem. Cabe ao professor e à escola em geral, ensinar também esta lição: a de que uma retenção não é um castigo, mas um limite a ser vencido. O que não pode acontecer é a discriminação ao retido. Ele precisa, ao contrário, ter mais atenção por parte do professor no próximo período. Voltando ao início do texto, acredito que as pessoas se desenvolvem em ritmo próprio, mas precisam ser estimuladas a isto. Não reprovar não me parece ser o estímulo adequado. Ao contrário, parece-me ser, muitas vezes, uma manobra para os governos e instituições que mantêm escolas ruins, manterem as aparências de que o povo está sendo educado.

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